Espera por carro 0 km chega a 100 dias

5 de setembro de 2012

“A senhora vai ter que esperar no mínimo uns 30 dias, não tem jeito”. Em tempos de desconto no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e recorde de vendas, essa é a desculpa mais comum por parte de vendedores de concessionárias, que confirmam não possuir modelos em estoques. Agosto foi o melhor mês da história em termos de vendas, segundo a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), com 420 mil comercializados. E o “boom” nos emplacamentos resultou em longas listas de espera.

As montadoras fazem coro com o mesmo discurso, alegando que a produção não deu conta da demanda dos últimos tempos. E o que resta para quem assinou um contrato e espera pela chegada do veículo? De acordo com a Associação Brasileira de Consumidores (Proteste), o comprador que se sentir lesado pelo atraso na entrega do veículo pode recorrer ao Juizado Especial Cível, conhecido popularmente como “Juizado das Pequenas Causas”, e pedir o dinheiro de volta com juros e correção.

“Ao meu entendimento, deve haver uma punição, caso esse prazo se prolongue por muito tempo. Outra orientação é fazer uma reclamação por escrita e entregá-la à concessionária, pedindo um reembolso por gastos com locomoção, guardando todas as notas. Acredito que esse pedido possa ser feito a partir do terceiro atraso”, orienta Maria Inês Dolci, coordenadora da Proteste.

O Procon-SP orienta que o consumidor feche o contrato apenas se o produto estiver disponível em estoque. “Temos o direito de saber se o produto está disponível, e caso exista uma lista de espera, esse prazo tem que ficar claro no contrato ou na nota fiscal”, explica Fátima Lemos, assessora técnica do órgão, ressaltando que não existe um limite oficial de espera para a entrega do veículo. “O que existe é o limite da tolerância do consumidor, que pode ter o direito ao cancelamento da compra e a devolução do dinheiro”.

Segundo especialistas, o acordo de entrega deve ser sempre obedecido pela concessionária. Caso isso não aconteça, descaracteriza o contrato assinado, a menos que o consumidor esteja de acordo com os novos prazos. Outra saída para contornar os problemas causados pelo atraso da chegada do veículo é a negociação de um carro reserva com a revenda. “É algo bastante viável para a concessionária e é uma medida alternativa cabível”, diz Maria Inês. “Mas que essa negociação fique clara. É importante verificar as condições desse empréstimo, ver se o veiculo está segurado e estipular tudo isso em um contrato. Todas a negociações têm de ser feitas de forma clara e de maneira formal para que o consumido não fique desprotegido”, finaliza Fátima.

Os modelos com prazos incertos de entrega no mercado automotivo nacional são de nichos distintos. O Chevrolet Sonic nas configurações hatch e sedã, por exemplo, é encontrado apenas na versão topo de linha, com até 60 dias de espera, assim como o sedã Chevrolet Cobalt, que demora de 40 a 60 dias para chegar à loja. A Nissan tem problemas de entrega com o hatch de entrada March e o sedã Versa, que podem demorar mais de 100 dias. Em lojas do Recife, vendedores dizem que não comercializam e não dão informações sobre os modelos temporariamente. “Não temos esses carros no estoque e o que a fábrica produz ja está vendido”, justificou uma vendedora. Em Porto Alegre a justificativa pela falta do modelo hatch compacto da Nissan é a greve da Receita Federal.

Na Fiat, o modelo com prazo mais longo é o subcompacto 500, com lista de 60 a 90 dias. “O pessoal correu atrás desse carrinho por causa do IPI”, disse o gerente de uma concessionária no Rio de Janeiro. Em nota oficial, a Fiat disse que o atraso é justificado pela demanda especial dos últimos meses.

As entregas do recém-lançado novo Citroën C3 têm previsão de 60 dias. O interessado por um Renault Duster deve aguardar por mínimo 30 dias, enquanto a lista por um Ford New Fiesta hatch é de 20 a 30 dias. Foram procuradas concessionárias de Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife.

Procurada pelo Terra, a Nissan disse através de comunicado que os compactos March e Versa estão com demanda maior que os volumes mensais projetados inicialmente e que a empresa “vem trabalhando com seus parceiros e fornecedores para atender a essa demanda crescente e, assim, seus produtos a clientes que os desejam, dentro de prazos menores”.

A Chevrolet se pronunciou dizendo que a produção não conseguiu acompanhar a demanda e que está tentando normalizar as entregas. “Sabemos das procuras por modelos como o Cobalt, por exemplo. A previsão do modelo era de 3 mil a 3,5 mil unidades por mês, e vendemos mais de seis (mil) no mês passado. Continuamos a produzir a todo o vapor, e em São Caetano do Sul, em São Paulo, temos média de dois sábados extras por mês de produção. o Sonic, é um modelo importado da Coreia, e a marca estuda em resolver a demanda e diminuir o tempo de espera”, afirmou Marcos Munhoz, vice-presidente da marca no Brasil. Fiat, Ford e Citroën não se manifestaram sobre o assunto.

Fonte: Terra – Economia