O mercado de capitais nacional vive momento de efervescência e cresce a procura por profissionais de Relações com Investidores. Do final dos anos 90 a 2003, o número de empresas de capital aberto encolheu de mil para 370. Mas o comportamento da Bolsa em 2004 trouxe otimismo com a entrada de novas empresas no pregão, como a companhia aérea Gol, a de transporte ferroviário ALL e a de cosméticos Natura. A expectativa é de que esse ritmo prossiga com a abertura de capital da empresa de calçados Grendene no próximo dia 29 de outubro.
A carência de profissionais experientes para a função tem acarretado uma intensa dança das cadeiras entre os executivos das companhias abertas. Os profissionais de Relações com Investidores (RI) são os responsáveis por comunicar ao mercado (acionistas, funcionários, jornalistas, governo, Bolsa, etc) os resultados da empresa, as perspectivas e as atitudes que a companhia está adotando em termos de responsabilidade social e meio ambiente. Ou seja, há uma gradual substituição da função de porta-voz, até pouco tempo concentrada na presidência das companhias, por profissionais de Relações com Investidores. Para desempenhar essas atribuições, o profissional precisa dominar conceitos de marketing, finanças e comunicação.
Pesquisa do IBRI (Instituto Brasileiro de Relações com Investidores) e Fipecafi demonstra tendência dos profissionais serem recrutados entre os formados em Administração, Economia e Contabilidade. A fluência em inglês é essencial, pois o profissional precisa estar preparado para representar a companhia nas apresentações (roadshow) no exterior. Em geral, segundo a pesquisa, eles trabalham (77%) em companhias grandes (com faturamento líquido superior a R$ 1 bilhão) e têm idade variando entre 30 e 40 anos (51%). Em média possuem cinco anos de casa.
É bastante valorizado o profissional que conhece todas as áreas da companhia. Além disso, o levantamento demonstra satisfação salarial de 61% dos entrevistados e que 53% dos profissionais possuem remuneração mensal entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. A pesquisa registra também que 87% dos profissionais não desejam mudar de área de atuação.
A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) estuda ampliar a possibilidade de pequenas e médias empresas captarem recursos no mercado com a emissão de papéis. Hoje, em geral, o mercado de capitais é dominado pelas grandes companhias nacionais. A CVM deve regulamentar o chamado “mercado de acesso” para pequenas e médias companhias. É mais uma oportunidade para os profissionais de RI.
No dia-a-dia, há uma série de desafios. A pesquisa demonstra que as maiores necessidades de aperfeiçoamento são no item “conhecer a legislação internacional” (45%) para empresas com captação de recursos no exterior e “saber se relacionar com a imprensa” (35%). A função de porta-voz exige também do profissional de RI o conhecimento das mais diversas áreas da companhia: do marketing (últimos lançamentos de produtos, verbas publicitárias) a detalhes contábeis (provisão para devedores duvidosos, retorno sobre patrimônio). Os profissionais de RI costumam organizar também, periodicamente, apresentações da companhia para investidores, jornalistas e outros interessados, e precisam demonstrar atualização sobre temas como macroeconomia, microeconomia e até mesmo sobre o impacto dos resultados das eleições nas perspectivas de crescimento de lucratividade da empresa.
Por Rodney Vergili
* Rodney Vergili é jornalista, economista e consultor de comunicação empresarial.