Brasileiros usam mais de R$ 1 bilhão em cheque especial por dia

4 de outubro de 2012

Os brasileiros que não conseguiram fechar as contas usaram R$ 1,184 bilhão do cheque especial, em média, por dia, em agosto, segundo dados do Banco Central (BC). No mês, o saldo da dívida dos correntistas com os bancos ficou em R$ 21,095 bilhões, redução de 1,3% em relação a julho.

Apesar das recentes reduções dos juros do cheque especial, essa ainda continua sendo uma modalidade de crédito com taxa alta. Em agosto, de acordo com o BC, a taxa ficou em 148,6% ao ano, com redução de 2,4 pontos percentuais em relação a julho e 39,5 pontos percentuais na comparação com o mesmo mês de 2011.

Para perceber o quanto esses juros são altos, basta compará-los à taxa do crédito pessoal, incluídas operações consignadas em folha, que ficou em 39,4% ao ano, em agosto.

Os técnicos do BC costumam dizer que a taxa de juros do cheque especial é “proibitiva”, ou seja, deve-se evitar o uso dessa modalidade de crédito.

O professor de finanças da Faculdade Ibmec Marcos Aguerri Pimenta explica que os juros são altos porque o “dinheiro está disponível na conta-corrente a qualquer momento, sem a necessidade de negociar com o gerente no banco”. “O cheque especial é útil apenas para momentos de emergência e, portanto, em casos de curtíssima duração, como alguns dias”, aconselha.

Mas os brasileiros costumam usar o cheque especial por 22 dias, em média, ao longo do mês. Pelos cálculos do professor, se um correntista usar R$ 100 de cheque especial nesse período de 22 dias, irá pagar R$ 5,82. “Isso é um valor considerável, ainda mais se compararmos à caderneta de poupança, que remunera em torno disso no período de um ano”, destaca. Ou seja, se em vez de usar o cheque especial, o correntista tivesse R$ 100 para aplicar na poupança, levaria um ano para ter em torno de R$ 5,82 de remuneração, valor pago ao banco pelo empréstimo em apenas 22 dias.

No cálculo do valor do cheque especial, foram considerados a taxa média de juros e o Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF). De acordo com a Receita Federal, a alíquota de 0,38% incide sobre cada novo empréstimo. Além dessa alíquota, é cobrado 0,0041% ao dia, incidente sobre o somatório dos saldos devedores diários.

Troque o cheque especial por um empréstimo

Correntistas endividados com o cheque especial devem trocar a dívida por uma mais barata, como o crédito consignado. Mas é preciso cuidado para não voltar a ficar no vermelho, na avaliação do professor de finanças da Faculdade Ibmec Marcos Aguerri Pimenta.

“Os juros do consignado são bem menores que os do cheque especial. Cuidado apenas para isso não virar rotina, pois é comum as pessoas, além de pegar um crédito pessoal, acabarem entrando no cheque especial novamente ou no rotativo do cartão de crédito.”

De acordo com o Banco Central (BC), o crédito consignado, por ter taxa de juros mais baixa, tem sido usado nas renegociações das dívidas. A taxa de juros do crédito consignado chegou a 23,6% ao ano, em agosto, com redução de 1 ponto percentual em relação a julho. Já a taxa do cheque especial ficou em 148,6% ao ano, em agosto.

Pimenta lembra que os correntistas podem pedir ao gerente do banco para “cortar” o cheque especial e assim evitar a tentação de usar. “Outra saída, menos radical que cortar o cheque especial, porém de difícil execução, é acompanhar frequentemente o fluxo de caixa da conta-corrente. Um terceiro caminho consiste em ter uma aplicação, como poupança e CDB , com a opção de resgate automático quando o saldo da conta-corrente ficar negativo”, orienta.

Depois de ver a dívida do cheque especial crescer de forma descontrolada, o servidor público Carlos Henrique Guilherme, 54 anos, optou pela opção “mais radical”: pediu ao gerente para cortar o limite de crédito. Segundo ele, em 2005 a dívida chegou a R$ 10 mil, após meses de uso do cheque especial. A saída que ele encontrou foi negociar com o banco o pagamento em dez prestações. “Eu renegociei a dívida para sair da bola de neve.”

O servidor conta que, depois disso, para não voltar a precisar do cheque especial, adotou um hábito mais comum em cidades do interior – o conhecido caderninho de compras fiadas no comércio, como no açougue e na padaria, para pagar quando o salário entra na conta, no início de cada mês. “Hoje eu vivo com o que recebo de pagamento. Compro fiado na mercearia, no açougue, tudo perto de casa”, diz.

Fonte: Tribuna da Bahia – Economia
Imagem: Google