Jovens contam como é empreender na faculdade

14 de março de 2013

Estrutura da instituição ajuda a dar o primeiro passo, mas é preciso aprender a driblar a falta de tempo e de experiência

Yuri, da Safira Digital, virava a noite trabalhando
Yuri, da Safira Digital, virava a noite trabalhando

Um milhão e meio de jovens brasileiros que estão na faixa de 16 a 24 anos já são donos de seus próprios negócios, aponta uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Data Popular. Muitos deles começam a empreender quando ainda estão na faculdade, onde podem contar com a ajuda de incubadoras, empresas juniores e centros de empreendedorismo. Isso ajuda a dar o primeiro impulso, mas depois é preciso aprender a superar obstáculos como a falta de tempo e de experiência, contam os jovens empreendedores.

A Hasaan Engenharia, por exemplo, nasceu dentro da universidade UniCEUB, de Brasília. Ao perceber que um laboratório bem equipado passava a maior parte do tempo ocioso, Vinícius Domingues, 22 anos, e seu sócio, Leonardo Neiva, 25, abriram lá uma empresa de controle de material e de solo para construções civis e estradas. Os professores apoiaram o projeto – tanto que um deles virou sócio da dupla. Durante o ano em que a companhia ficou na incubadora da universidade, os dois se prepararam para bancar a empresa por seis meses.

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Erick (de preto) e José Augusto na sede da Cidade Viva, empresa
que troca boas ações por descontos

Alunos do último ano de administração da Fundação Getulio Vargas, Erick Coser e José Augusto Aragão, ambos com 21 anos, também aproveitaram o conhecimento da faculdade para fundar a empresa Cidade Viva, que troca ações de cidadania por descontos em produtos e serviços. Para eles, os ciclos de palestras, os professores e a empresa júnior foram importantes para formatar a ideia de negócio. “A faculdade ensina a planejar muito bem, mas não ensina o que fazer quando dá errado”, pondera Aragão.

Jornada dupla
Mas a vida de estudante empreendedor não é fácil. Yuri Villas Boas, 24 anos, usou o primeiro salário do estágio para abrir a Safira Digital, uma agência de marketing digital, com o amigo Thiago Soares, 27 anos, em 2008. Ele tinha acabado de começar a graduação em Design Gráfico do Instituto Infnet e, nos primeiros seis meses, fez trabalhos como free-lancer para pagar contas como o aluguel da sala, energia elétrica, telefone, internet e o funcionário da empresa – que algumas vezes era um colega da faculdade.

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Leonardo (esquerda) e Vinícius no laboratório da faculdade,
onde abriram sua empresa

Ele conta que teve de tirar dinheiro do bolso e vivia sem salário. Aos 19 anos, chegou a ter sérios problemas de saúde por conta do trabalho e do estresse. Para entregar projetos aos clientes o mais rápido possível – e receber logo –, Villas Boas virava a noite trabalhando. Por isso, perdeu muito conteúdo da faculdade, que era de manhã.
Para evitar essa montanha-russa nas finanças de sua startup de soluções de gestão em nuvem, a Beta Labs, Felipe Cataldi, 23 anos, e Luan Gabellini, 23, se prepararam bem. A empresa já nasceu com um cliente, e eles continuaram em seus estágios até contarem com quatro ou cinco clientes. Mesmo assim, não foi fácil: durante algum tempo, os dois tiveram trabalho para conciliar o negócio nascente com o estágio, o trabalho de conclusão de curso, as aulas e, claro, as namoradas.

Motivação para empreender
Os jovens empresários contam que a pouca idade e a falta de experiência no mercado afastaram alguns clientes. Um exemplo marcante para Villas Boas foi quando estava quase fechando um projeto com uma empresa de caminhões de mineração. Na hora de assinar o contrato, eles fizeram a fatídica pergunta: “quantos anos você tem?”. “Nunca voltaram a ligar”, diz Villas Boas.

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Sócios da Beta Labs tocaram, ao mesmo tempo, faculdade, TCC,
estágio e uma empresa nova

O que os motiva a enfrentar essas dificuldades? Para Coser, da Cidade Viva, é a crença de que, com sua empresa, ele pode ter um papel relevante na sociedade. “Sempre quis empreender e agregar valor da forma que eu acredito, com os meus valores”, concorda Cataldi, da Beta Labs.

Eles contam que muitos colegas de faculdade os procuram com dúvidas sobre o sonho de abrir o negócio. “Ajudo de coração”, diz Domingues, da Hasaan Engenharia. “Mas de vez em quando bate o desespero por não seguir o caminho de fazer mestrado, doutorado e ter um bom emprego.”

Por Karin Salomão