Por Tiago Pariz- Reuters-
BRASÍLIA, 27 Mar (Reuters) – O crédito retomou a trajetória de crescimento em fevereiro, mostrou o Banco Central nesta terça-feira, mas a inadimplência resiste em recuar, o que deve acontecer apenas a “médio prazo”. Com isso, as quedas da taxa básica de juros acabam não sendo repassadas com mais intensidade pelos bancos aos consumidores finais.
Depois de ter recuado 0,2 por cento em janeiro, o estoque total de crédito mostrou crescimento moderado de 0,4 por cento no mês passado. Ao mesmo tempo, a inadimplência média manteve-se em 5,8 por cento, estável em relação ao número revisado de janeiro -que era de 5,6 por cento.
Para pessoa física, os atrasos de pagamento com mais de 90 dias ficou em 7,6 por cento em fevereiro e em 4,1 por cento para empresas, também estáveis sobre janeiro.
O principal vilão, segundo destacou o chefe do departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, é o aumento do calote no segmento de pessoas físicas em financiamento de veículos adquiridos sobretudo em 2010, quando o crédito nessa modalidade cresceu 50 por cento.
“A inadimplência resiste em recuar, mantendo-se em patamares elevados sobretudo na parte de veículo. Espera-se que a no médio prazo isso caia”, afirmou Maciel, acrescentando que as instituições financeiras resistem em diminuir a taxa de juro com medo da inadimplência e por uma maior cautela em relação ao cenário internacional.
O técnico, no entanto, não detalhou o que seria “médio prazo” para o BC, limitando-se a dizer que a inadimplência deve recuar ao longo do ano.
No mês passado, a taxa média de juros teve alta de 0,1 ponto, para 38,1 por cento ao ano mas, em março até o dia 15, mostrava queda de 0,3 ponto, para 37,8 por cento ao ano.
Já para pessoa física, a alta nos juros foi de 0,3 ponto em fevereiro, para 45,4 por cento ao ano, enquanto que para as empresas tive queda de 0,1 ponto, para 28,6 por cento ao ano.
Desde agosto passado, o BC tem reduzido a Selic para estimular o consumo por meio do barateamento do crédito. Hoje, a taxa básica de juros está em 9,75 por cento ao ano e a tendência é de que ela continue recuando.
“O crescimento da economia, gerando emprego e renda, vai melhorar a capacidade de pagamento das pessoas, o que reverte inadimplência”, afirmou Maciel. “A flexibilização monetária contribui também para o custo de crédito mais baixo e a maior seletividade dos bancos na concessão de crédito também vão contribuir (para a queda no nível de calote)”, emendou.
Dados parciais de março também mostraram que o spread bancário -diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada aos clientes finais- permanecia em 28,4 pontos percentuais, mesmo patamar de fevereiro fechado.
O governo está determinado em reduzir os spreads usando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. Ou seja, quer que os bancos estatais reduzam os preços dos empréstimos para forçar que seus concorrentes façam o mesmo, como ocorreu em 2008 e 2009, no auge da crise financeira.
VEÍCULOS
No mês passado, a inadimplência de pessoa física em financiamento de veículos subiu 0,2 ponto, para 5,5 por cento, a maior taxa da série histórica do BC, ao lado de junho de 2009.
E a tendência nesse segmento é de expansão do calote porque o dado de prestação de financiamento vencida de 15 a 90 dias subiu de 8,1 por cento, em janeiro, para 8,4 por cento no mês passado.
A maior dificuldade que as pessoas estão tendo para pagar as prestações do carro ocorre justamente no momento em que o governo discute maiores estímulos ao crédito neste setor, como informou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, nesta segunda-feira.
Depois de crescer a taxas de 50 por cento em 2010, o governo impôs medidas macroprudenciais para conter o avanço dos financiamentos para compra de veículos e outras modalidades, a fim de evitar que os calotes aumentassem. Parte dessas ações já foi retirada.
Em novembro do ano passado, o BC reduziu a exigência de capital para instituições financeiras com operações e carteira com prazo inferior a 60 meses voltadas a pessoas físicas. Ao mesmo tempo, a autoridade monetária obrigou os bancos a terem mais capital para compensar carteira de empréstimos de longo prazo, com a preocupação de evitar crescimento na inadimplência.
CRÉDITO
Depois de recuar em janeiro, o crédito voltou a se expandir chegando a 48,8 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou 2,035 trilhões de reais em fevereiro. No primeiro mês do ano o crédito total disponibilizado pelo sistema financeiro havia registrado a primeira queda desde fevereiro de 2009, em razão de fatores sazonais e também, do mercado cambial.
Este ano, na previsão do BC, o estoque do crédito deve ter crescimento de 15 por cento sobre 2011, quando o volume subiu 19 por cento. A autoridade monetária tem reforçado que a expansão desses recursos disponíveis não carrega riscos inflacionários.
(Reportagem adicional de Maria Carolina Marcello)