Eco Construção

29 de abril de 2013

Onde nasce a sustentabilidade? Os primeiros 10 passos na cadeia de suprimentos da construção

seloconstrucaosustentavelO setor da construção é um importante propulsor da economia brasileira. Emprega 3,4 milhões de trabalhadores em todo país e gera grande demanda de insumos e serviços. Ainda movimenta e afeta uma gama de outros setores. É uma indústria com forte poder de compra, com grande chance também de transformar a cadeia de fornecedores pelo seu notável padrão de articulação. Isto se forma através da sua cadeia produtiva, que liga desde fornecedores de matérias-primas, insumos diversos e equipamentos até serviços de consultoria, tecnologia e inovação. Tem, enfim, pela sua grande capilaridade, um campo de atuação e influência revolucionário. Daí a importância de se criar, neste setor tão estratégico para a melhoria da qualidade de vida do país e da sua população, o valor da sustentabilidade.

Quais os passos, então, para os tomadores de decisão, incorporadores e compradores trilharem esta jornada juntos e responsáveis, sabendo que 95% da humanidade que somos todos nós, estaremos morando, trabalhando, locomovendo e vivendo nas cidades até 2050? Alguns deles são estes. Confira.

 

1  – Ética nas Relações

Cumprir o que promete. Manter a palavra como no tempo em que os negócios se firmavam com um aperto de mãos. A estratégia de desenvolver relações saudáveis e de longo prazo com fornecedores poupa tempo, e tempo, como dizia Benjamin Franklin, é dinheiro! Já vimos pelo exemplo da crise econômica do mercado americano, o que acontece quando a confiança é perdida.

 

2 – Compras Sustentáveis

Procurar sempre adquirir produtos com selos ambientais reconhecidos como o FSC (Forest Stewardship Council ou Conselho de Manejo Florestal) para a aquisição de madeira. O FSC é o sistema de certificação florestal de maior credibilidade internacional, e incorpora de forma igualitária os interesses de grupos sociais, ambientais e econômicos.

Já nos perguntamos de onde vem a madeira das portas e rodapés de nossas casas e escritórios? Segundo o World Wind Fund for Nature – WWF, 70% da madeira extraída ilegalmente da Amazônia é consumida no Brasil pela indústria da construção. Liberdade para adquirir produtos corretos também é responsabilidade.

3 –  Comércio Justo

A formalização dos fornecedores é necessária, o paralelo prejudica o justo. O valor de venda deve remunerar o capital investido. É preciso fortalecer quem trabalha de forma correta, isso dá segurança a quem compra e a quem vende. Trabalho desecológico, infantil ou escravo? Está fora de moda.

 

4 – Redução das Emissões

Qual o tamanho da sua conta? Já fez os cálculos? Conhece a sua realidade? Um bom começo é nos conhecermos para nos sabermos. E, então, estabelecermos as metas para a melhora de performance. O que nós não medimos, não temos como controlar. Esse é o princípio da boa gestão.

 

5  – Redução dos Desperdícios

Quem economiza sempre tem. Há coisas que precisamos de-sa-pren-der. Não mais desperdiçar é uma delas.  Basta olhar para os canteiros e veremos desperdícios em todos os lados, e nas inúmeras caçambas que lotam os aterros sanitários das nossas cidades. Isso é dinheiro jogado no lixo. Comece a separar os seus resíduos e terá grande chance de reusá-los e/ou destiná-los adequadamente, reduzindo também os custos ambientais. A cultura do país da fartura tem criado muitas mazelas sociais e ambientais.

 

6 – Durabilidade dos Produtos

Obsolescência programada para os eletrônicos nós podemos compreender. A tecnologia precisa avançar. Mas, para um imóvel, um produto que pode levar de vinte a trinta anos para ser pago, durar apenas cinco ou dez anos, é um crime. A obra não foi entregue e já apresenta degradação estrutural. Muitas notícias nós temos lido a esse respeito. Sustentabilidade é, principalmente, durabilidade. Tanto que os franceses traduzem a nossa construção sustentável como construction/ bâtiment durable. Pensemos nisso quando formos selecionar os materiais de construção.

 

7 – Valorização da Marca

Peguemos a lista das melhores empresas para se trabalhar. Quase todas trazem, em sua estratégia corporativa, ações de responsabilidade social e ambiental. O que, acrescido do “economicamente viável”, forma os três pilares da sustentabilidade. Empresas admiradas ganham vendedores, marqueteiros voluntários e atraem os melhores talentos. Mas não pode ser só marketing. Caso contrário, não é sustentável. A postura tem de ser legítima.

 

8 – Tecnologia para a Redução dos Custos

O prazo de desenvolvimento de um empreendimento leva, em média, de dois a quatro anos. Depois de inaugurado espera-se uma vida útil de quarenta a cinquenta anos. Existem empreendimentos com cinco ou dez anos de existência que ainda são modernos, inteligentes e econômicos. Outros que ainda estão nas mãos dos arquitetos e já são obsoletos.

O maior investimento quando observando o ciclo de vida da edificação, é na operação e manutenção. Assim sendo, as decisões tecnológicas devem ser tomadas na fase de seleção do terreno, e de projeto. Gastemos hoje para não sermos penalizados pelos próximos quarenta anos.

 

9 –  Racionalização e Produtividade

Investimento em treinamento, qualificação da mão de obra e racionalização dos processos têm a marca da sustentabilidade. Empresas que optam pela industrialização, e que treinam constantemente seus funcionários, têm conseguido melhores resultados em termos de produtividade.

É preciso pensar o processo em sua dimensão completa, na perspectiva investimento e retorno. Esse cálculo não será de 100%. Poderá ser de 60% ou 120%, sem garantias tangíveis de curto prazo. Mas trarão consistência e solidez corporativa no médio e longo prazo. A grande rotatividade do setor dificulta, mas não inviabiliza a excelência nos processos.

10 – Fazer o Bem faz Bem

Quando nos tornamos empresários não deixamos de ser gente. Somos executivos, incorporadores em busca da sobrevivência empresarial e também pessoal, de forma que possamos honrar compromissos, salários e novas tecnologias. E ainda permanecer no mercado porque todas as formas de esforço foram colocadas em cena, recursos financeiros, materiais, técnicos, pessoais e emocionais. O coração fica lá pequenino, apertado no peito com as inúmeras interferências do público no privado, com a falta de apoio, de orientação em um país que ainda brilha a desorientação, a desorganização, a falta de seriedade e de meritocracia. A falta de sustentabilidade.

Mas, saibamos, enquanto equilibristas, que a sustentabilidade traz em seu bojo um consolo gostoso para o coração. Ela cria apreço e não penaliza o bolso no médio e no longo prazos. Fazer o bem, enfim, é ser sustentável. E isso nos faz um bem planetário!


Por Cristiane Silveira de Lacerda*

(*) Diretora da EcoConstruct Brazil – www.ecoconstruct.com.br
Professora Coordenadora do MBA Edifícios Sustentáveis: Projeto e Performance da Universidade FUMEC.