Uma mulher quando escolhe uma roupa, pretende embelezar-se para que a imagem que tem de si mesma lhe pareça tão bonita quanto como se veste
Se você veste um avental branco que acredita pertencer a um médico, sua habilidade para prestar atenção aumenta drasticamente. Mas se você usar o mesmo avental branco acreditando que pertence a um pintor, você não mostrará essa melhoria. A roupa é indissociável do ser humano. Ele a usa como proteção das intempéries, mas também como complemento de sua personalidade. Ele a escolhe e age de acordo com seu entendimento sobre seu significado.
Após alguns estudos, cientistas relataram um fenômeno a que chamam cognição indumentária: os efeitos de roupas sobre os processo cognitivos. Para o professor da escola Kellogg de Administração da Universidade Northwestern, Adam D. Galinsky, responsável por liderar o curso, não é o suficiente ver o avental de um médico pendurado na sua porta. O efeito ocorre apenas se você realmente vesti-lo e souber o seu significado simbólico que os médicos tendem a ser cuidadosos, rigorosos e atentos.
Os resultados no site do periódico The Joournal of Exeperimental Social Cognition mostram uma reviravolta em um crescente campo científico chamado cognição incorporada. Galinsky afirma que pensamos não apenas com o cérebro, mas com o corpo e que nossos processos de pensamento são baseados em experiências físicas que desencadeiam conceitos abstratos associados. Agora parece que essas experiências incluem as roupas que vestimos.
De acordo com o psicólogo Adenauer Novaes, a roupa é indissociável do ser humano. Ele a usa como proteção das intempéries, mas também como complemento de sua personalidade. Ele a escolhe e age de acordo com seu entendimento sobre seu significado: “Vestir-se é um ritual que garante certa performance frente à realidade.
O cavaleiro medieval quando usava sua armadura, protegia-se de seus inimigos como também se sentia, dentro dela, poderoso e invencível. Uma mulher quando escolhe uma roupa, pretende embelezar-se para que a imagem que tem de si mesma lhe pareça tão bonita quanto como se veste. A roupa que vestimos forma o ideal de “persona” que queremos mostrar ao mundo para que nos adaptemos a ele e possamos resolver todos os processos que venhamos a enfrentar”, afirmou.
Há muito tempo se sabe que a roupa afeta a forma como os outros nos veem, bem como a forma como pensamos sobre nós mesmos. Alguns experimentos mostraram que as mulheres que se vestem de forma masculina para uma entrevista de emprego são mais propensas a serem contratadas, e um auxiliar que usa roupas formais é percebido como mais inteligente do que aquele que se veste mais casualmente.
Mas a questão mais profunda, de acordo com os pesquisadores, é se a roupa que você usa afeta seus processos psicológicos. A sua roupa altera a forma como você se aproxima e interage com o mundo? De acordo com Galinsky, as roupas invadem o corpo e o cérebro, colocando o usuário em um estado psicológico diferente. Após algumas experiências com alguns estudantes, o professor decidiu se vestir como um cafetão, com um chapéu fedora, casaco longo e bengala: “Quando entrei na sala, eu deslizava. Senti uma presença muito diferente”.
Mas o que acontece, se você vestir roupas de cafetão todos os dias? Ou o hábito de um padre? Ou o uniforme de um policial? Você se acostumará, de modo que as alterações cognitivas não ocorram? Será que os efeitos desaparecerão? Para Galinsky, mais estudos são necessários.
“Com uma determinada roupa, alteramos nossa personalidade e nossa disposição para nos mostrar mais do que acreditamos que somos, melhorando, assim, nosso desempenho. A roupa forja uma nova personalidade bem como apresenta o ideal de pessoa que somos. Sem o jaleco, o paciente nem sempre enxerga o médico que lhe curaria. O médico, por saber disso, não dispensa sua indumentária-padrão”, acrescentou Adenauer.
Ainda em declarações, o psicólogo afirma que a roupa influencia sim na disposição, no desempenho e na forma como somos vistos pelos outros. Ela altera a configuração cerebral porque influencia a mente em primeiro lugar: “Nossa mente dita o que ocorre com nosso cérebro. É a mente e seus processos que influenciam o cérebro”, concluiu.
Fonte: Tribuna da Bahia – Por Amanda Sant’ana
Imagem: Google