O uso do cartão para pagar alimentos é desaconselhado pelos economistas
O preço dos alimentos está em alta, só o feijão subiu 9,21% em 30 dias e o brasileiro começa a fazer malabarismo para se manter. Para tentar encaixar todas as contas do mês no orçamento doméstico, um número cada vez maior de brasileiros tem optado por uma estratégia perigosa: parcelar a compra de bens considerados de consumo imediato, como alimentos e combustível. Fatiar a conta na hora de fazer a feira ou encher o tanque do carro pode até aliviar o bolso momentaneamente, mas aumenta, e muito, os riscos de um endividamento fora de controle, alerta o economista, Marivaldo Marconi.
Divulgado este mês, um levantamento nacional feito pela Federação do Comércio do em parceria com o Instituto Ipsos indica o aumento de consumidores apelando para o parcelamento no cartão de crédito nas transações em supermercados. No primeiro trimestre de 2013, esse percentual chegou a 11%, contra 7% nos primeiros três meses do ano passado. Foram consultados mil brasileiros de 70 cidades, incluindo nove regiões metropolitanas.
O maior crescimento dessa modalidade se deu em março, quando foi alcançado o pico de 18%. Embora os índices tenham atingido os patamares mais elevados dos últimos sete anos, o economista acredita que a opção por parcelar os produtos colocados no carrinho é um comportamento temporário, uma vez que os números de abril, ainda não concluídos, mostram recuo, conforme adiantou ele.
A pesquisa não traz a avaliação desse cenário, mas Marconi credita o salto nas compras parceladas que tem a ver com a inflação dos alimentos. “Tudo indica que essa tenha sido a principal influência”, disse. O crescimento moderado do crédito no país e as taxas de inadimplência acomodadas fazem o economista crer que os percentuais, por ora, não preocupam. “É um instrumento que existe e que está sendo usado”, comentou.
Para o educador financeiro Álvaro Modernell, os consumidores precisam “acender a luz amarela com urgência”. “Se até para as compras básicas, como alimentação, está sendo necessário alongar a dívida com parcelamentos, algo está errado”, percebeu. Compras a prazo, orienta, devem ser cogitadas preferencialmente para bens duráveis. “Todo e qualquer consumo imediato teria de ser pago à vista, para evitar o endividamento”, decretou.
Modernell teme o uso indiscriminado do crédito. “O problema é que as pessoas vão parcelando, deixam de se preocupar, e a dívida vai se alongando.” Em época de inflação alta, acrescenta o especialista, a solução não está em necessariamente trocar produtos e marcas. “É preciso readequar as contas como um todo. Se o aperto chegou à alimentação, o endividamento pode ter sido provocado por outras contas.”
Toda vez que o aposentado Leonardo José de Miranda vai ao supermercado, ele se espanta com os preços nas prateleiras. As compras somam cerca de R$ 400, por mês, valor que o aposentado não tem condições de quitar à vista. Para manter o padrão de consumo, acaba parcelando em, pelo menos, duas vezes. “Não tem outro jeito: com os alimentos em alta, o jeito é parcelar”, desabafou ele, que já chegou a pagar 20% a mais da fatura do cartão por conta dos juros.
A universitária Lieci de Souza, não vê escapatória na hora de abastecer o carro. A cada 15 dias ela enche o tanque, algo em torno de R$ 100 e parcela a conta em pelo menos três vezes. “Tem época em que a gente gasta mais, fica apertada e o jeito é dividir mesmo”, justificou. Há meses, no entanto, em que Lieci até tem dinheiro para pagar à vista, mas lembra de outras “prioridades” e, então, prefere utilizar o cartão de crédito.
Fonte: Tribuna da Bahia