Novo rumo

3 de maio de 2012

Conheça as histórias e os desafios de profissionais que decidiram interromper a carreira corporativa para realizar outros sonhos. Eles contam como é recomeçar a trajetória em um trabalho diferente

Homaro Lima, 46 anos: ele abandonou a vida de executivo na PepsiCo, em 2009, para montar um salão de beleza

Você já teve vontade de jogar tudo para o alto e dar uma guinada radical na carreira? Esse é um movimento que vem ganhando cada vez mais adeptos. Segundo Matilde Berna, diretora de transição e carreira da Right Management, consultoria com escritório em São Paulo e no Rio de Janeiro, o percentual de profissionais que procuram seus serviços para mudar de área dobrou nos últimos dois anos.

Hoje, corresponde a 11% do total de pessoas que chegam até ela. na DBM, consultoria que também atua em outplacement, que nada mais é do que a recolocação de pessoas no mercado de trabalho, quatro em cada dez clientes optam por mudar de rumo. Os trabalhadores que buscam a assessoria das grandes empresas de carreira representam uma parcela endinheirada da população economicamente ativa.

A princípio, esse grupo tem tudo (cargo, salário e status) para permanecer onde está. Ainda assim, essa turma decide arriscar e partir para outra atividade. Já entre os mais jovens, trocar de carreira é um movimento natural na busca de uma atividade que renda satisfação e uma remuneração no fim do mês ou de cada projeto. Os gatilhos que despertam a vontade de dar uma guinada são quase sempre os mesmos: qualidade de vida, busca de aprendizado ou trabalho com mais significado. “As pessoas estão prestando mais atenção em si mesmas e procurando uma vida que tenha mais sentido”, diz Matilde.

Mas isso não quer dizer que a mudança seja fácil ou deva ser feita sem planejamento. É preciso ter clareza dos motivos que levam à transição profissional, do que se pretende fazer no futuro e quais resultados se deseja obter. Com um bom planejamento, o risco de transição pode ser calculado. É preciso ter fôlego financeiro e um plano estruturado. Porém, qualquer virada que implique grandes investimentos financeiros não é recomendada a partir dos 55 anos.

“A essa altura, a pessoa estaria arriscando um planejamento de vida de forma não favorável”, diz Matilde. Confira as histórias de três profissionais que mudaram radicalmente de carreira. Os aprendizados deles podem servir de inspiração. Você vai perceber, ao fim da leitura, que a determinação é um fator-chave no processo de transição.

Uma dose de risco
É muito difícil começar do zero. Todo dia você tem batalhas para enfrentar, mas está sozinho. Por outro lado, é maravilhoso quando seu projeto começa caminhar e dar resultados”, diz o ex-executivo Homaro Lima, de 46 anos, que, em 2009, deixou para trás uma carreira de 19 anos em multinacionais como Unilever, Colgate e PepsiCo. Nessa última, ocupou por três anos o cargo de gerente-geral para a região do Caribe.

“Cansei da vida de executivo. Queria voltar para o Brasil. Acabei decidindo empreender”, diz. Mas o martelo só foi batido depois de estudos de mercado e muita conversa com a família. As pesquisas mostraram que a área de salões de beleza é um terreno virgem para profissionais de administração e um setor ainda pouco profissionalizado. “Como minhas reservas estavam saudáveis, resolvi arriscar.” A cumplicidade e o apoio da esposa e dos filhos foram fundamentais para que o plano funcionasse. “O processo exige redução de gastos e uma mudança no padrão de vida.

A casa nova fica para depois, as viagens internacionais também. Você trabalha mais do que antes. O desgaste familiar deve ser levado em conta e encarado em conjunto.” Depois de três meses sabáticos e cinco meses de projeto, Homero abriu o Fabrica Salon, no bairro de Moema, zona sul de São Paulo, em novembro de 2010. O investimento foi de 500 000 reais. “A sensação de estar gerando empregos e ter criado um novo negócio é maravilhosa.”

Hoje, o ex-gerente-geral da Pepsico não tem dúvidas de que tomou a decisão certa. “Enxergo o mundo dos negócios de maneira diferente. Considero-me um profissional melhor”, diz Homaro.

Ela rompeu com a zona de conforto
Aos 28 anos, a carioca Gisele Maia, formada em comunicação social, foi chamada para ocupar um cargo de confiança na MultiRio, empresa municipal que desenvolve ações educativo-culturais na cidade do Rio de Janeiro. Gisele tinha estabilidade no emprego, fazia o que gostava, mas não era feliz.

A noção de que estava com a carreira encaminhada a fez sentir uma enorme necessidade de quebrar a rotina e buscar novas experiências. “Havia outras coisas que eu queria viver que não estavam naturalmente no meu caminho, eu precisaria forçar um pouco a barra.” Gisele pediu demissão em abril de 2010, pegou suas reservas financeiras e foi viajar pelo mundo.

Gisele Maia, 28 anos: ela juntou 26 000 reais, pediu demissão e foi viajar pelo mundo por nove meses

Ela iniciou o planejamento financeiro um ano e meio antes da demissão. “Comecei monitorando meus gastos para entender para onde meu dinheiro ia e em que poderia economizar. Voltei a morar com meu pai para deixar de pagar aluguel, cortei as coisas que sabia que não me fariam sofrer.

No fim de um ano, eu tinha juntado 26 000 reais, o suficiente para viajar pelo exterior por uns nove meses.” Dinheiro no bolso e passagem marcada, hora de avisar à família e aos amigos o que estava para acontecer.

“Ninguém participou de meu processo de decisão. Eu tinha consciência de que estava fazendo algo não muito convencional, então preferi me concentrar em meus planos e gastar energia cumprindo meu objetivo, e não tentar convencer as pessoas em relação a algo que estava certa de que queria fazer”, afirma.

Seu último dia de trabalho foi uma quinta-feira. No sábado, Gisele embarcou para sua viagem de descobertas. “Fiquei um tempo na Holanda, viajei um mês pela Espanha, três meses na Índia, um mês e meio na Tailândia, mais dois meses entre Holanda, Alemanha e Bélgica, fui para a África do Sul e, por fim, Moçambique.”

Gisele retornou ao Rio de Janeiro no mês passado. “Vivi muitas histórias que quero publicar num livro. Ganhei também outro olhar acerca da realidade de vários países, muitas fotos, muitos amigos. Sinto-me, de um modo geral, mais segura e confiante.

Além disso, a Tailândia me deu um tema para o mestrado que tanto quero fazer. Lá, há uma forma diferente de pensar o turismo como negócio e fonte de receita para o país. Agora, vou tentar entrar na pós-graduação com um projeto sobre turismo sustentável”, conta Gisele.

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Por Michelle Aisenberg