Fazer compras causa bem estar por ser fonte de prazer

4 de fevereiro de 2013

O Psicólogo Mino Rios explica que mulheres preferem comprar roupas e sapatos porque, historicamente, sempre deram mais importância a aparência

Juliana estava cansada, estressada com as provas da faculdade, meio de saco cheio com a vida. Foi no shopping, comprou meia dúzia de peças de roupas e o sorriso voltou pro seu rosto. Terapia? Para que terapia, se já inventaram o shopping center? “Agora me sinto super bem, estava faltando aquela peça de roupa na minha vida!”, brincou a estudante, enquanto relaxava com a mãe no ‘pufe-divã’ da loja Farm, do Salvador Shopping.

Fale a verdade. Quantas Julianas você conhece? Você mesma (o) é uma? Pois se está esperando ler aqui um monte de conselhos chatos sobre gastos desnecessários, vai se surpreender (ok, os conselhos vão aparecer, mas vamos deixá-los para o final). A questão central aqui é que os psicólogos atestam: comprar faz mesmo bem para o humor.

“A angústia, nada mais é do que a falta de prazer. E é por isso que a gente procura fontes de prazer quando está angustiado”, explica Mino Rios, professor de Psicologia da Unifacs, especialista em consumo.

“Se você está pra baixo, precisa de alguma coisa que mantenha uma quantidade mínima de bem estar. Se a auto estima está baixa, comprar reforça o sentimento de potência: ‘Eu posso, eu compro’”, completa o especialista, quase parodiando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama (Yes, we can!).


Maria Alice Lucena e a filha Juliana encontraram a felicidade em loja  do Salvador Shopping: a jovem comprou três looks diferentes para sua festa de aniversário

E para quem acha que só as mulheres consomem para ficar felizes, Rios desfaz o mito. “O que existe é uma tendência feminina em alguns segmentos específicos”.

Ele explica que mulheres preferem comprar roupas e sapatos porque, historicamente, sempre deram mais importância a aparência. “Já os homens preferem carros, eletrônicos, ou uma caneta montblanc, que são símbolos de status, poder. É algo que sinaliza para os demais que ele é o líder do bando”.

Roupas  
E as roupas parecem ser mesmo o ponto fraco da estudante Juliana Lucena de Mesquita, do início do texto. Quando ela decidiu comemorar seu aniversário, há cerca de dois meses, foi no shopping e comprou um vestido. Uma semana depois, viu outro na vitrine da Dress To, e não resistiu. Mas assim que dobrou a esquina e entrou na Farm, experimentou um conjunto de saia e blusa que ficariam perfeitos para a ocasião. Comprou também, e foi esse o look que acabou usando na festa.

Quem bancou a gastação foi a mãe, a artista Maria Alice Lucena. Mas ela não tem muita moral para reclamar. “Minha mãe tá demais! Todo dia ela está aqui comprando”, denunciou a filha, enquanto a mãe tentava se justificar. “Hoje eu estava estressada com o engarrafamento, minha filha cheia de prova… comprei um vestido e uma saia, e agora estou mais relaxada”, riu.

E antes que apareçam os críticos de plantão, a vizinha de pufe, Ivana Motta, dispara: “Compro mesmo. Gasto todo o meu dinheiro, porque caixão não tem gaveta e não vou deixar nada para ninguém!”.  Isso  enquanto guardava várias peças numa sacola, acompanhada por uma vendedora com sorriso de orelha a orelha.

“Quando compro, eu fico feliz, fico leve”, completou a promotora de eventos Fernanda da Costa, exibindo as sacolas de compras. Ela conta que só desanima quando chega a fatura do cartão de crédito. “Sempre passo dos limites”.

Problemas  
Mas qual é esse limite? Pois é, prezado leitor. É chegada a hora dos conselhos. O consultor financeiro especialista em finanças pessoais, André Massaro, ensina duas formas de perceber se seu consumismo se tornou um problema. A primeira delas é arrumar seu guarda-roupa.

“Se você descobrir muitas peças que nunca usou e coisas que nem lembrava de ter comprado, é sinal de perigo”.  A outra forma é analisar sua vida financeira. Se anda pendurada (o) em dívidas e a maioria delas é gerada por compras supérfluas (aquelas que você sobreviveria tranquilamente sem elas), está na hora de segurar a onda.

O psicólogo Mino Rios acrescenta: “Se o consumismo começar gerar perdas sociais ou pessoais significativas (um amigo que se afasta, um sentimento de culpa), está na hora de procurar tratamento. Ele chama as vítimas dessa epidemia de “shopaholic” (viciados em compras).

Sem culpa
Saiba calcular quanto você pode gastar nas compras supérfluas

Comprar é bom, relaxa e deixa as pessoas mais felizes. Mas só até certo ponto. O consultor financeiro André Massaro ensina a calcular o quanto você pode torrar nas compras, sem culpa. “Quando receber o salário, guarde 10% dele para uma reserva de emergência e calcule quanto vai gastar para as compras necessárias para sua sobrevivência, aquelas que você não pode deixar de fazer. O que sobrar, está liberado para gastar”.

Numa simulação, uma mulher que recebe R$ 2 mil e gasta R$ 1.500 com as despesas necessárias, tem que guardar R$ 200 e está liberada para gastar os outros R$ 300 no que quiser. Mas se você fez as contas e não sobrou nada, é melhor de mudar de terapia.

Para assistir
Compulsão por compras é tema  de filmes: vale a pena conferir!

Rebecca Bloomwood é uma mulher compulsiva por fazer compras, daquelas que têm mais de dez cartões de crédito e não podem ver uma liquidação. Por ironia do destino, ela acaba sendo contratada para ser consultora financeira de uma revista e, ao começar a dar conselhos às leitoras, acaba aprendendo, ela mesma, a ser mais controlada. Delírios de Consumo de Becky Bloom é uma comédia, e muita gente vai se identificar com a personagem principal!

Outra opção é Amor por Contrato. Sabe aquelas famílias que, de tão perfeitas, parecem que não são reais? Pois na família Jones, os laços não são mesmo verdadeiros. Eles não passam de uma estratégia de marketing de uma empresa para vender produtos. E dá certo, pois toda a vizinhança passa a consumir os produtos usados pelos Jones, como forma de tentar imitar aquela forma perfeita de viver. “É como aquelas mulheres perfeitas que os comerciais criam”, comenta o professor Mino Rios. E cuidado com a auto-estima! “Quanto maior a diferença entre o eu-ideal e o eu-atual, maior é a propensão a gastar”, ensina.

Fonte: Correio* da Bahia