Inflação mais baixa é possível

6 de junho de 2013

Discurso do BC começa a recuperar confiança em IPCA mais próximo da meta, dizem economistas

Placa com preço do tomate em feira livre no bairro da Mooca, em São Paulo

Depois da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que resultou em um aumento de 0,50 ponto percentual para a taxa Selic, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que era possível começar a pensar em uma inflação de 5% já em 2014.

Não deveria ser missão impossível, já que o centro da meta traçada é de 4,5%, com uma margem entre 2,5% e 6,5%. Porém, se alcançar o nível de 5%, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) terá seu melhor resultado desde 2009, quando terminou em 4,31%, como mostra a tabela da série histórica do plano Real:

jul-dez/1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003
18,57% 22,41% 9,56% 5,22% 1,65% 8,94% 5,97% 7,67% 12,53% 9,30%
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
7,60% 5,69% 3,14% 4,46% 5,90% 4,31% 5,91% 6,50% 5,84%

 

Apesar do aumento de 5% nos preços estar dentro meta, após uma inflação de 5,84% em 2012 e um índice que já acumula mais de 2% nos primeiros meses de 2013, o mercado projeta números mais altos para o IPCA do ano que vem. Mas com as ações como a tomada na última reunião do Copom, as opiniões começam a concordar com a de Tombini: é possível começar a pensar em uma inflação de 5% em 2014.

Na opinião de Alberto Ramos, do Goldman Sachs, só o aumento recente na taxa Selic não é o suficiente, mas se o BC mantiver esta linha mais comprometida de controlar a inflação, pensar num IPCA de 5% para o ano que vem já começa a fazer sentido. “Esses aumento precisa ser visto como parte de um ciclo. O BC precisa manter um discurso coeso e não se distrair”, disse.

Para Ramos, o importante na comunicação do BC com a escalada dos juros é que agora o banco se afastou do discurso oficial, de que a inflação é fruto de efeitos pontuais, como a alta do preço de alimentos.

Marcelo Kfoury, do Citi Brasil, concorda que a ação foi um bom sinal. “Mostra que o BC está mais atento à inflação e não tão preocupado em fazer o PIB crescer”, diz. Mas também ressalta que outras ações precisam ser tomadas agora.Kfoury lembra de outros dois fatores que estão ainda muito presentes no cenário brasileiro e geram pressão inflacionária: dólar em alta e superávit primário em baixa. “Se há um aumento na política monetária, mas as outras condições ainda estiverem lá, a equação não é tão simples”, pondera.

5%: está bom assim?

Uma inflação em 5% seria a mais baixa em alguns anos, mas ainda está acima do centro da meta traçada. Se a alta de preços neste nível é apropriada para o país, as opiniões se dividem.Marcelo Kfoury, por exemplo, lembra que no início do governo a inflação superava 6%, o que torna os 5% um nível bom para o brasileiro.

Já Alberto Ramos pondera que os principais parceiros comerciais do Brasil tem uma inflação anual girando perto dos 2%, o que torna os 5% do Brasil algo alto.

Fonte: Exame.com – Por Lilian Sobral