Mudanças à vista – ou melhor, à mesa – espreitam nossos hábitos alimentares, dos mais cotidianos aos mais requintados. Confira sete alimentos que podem desaparecer nas próximas décadas devido à elevação da temperatura e de eventos climáticos extremos
CHOCOLATE? SÓ A PREÇO DE OURO
Um estudo do Centro Internacional de Agricultura Tropical (CIAT, na sigla em espanhol), na Colômbia, sugere que este produto milenar, se não for “extinto”, corre o risco de se tornar escasso em quatro décadas, tornando-se artigo de luxo com preço nada doce.
A elevação de 2 a 3 graus Celsius na temperatura do planeta – o que segundo os cientistas, deve acontecer até 2050, se não forem mitigadas as emissões globais de CO2 – pode causar danos irreversíveis nas principais regiões de cultivo de cacau: Gana e Costa do Marfim, que juntos respondem por 2/3 da produção mundial do fruto.
Encomendada pela fundação Bill & Melinda Gates, a pesquisa mostra que, para fugir do calor, os fazendeiros estão começando a cultivar cacau em maiores altitudes, porém bem mais frias e limitadas, o que exige tecnologias de plantio novas para garantir a adaptação.
UÍSQUE
O maior produtor mundial de uísque, a Escócia, deverá sentir o impacto das mudanças climáticas na bebida que lhe rende não só fama mas receita vultosa – no ano passado, o país exportou cerca de 12 bilhões de reais em uísque. Há motivos para se preocupar. Estudo encomendado pelo governo escocês em 2011 levantou ricos potenciais associados ao aquecimento global e a bebida.
Entre eles, o de que o suprimento e a qualidade de cereais, especialmente o malte, poderá sofrer, no futuro, com secas, enchentes em regiões produtoras costeiras e doenças na plantação. Temperaturas mais elevadas também poderão tornar menos eficiente o processo de produção e afetar a disponibilidade de água. Já nevascas intensas, muito frio e gelo tornarão mais constantes as interrupções operacionais e na cadeia de fornecimento.
SALMÃO
O aquecimento global põe em risco muitos animais marinhos, entre eles o salmão. A elevação das temperaturas oceânicas pode alterar o ciclo reprodutivo e o regime alimentar dessa iguaria subaquática. Segundo a associação americana National Wild Federation, a acidificação dos mares tem prejudicado a formação do casco de pequenos moluscos que servem de alimento para o salmão.
Inundações também atrapalham a reprodução do animal, cujas ovas são arrastadas para longe dos leitos de desova. Ainda de acordo com a entidade, a baixa incidência de neve durante as estação do inverno diminui o fluxo de rios importantes para a reprodução do salmão.
ARROZ
Cientistas descobriram que, ao longo dos últimos 25 anos, o rendimento das colheitas de arroz caiu entre 10% e 20% em alguns locais. Um estudo liderado por pesquisadores americanos com 227 propriedades rurais de seis importantes regiões produtoras, como Tailândia, Vietnã, Índia e China, relaciona a baixa no rendimento ao aumento das temperaturas ao longo da noite.
A suspeita é de que as plantas de arroz estão gastando mais energia para respirar em noites quentes, o que afeta a capacidade de realizar fotossíntese. Nas Filipinas, por exemplo, um estudo de 2004 apontou que o rendimento das plantações caía 10% a cada aumento de 1° C na temperatura no período noturno.
VINHO BORDEAUX
O aquecimento global também mostra com força suas garras em Bordeaux, na França, uma das regiões produtoras de vinhos de excelência mais antigas do mundo. Considerando o cenário mais pessimista, especialistas acreditam que as mudanças climáticas podem tornar a região inadequada para a atividade já em 2050.
O impacto no setor preocupa: atualmente, os vinhos de Bordeaux respondem por um terço da produção total da bebida na França. Atentos à ameaça, muitos produtores estão optando por uvas geneticamente modificadas, mais resistentes à mudança de temperaturas, desde que se trate de uma diferença modesta.
MEL
Um fenômeno vem intrigando cientistas do mundo todo: o colapso de colônias de abelhas na Europa, América do Norte, África e Ásia. De acordo com um estudo do Departamento de Agricultura dos EUA, as colônias de produção de mel diminuíram de uma população de 5,5 milhões em 1950 para 2,5 milhões em 2007.
Até o momento, o principal suspeito do sumiço das abelhas é o duo composto por poluição e o uso de defensivos agrícolas. Mas uma outra leva de cientistas também associa o fenômeno ao aquecimento do planeta, uma vez que mudanças extremas no clima afetam o padrão de floração na natureza e por consequência o comportamento das abelhas.
BORRA DE CAFÉ
Nem o celebrado cafezinho escapou. Nos últimos anos, a produção de alguns dos melhores grãos vem apresentando queda na Colômbia e em outras regiões produtoras da América Latina. Para crescer sãs e fortes, as plantações de café precisam de condições adequadas de temperatura, além de dias secos e chuvosos na medida.
As mudanças bruscas no clima prejudicam, em muito, a colheita de bons grãos para a produção. Enquanto as chuvas fortes danificam as flores, o calor intenso torna propícia a proliferação de fungos danosos ao cultivo. Um estudo da Embrapa prevê que, se nada for feito para reduzir os efeitos do aquecimento global na agricultura, a produção de café no Brasil pode ter queda de 92% até o ano de 2100.
Por Vanessa Barbosa, Exame.com