“A mulher é fundamental para se alcançar o desenvolvimento sustentável”

11 de maio de 2012

Rio de Janeiro, Brasil, 9/5/2012 – O papel das mulheres como fator indispensável para criar uma economia verde será destacado na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá no mês que vem, no Brasil. No contexto deste encontro, o Fórum de Mulheres Líderes fará um “chamado para a ação” para receber novas ideias, boas práticas e propostas para o futuro, em um contexto onde elas são parte importante na busca da sustentabilidade e da erradicação da pobreza.

Rebecca Tavares: “A liderança das mulheres deve ajudar na transição para uma economia verde”. Foto: Divulgação ONU Mulheres

O fator feminino é essencial na gestão ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social, ao mesmo tempo em que contribui para a transição para uma economia verde, declarou à IPS a diretora regional da ONU Mulheres para o Brasil e o Cone Sul, Rebecca Tavares. Isto se vê especialmente no campo, onde são protagonistas no processo de adaptação e mitigação da atividade agropecuária à mudança climática. Entretanto, continuam sendo negados seus direitos e sua contribuição para o desenvolvimento, enfatizou Rebecca.

IPS: Em que consistirá o Fórum de Mulheres Líderes que acontecerá na Rio+20?

Rebecca Tavares: O Fórum reunirá mulheres, governos, organizações da sociedade civil, intelectuais e empresários e empresárias para discutir e reafirmar a centralidade do tema da igualdade de gênero, o empoderamento feminino e suas interações com as três dimensões do desenvolvimento sustentável. Haverá um chamado para a ação apoiado pela ONU Mulheres e pelas chefes de Estado para incorporar novas ideias, boas práticas, propostas inovadoras e visões para o futuro.

IPS: Como as mulheres poderão fazer a diferença na Rio+20?

RT: O desenvolvimento sustentável implica uma composição global de normas, políticas e padrões de igualdade de gênero, ao mesmo tempo em que responde a novos problemas, desafios e novas oportunidades. É preciso incluir nos planos de ação mecanismos de implementação para uma economia verde e reconhecer o papel de liderança das mulheres, sua voz e representação como um fator fundamental para garantir um desenvolvimento sustentável.

IPS: Como avalia o papel das mulheres na temática da mudança climática?

RT: Um quarto da população feminina mundial vive no campo. São líderes, tomadoras de decisão, trabalhadoras, empresárias e fornecedoras de serviços. Por isto, sua contribuição é vital para o bem-estar das famílias e das comunidades, bem como para a economia local e a dos países. A igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres são cruciais para alcançar os três pilares do desenvolvimento sustentável, que são o econômico, o social e a proteção ambiental. Quando têm seus direitos assegurados, bem como o acesso a recursos, são poderosas agentes para avançar nessa direção. As mulheres têm um papel prioritário na gestão ambiental, na produção de alimentos e na reprodução social. Muitas, além disso, possuem um conhecimento tradicional que contribui para o uso consciente dos recursos humanos, como solo, água e energia. Assim, é vital desenvolver programas para capacitá-las em técnicas de desenvolvimento sustentável que aperfeiçoem esse saber.

IPS: Como as mulheres podem contribuir para erradicar a pobreza e a fome?

RT: A liderança das mulheres deve ajudar na transição para o crescimento de uma economia verde. Contudo, os direitos das camponesas, suas contribuições e suas prioridades ainda são negados. Podem ser agentes de mudança por meio do acesso ao mercado de trabalho e tendo oportunidades educativas.

IPS: Quais ações esta agência especializada da ONU realiza no Brasil?

RT: Temos programas de auxílio e empoderamento de indígenas, quilombolas (habitantes dos antigos quilombos de escravos negros) e das trabalhadoras do setor extrativista. Há um programa desenvolvido pelo governo brasileiro em sociedade com a ONU Mulheres para promover a cooperação técnica Sul-Sul com países da África, América Latina e Caribe, com apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Este plano tem como objetivo consolidar boas práticas e experiência do Brasil em promover a igualdade de gênero e difundir essas ações nos planos social e econômico.

IPS: Que tipo de iniciativas são realizadas para conseguir o empoderamento das brasileiras?

RT: A ONU Mulheres apoia, desde 2008, ações destinadas a camponesas. Uma delas é o Programa Chapéu de Palha, desenvolvido no interior de Pernambuco em conjunto com a Secretaria de Políticas para as Mulheres do lugar, cujo objetivo é melhorar a nutrição e, em geral, a qualidade de vida das comunidades, além de atividades educativas e de reflorestamento. Mais de 38 mil pernambucanas foram beneficiadas desde a implantação deste plano, há quase quatro anos, para o qual a ONU Mulheres destinou US$ 50 mil entre 2011 e 2012. E, em 2010, foi criado o primeiro Plano Brasileiro de Políticas para as Mulheres Rurais. Envolverde/IPS

 

Por Fabíola Ortiz, da IPS
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