Como gerenciar um futuro brilhante, mas imprevisível

24 de agosto de 2012

Em evento da HSM, especialistas apontaram os possíveis caminhos para a ciência e a gestão

O especialista em sistemas complexos Eric Bonabeau

Conversando recentemente com um garoto de 12 anos, Ray Kurzweill ouviu um desabafo: “As coisas mudaram tanto desde que eu tinha 8!” O inventor e futurista americano contou a história no início da palestra A Era do Crescimento Exponencial nesta quarta-feira (22), segundo e último dia do fórum Novas Fronteiras da Gestão 2012, promovido em São Paulo pela HSM.

Foi um dia inteiro de previsões científicas inimagináveis, e para um futuro próximo. Nesse aspecto, a palestra mais impressionante foi a de Neil Gershenfeld, diretor do Center for Bits and Atoms do Massachusetts Institute of Technology (MIT, nos EUA), que previu a superação da economia digital por uma revolução do átomo que permitirá às pessoas comuns fabricar em casa qualquer objeto que julgarem útil ou desejável. Gershenfeld é autor de um livro chamado “Quando as Coisas Começaram a Pensar”, ainda inédito no Brasil.

Numa palestra no dia anterior, outro futurista americano, Peter Schwarz, havia apresentado uma estatística a favor dos que afirmam que estamos vivendo uma época especialmente criativa. Segundo ele, 90% de todos os cientistas que já pisaram no planeta estão vivos atualmente. Schwarz acredita que muitos seres humanos que também já estão entre nós contarão seu tempo de vida em séculos, em vez de anos.

Coube ao franco-americano Eric Bonabeau, especialista em sistemas complexos, dar a versão gerencial dos desafios desse admirável mundo novo. O primeiro e grande obstáculo é que, segundo ele, o cérebro humano está programado para ignorar a complexidade, por orientar-se antes de mais nada para a sobrevivência (ou seja, encontrar soluções urgentes). Em outras palavras, não sabemos lidar com a multiplicidade, o incerto e o desconhecido.

Nada mais natural, portanto, que ele tenha começado sua palestra dizendo: “Lamento, mas estou aqui para mostrar que vocês estão errados.” Para provar isso, ele listou cinco “nãos” para abalar alguns princípios em que baseamos nossas certezas:

1. Pensar pela média é igual à morte. O que importa não é a atitude média de um grupo de pessoas, mas as flutuações e o modo como cada um se vira diante de um problema ou desafio.

2. A causalidade é um hábito vagabundo. As pseudocertezas estatísticas e a tendência humana a pensar sempre do mesmo modo levam a conclusões inúteis e às vezes sem pé nem cabeça. Bonabeau apresentou um gráfico que, friamente, nos leva a concluir que ocorrem mais crimes quando o consumo de vinho é menor ou inexistente.

3. O futuro não é o que costumava ser. Buscar explicações no passado impede a aceitação do que é inédito e imprevisível.

4. Postes de luz são para suporte, não iluminação. O enunciado desse princípio exige explicação. Refere-se a uma piada sobre um bêbado que perdeu as chaves do carro e procura apenas no reflexo da luz do poste, uma vez que é impossível encontrar alguma coisa no escuro. A moral da história é: se você quer descobrir algo novo, não procure nos lugares conhecidos.

5. A multidão nem sempre é louca. Pesquisas mostram que o resultado geral das apostas em grupo sobre os premiados do Oscar muitas vezes acerta mais do que os palpites de qualquer um dos apostadores isoladamente.

Por Márcio Ferrari