Arroz com feijão sobe seis vezes mais que a inflação

3 de julho de 2012

O arroz com feijão está mais salgado. Com alta de 30,7% em 12 meses, o prato subiu cinco vezes mais do que índice oficial de inflação, que ficou em 4,9% no período.

Juntos, os dois itens básicos da alimentação do brasileiro tiveram impacto de 0,25 ponto percentual sobre o IPCA dos últimos 12 meses encerrados em maio.

O cálculo, feito a pedido da Folha pelo analista Thiago Curado, da Tendências Consultoria, tem como base a variação do arroz e do feijão carioca no IPCA e o seu peso no principal índice de inflação.

Embora já apresentassem tendência de valorização desde o ano passado, os preços aceleraram a alta em 2012. Desde janeiro, o feijão subiu 58% na média do país, segundo o IPCA. Em 12 meses, a variação é de 78%.

“A alta, que é mais significativa nos últimos meses, se deve à quebra de safra do feijão”, afirma Curado.

SECA

A estiagem do início deste ano provocou uma queda de 26% na produção da primeira safra de feijão, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Na Bahia, um dos principais produtores nessa época do ano, a produção foi praticamente dizimada. No Sul, ela ficou comprometida.

Com a colheita em andamento, a segunda safra também deve ter queda na produtividade, por conta das geadas que atingiram as lavouras do Paraná no outono.

Menos impactada por problemas climáticos, a terceira safra começa a ser colhida em julho. Cerca de 500 mil toneladas serão adicionadas ao mercado, o que deve dar uma trégua ao rali das cotações.

O desequilíbrio entre oferta e demanda, no entanto, deve continuar. “Esse volume atende a, no máximo, dois meses de consumo”, afirma Vlamir Brandalizze, sócio da Brandalizze Consultoria, especializada no setor.

Depois de uma trégua em julho e agosto, Brandalizze prevê nova alta do feijão a partir de setembro.

DESESTÍMULO

Menos afetado pelo clima, a valorização do arroz foi mais amena do que a do feijão. Ainda assim, com uma taxa de 7,5% em 12 meses, a inflação do cereal superou a média do período, de 4,9%.

Os preços refletem queda de 15% na produção da safra 2011/12, devido, principalmente, à redução de 13% na área plantada.

A baixa remuneração paga pelo arroz, em comparação com grãos como a soja e o milho, desestimulou agricultores a plantar o cereal.

O consumo, no entanto, continuou aquecido, o que tornou apertado o quadro entre oferta e demanda.

Neste ano, o aumento das exportações agravou ainda mais a situação. Segundo Brandalizze, os preços internacionais do arroz estão cerca de 30% maiores do que há um ano, o que tem estimulado os embarques do produto.

Depois do recorde de 2 milhões de toneladas exportadas em 2011, as vendas ao exterior mantêm crescimento. De janeiro a maio, o Brasil dobrou os embarques, que atingiram 619 mil toneladas, segundo a Secex (Secretaria de Comércio Exterior).

O volume equivale a 5% da produção nacional, estimada em 11,6 milhões de toneladas pela Conab, ante um consumo de 13 milhões de toneladas no país.

Importações, portanto, podem ser necessárias no segundo semestre para abastecer o consumo interno. Como os preços no exterior estão 30% mais altos do que há um ano e o dólar se valorizou no período, a pressão sobre a inflação deve continuar.

Fonte: Folhapress