Flexibilidade no trabalho melhora a produtividade

8 de março de 2013

Profissionais que têm a liberdade de gerir a própria jornada de trabalho e cumprir horários mais flexíveis são mais produtivos

Quem não quer conciliar a vida pessoal com a profissional? Trabalhar em uma empresa que possui políticas de horários flexíveis? Enquanto para uns isso é um sonho, para outros já se tornou realidade. É o caso da representante comercial Kelly Cristina de Moraes, que há sete anos trabalha em empresas com registro em carteira e que deram a ela essa flexibilidade laboral. Ela conta que pode fazer o seu horário, desde que cumpra suas atividades e apresente resultados. “Eu faço visitas a clientes e fecho negócios o dia todo. Para mim é mais vantajoso do que ficar dentro da empresa. Faço meu horário de serviço, vou ao banco, ao médico quando preciso, sem prejudicar o serviço”, afirma Kelly.
Segundo a gestora de recursos humanos da Inthegra, Vianei Altafin, esse benefício é uma tendência de mercado e uma maneira de evitar o turnover. “Quando o profissional tem a liberdade de escolher o horário de trabalho, consegue conciliar melhor a vida laboral com a pessoal, planejar suas tarefas, focar nos resultados e ser mais produtivo”, avalia Vianei Altafin.

A representante comercial Kelly Cristina
conta que atinge melhores resultados
quando está fora da empresa, com liberdade de horário

É justamente esse o caso da representante comercial Kelly Cristina, que precisa apresentar números e relatórios diários. “Todos os dias apresento um relatório diário de quantos clientes visitei e em que ‘pé’ está à negociação com cada um deles. Para atuar dessa forma, é preciso ter perfil, responsabilidade e disciplina. No meu caso, consigo apresentar mais resultados para a empresa do que se eu trabalhasse dentro dela”, destaca Kelly Cristina de Moraes.
O advogado Marcus Reis, diretor-presidente da Reis Advogados, explica que são ações positivas, porém que devem ser contabilizadas normalmente pelas empresas. “O que acontece é que a firma deixa de se preocupar com horários de entrada e saída e passa a focar apenas o resultado dos trabalhadores. Isso é bom, mas os gestores precisam atentar se está sendo cumprida uma jornada determinada, conferir o ponto e checar se o profissional não está extrapolando ou deixando de cumprir a rotina de trabalho estipulada pela empresa. Tomar cuidado com esses fatores evitará problemas trabalhistas futuros”, alerta Marcus Reis.
Pesquisa – O caso da representante comercial Kelly Cristina e a opinião da gestora de Recursos Humanos Vianei Altafin ganham respaldo num estudo realizado pela HAYS Recruiting Experts Worldwide, em que ficou constatado que 72,7% das empresas usam o benefício da flexibilidade para possibilitar qualidade de vida e reter talentos. Já 60,3% afirmaram adotar por limitação física, e 19,8% com o objetivo de alcançar metas de sustentabilidade.

“72,7% das empresas usam o benefício da flexibilidade para possibilitar qualidade de vida e reter talentos”

O resultado da pesquisa é o mais curioso. Ela mostra que 69,3% dos entrevistados disseram que os resultados entregues pelos colaboradores que trabalham em casa são similares aos de quem marca presença na empresa.
O estudo também revelou que o segmento que mais adota essa dinâmica é o de serviços (22,9%), depois o de bens de consumo (13,7%), seguidos do farmacêutico (9,7%) e do de Telecomunicações (5,7%).

Marineide Peres, diretora de Talentos Humanos
da Algar Telecom: “Não temos marcação e nem controle de ponto”

Mudança de paradigma

Na visão de Vianei Altafin, essa mudança de paradigma das empresas vem ao encontro dos avanços do mundo globalizado e atende às grandes organizações, geralmente àqueles colaboradores que desempenham funções em cargos mais altos e as empresas que precisam de profissionais em horários diversificados. “Quando o trabalho tende a ser individualizado e só pode ser desenvolvido por aquele profissional, só ele tem a autonomia para fazê-lo, a exemplo dos profissionais liberais, como advogados, para quem o benefício é válido. O importante é entregar serviço de qualidade no prazo combinado”, explica a gestora.
Na Algar Telecom, a flexibilidade de horário faz parte da política do Grupo há 20 anos. Segundo a diretora de Talentos Humanos da Algar Telecom, Marineide da Silva Peres, o benefício depende da cultura, do tipo de negócios e do gestor de cada organização. “Na Algar Telecom esse método tem dado certo porque existe uma relação de confiança e responsabilidade entre os talentos humanos e os líderes da empresa. Não temos marcação e nem controle de ponto”, afirma a diretora.
Segundo ela, os 1.600 colaboradores têm horário flexível e a liberdade de adaptar seus horários, desde que cumpram seus objetivos e estejam prontos para atender nossos clientes a tempo e a hora, com qualidade. “Nossos talentos humanos encaram essa liberdade de horário como benefício e valorizam isso com muita responsabilidade, e é claro, sob supervisão de bons líderes”, completa.

O médico José Junqueira diz que o empregado que faz o próprio horário de trabalho dorme melhor, tem pressão arterial mais equilibrada e menores chances de cansaço emocional e estresse psicológico

Profissionais mais saudáveis

Um bom esquema de trabalho com flexibilidade de horário também influencia positivamente na saúde dos trabalhadores. Segundo o clínico geral do Hospital Santa Genoveva, José Junqueira, quando as pessoas têm o livre arbítrio de escolher o horário para entrar e sair do trabalho, podem dormir melhor e ter níveis de pressão arterial mais equilibrado, diminuindo o cansaço emocional e o estresse psicológico. “Além disso, quando as empresas dão essa liberdade, os empregados se sentem menos obrigados a trabalhar quando estão doentes para não perder o dia”, disse o médico.
“O que as empresas precisam entender é que a pré-disposição de oferecer a flexibilidade de horário não significa que o profissional vai trabalhar pouco. O que acontece é que ele vai aperfeiçoar o horário de trabalho, conciliando-o melhor com a vida pessoal. O emprego não pode ser visto ou sentido pelo profissional como um confinamento, e sim como um local prazeroso, com clima organizacional satisfatório e com líderes que dão mais crédito aos seus colaboradores”, enfatiza Vianei Altafin.
“As empresas querem resultados e produtividade, mas se esquecem de que fatores como uma elevada carga de trabalho, com exigência de curtos prazos de execução, podem desencadear estresse e, consequentemente, outras doenças, como depressão e ansiedade”, conclui o clínico geral José Junqueira.

Por Alitéia Milagre
Disponível em:http://www.revistamercado.com.br