Para lojista, risco de calote cai com cartões

16 de julho de 2012

O avanço dos cartões de crédito no território dos carnês como instrumento de financiamento mudou o perfil de risco do atual ciclo de inadimplência em relação aos anteriores. “Hoje o risco de calote para o comércio varejista é menor”, afirma o vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.

Nos últimos anos, com as parcerias firmadas entre bancos, administradoras de cartões e varejistas, a maior parte do risco do crédito migrou para o sistema financeiro. No passado, empresas como Arapuã e G. Aronson quebraram com o aumento do calote do consumidor porque bancavam o crediário e havia poucos mecanismos de proteção.

“As lojas hoje não estão preocupadas com o calote porque o cheque e o carnê representam parcela menor das vendas. A inadimplência do cartão está com os bancos e as administradoras”, argumenta o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri.

Exatamente para se resguardar desse risco de crédito é que as taxas de juros do cartão são as mais altas em relação às demais linhas de crédito e também as mais resistentes à queda.

Para especialistas, uma taxa de juro mensal no cartão de 10% “aguenta qualquer desaforo”. Além disso, ao contrário de antes, os bancos têm mecanismos para se proteger do calote, aumentando a reserva para devedores duvidosos.

Marcelo Noronha, diretor da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), contesta os resultados da pesquisa da Boa Vista Serviços, que aponta o cartão de crédito como vilão da inadimplência. Segundo ele, a pesquisa consultou só o púbico que ficou inadimplente e deixou de avaliar os demais. Ele afirma que houve migração entre meios de pagamento, o que ampliou a base dos cartões e, consequentemente, a chance de inadimplência. “Os carnês e os boletos estão sumindo para a pessoa física.”

Os cartões de crédito, diz Noronha, respondem por 27% do consumo das famílias no Brasil e 70% do saldo dos cartões, que em maio era de R$ 125,6 bilhões, são sem juros. “As pessoas usam cada vez mais o cartão e cada vez mais a modalidade sem juros.”

Em maio de 2004, mais da metade do crédito no cartão era com juros e a maior parte no rotativo. Em maio último, 70% do saldo do cartão é sem juros e a menor parte do crédito com juros está no rotativo. O cartão sem juros é 10% do estoque de crédito da pessoa física, o cartão com juros representa 4,1% e o crédito rotativo apenas 1,6% do crédito total destinado à pessoa física. “Matematicamente é impossível o cartão ser o vilão da inadimplência”, diz Noronha.

Fonte: O Estado de São Paulo