Classes C e D precisam aprender a lidar com crédito e evitar endividamento

9 de maio de 2013

classe_media_antigaEm mais um debate do segundo dia do CCMCC, o tema abordado foi “Quem paga melhor? O consumidor das classes A-B ou das classes C-D?”. O mediador do encontro foi o economista-chefe da ACREFI Nicola Tingas. Ele deu início ao debate explanando sobre os novos tipos de perfis de consumidores e como hoje a posição das classes mais baixas ocupam um espaço de destaque no panorama de consumo e economia do País.

O primeiro a demonstrar seu ponto de vista foi Edeni Malta, Diretor de Crédito e Cobrança das Lojas Colombo. Ele fez um apanhado de como a realidade da concessão de crédito mudou ao longo dos anos. Antes, linhas de crédito eram escassas e disponíveis apenas a consumidores de alto poder aquisitivo, o que mantinha os níveis de inadimplência baixos.

Com a oferta desse crédito a classes mais baixas e, principalmente a classe C que ascendeu como nunca nos últimos 10 anos, o pagamento em dia começou a se deteriorar e as taxas de inadimplência cresceram. “As classes A e B realmente são as que menos têm endividamento. O consumidor da classe C tem uma ânsia em adquirir produtos variados, mas não consegue se planejar e, consequentemente, não paga”, diz Malta.

Ele explica que o perfil de pior pagador é o jovem de até 25 anos. “Um em cada quatro jovens que são bancarizados e conseguem linhas de crédito, um não consegue cumprir com os pagamentos”, afirma Malta. Se uma pessoa está com dívidas, há apenas dois motivos que levaram a esse problema: o cliente comprometeu uma parcela de renda maior do que deveria ou emprestou seu nome para terceiros.

O participante Paulo Santos, Diretor de Crédito e Cobrança das Casas Bahia também focou na falta de planejamento de muitos clientes e questionou a avaliação das empresas credoras na hora de conceder o crédito. “O mais indicado é comprometer, no máximo, 20% da renda mensal com pagamento de dívidas. Mas, infelizmente, não podemos saber com quais outras coisas aquela pessoa está comprometida, como gasto mensal com pet shops, por exemplo, que não entra na análise de crédito”, explica Santos.

Ele acredita que a possibilidade de existir o Cadastro Positivo não vá adiantar muita coisa, já que será um sistema vulnerável e que não irá reunir todas as informações necessárias. “A cada dia que passa, aplicamos mais analytics no nosso trabalho e cada informação conta na análise de risco de crédito. Além disso, precisamos de um marco regulatório do governo, que regulamente os bureaus e outros bancos de dados”, diz Santos.

O Diretor de Gestão de Clientes da Net Marco Delgado demonstrou como o crescimento da classe C resultou diretamente no crescimento do setor de TV a cabo e banda larga no Brasil. “A TV a cabo existe desde 1991, ou seja, é um mercado de apenas 22 anos. No início, era um serviço quase exclusivo das classes altas. Hoje, todos querem internet em casa, Telecine, HBO. Nossa base de clientes das classes C e D é de 70%”, explica Delgado.

Educação financeira
Um dos pontos mais discutidos pelos participantes foi sobre a necessidade de incluir a educação financeira como item essencial na vida dos brasileiros. “Essa educação é um grande desafio. Não há uma cultura de avaliar e calcular suas próprias ações com o dinheiro e isso gera a inadimplência” diz Delgado.

Para Guilherme Puppi, Chief Risk Officer da Cyrela, a questão da educação financeira não pode ficar apenas na retórica. “Uma das medidas que tomamos é dar palestras para nossos clientes que pretendem comprar uma residência. Afinal, é um investimento a longo prazo que precisa ser muito bem planejado. Queremos vender imóveis, mas queremos vendas com qualidade”, explica.

O participante Ricardo Olivare, Superintendente de Recuperação de Crédito do Banco Santander acredita que mandar o nome do cliente direto para os órgãos como Serasa e SPC, além de mover ações judiciais, não é a melhor saída para quem está passando por apertos financeiros. “O ideal é sentar e discutir com o cliente, sem pressioná-lo, e oferecer opções de renegociação de produtos”, diz.

Outra perspectiva
O participante Celso Grisi, Diretor Presidente da Fractal Instituto de Pesquisa de Mercado, também falou sobre a inadimplência das classes mais baixas, mas com grande conhecimento das suas causas. “O pobre sabe que a vida é uma só, e muitas vezes pensa que se não for criando dívidas, ele nunca terá aquele bem. E esse comportamento é totalmente normal. A lição que as pessoas aprenderam é que poupar não adianta, pois a inflação não permite”, explica Grisi.

“Se mesmo com o crescimento dos salários, contas básicas como água, luz, educação, moradia e alimentação comprometem uma parte gigantesca da renda mensal, é natural que exista inadimplência”, diz Grisi. Para ele, além da educação financeira, o mais importante é o governo se empenhar em controlar a inflação, para que seja possível para o cidadão comum cumprir com suas obrigações.

Mudando o foco dos outros palestrantes, que basicamente atribuíam o endividamento a inexperiência da nova classe de consumo, Grisi explanou que a inadimplência cresce no mesmo ritmo que cresce a oferta de crédito. “Mas, mesmo com a falta de pagamento que acontece, ninguém quer recuar, pois não queremos perder share. Isso faz com que emprestemos de forma errada” revela.

Fonte: Consumidor Moderno