O economista e ambientalista Sérgio Besserman Vianna, que está à frente da Rio+20, defende que o mundo sustentável precisa ser mais feminino
Ambientalista há quase 30 anos, ele especializou-se em mudanças climáticas, foi membro das missões brasileiras nas mais importantes conferências mundiais sobre o tema e hoje preside a Câmara Técnica de Desenvolvimento Sustentável do Rio de Janeiro. Mas a familiaridade não vem daí; vem da semelhança física evidente com o irmão, o humorista Bussunda, do programa Casseta & Planeta, da Rede Globo, falecido em 2006 de ataque cardíaco. “Você sabe por que todo economista é careca? De tanto passar a mão na cabeça e dizer: ‘Xiii, deu errado…’.” Foi assim, em tom de brincadeira, que ele iniciou nossa conversa, parafraseando uma das clássicas piadas do irmão, para explicar que ainda pouco se sabe do real significado do tão falado desenvolvimento sustentável.
O título de um dos mais respeitados especialistas em meio ambiente do Brasil lhe dá autoridade para escapar da demagogia e confessar, sem medo, que usa – corretamente – sacolinhas plásticas, viaja de avião, instalou ar-condicionado em todos os quartos da casa e tem um cachorro cocker spaniel, o Bolo, que ajuda a aquecer o planeta. “Educação ambiental não é uma cartilha. É ensinar a pensar, a fazer conta”, afirma ele. Aos 54 anos, casado, pai de André e Ana Elisa, Sérgio traz um olhar diferenciado ao chamar a atenção para o decisivo papel da mulher na construção de um mundo sustentável. Para ele, as mulheres sabem muito bem impor limites – e o planeta agora chegou ao seu limite.
Você considera que as mulheres estão no centro das grandes transformações que o mundo deve enfrentar nos próximos anos. O que fez com que pensasse assim?
Se eu achasse a lâmpada de Aladim e o gênio me dissesse: você tem direito a um desejo para o desenvolvimento sustentável. Só um. Eu, sinceramente, escolheria: acesso à informação e direito à liberdade sobre o próprio corpo para todas as mulheres do mundo. Parece uma frase retórica, mas repare que é uma visão oposta ao relativismo cultural. O que estou dizendo abrange todas as mulheres do mundo, sem exceção. Haverá quem diga: “Ah, mas na minha cultura a mulher tem o casamento arranjado aos 12 anos”. Ou: “Na minha cultura, as mulheres usam burca”. Azar. Essa cultura está errada, atrasada. Para o desenvolvimento sustentável da humanidade, qualquer que seja sua cultura, as mulheres têm que ter acesso à informação, ao conhecimento, à liberdade sobre o próprio corpo.
De que modo isso se conecta com a ideia de desenvolvimento sustentável?
Primeiro, pelo impacto imediato na taxa de fecundidade. É estatístico: quanto mais informação e conhecimento, menos filhos as mulheres terão e correrão menos risco de perdê-los se os tiverem. Em segundo lugar, é o empoderamento das mulheres. Mulheres mais poderosas podem ser um impulso para transformar a consciência que todos nós temos a respeito do tempo. A humanidade precisa desesperadamente pensar num tempo maior: que impacto terão as coisas que fazemos hoje nos próximos 30, 40 anos. Nós nunca fizemos isso. As mulheres são mais conscientes do tempo: o sentimento do futuro está muito presente nelas, porque pensam nos filhos, nos netos.
As mulheres que chegaram ao poder estão demonstrando essa responsabilidade?
Infelizmente, não. Ainda não se percebe diferença em relação aos homens, e assim não funciona.
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