O Brasil, como empresa, não funciona e os clientes exigem melhoras

21 de junho de 2013

Uma simples analogia com os protestos

O Blog do Empreendedor do Estadão PME trata, é claro, de empreendedorismo. Mas não há como não deixar registrado o momento histórico pelo qual passa o País. Mas como todos os momentos históricos, há diversas histórias que tratam do mesmo momento. E o momento é de revolta embora se defenda o movimento pacífico.

Parte da revolta de mais de seis milhões de brasileiros é resumida no post da Juliana Motter, que escreve às quartas, neste blog. Ela e outros seis milhões de empreendedores se revoltam com os impostos cobrados no Brasil. Mas, sabiamente, não pede o imposto zero, pois sabe que apesar de imposto, é esta arrecadação que deveria promover os direitos sociais de todo e qualquer brasileiro. Deveria…

Todo governante deveria entender que o imposto deveria ser exposto como um pagamento por um serviço. Este serviço está definido claramente naquilo que deveria ser a missão de uma organização chamada Estado. E esta missão é absolutamente clara: assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos.

Este preâmbulo é tão importante que vem antes do texto da Constituição Federal.

Se esta missão fosse levada a sério, deveria estar estampada nas paredes de cada “loja” do governo que “vende” (vende porque você paga, mesmo de forma imposta, por aquilo) seus serviços governamentais. Imagine, você, cliente do governo, entrando no Congresso Nacional e, em vez de fotos de autoridades, dar de cara com a missão do Estado escrita em letras maiúsculas que todos estão lá, inclusive você, para

ASSEGURAR O EXERCÍCIO DOS DIREITOS SOCIAIS E INDIVIDUAIS, A LIBERDADE, A SEGURANÇA, O BEM-ESTAR, O DESENVOLVIMENTO, A IGUALDADE E A JUSTIÇA COMO VALORES SUPREMOS DE UMA SOCIEDADE FRATERNA, PLURALISTA E SEM PRECONCEITOS.

Será que os deputados ficariam gastando seu tempo discutindo como curar gays? Era só reler a missão…

Quando uma organização tem uma missão, um propósito para existir claro, fica muito mais fácil definir a visão de futuro e a estratégia para atingir este resultado. Uma missão clara permite a definição de objetivos, indicadores e metas. E não é que os objetivos já estão previstos na Constituição?

Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I) Construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II) Garantir o desenvolvimento nacional;
III) Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV) Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Se o objetivo é “construir uma sociedade livre”, quais indicadores poderiam ser utilizados para constatarmos que somos um País livre? Quais seriam as metas para estes indicadores? E dado os valores atuais, quais deveriam ser as ações para que as metas futuras sejam atingidas? Há benchmarks (valores de referência) que demonstrem que estamos melhores, iguais ou piores que outros países, estados ou regiões?

Seria possível apresentar um relatório anual que relembre a estratégia da organização, os resultados obtidos e o plano para o próximo período?

Mas uma boa estratégia só é boa mesmo quando executada. Por isso que organizações são lideradas por executivos. E curiosamente, ser “político” nas melhores organizações é algo depreciativo.  Mas o executivo mais demandando pelo mercado agora não é aquele que apenas executa a estratégia, mas aquele que vislumbra melhores soluções para problemas atuais e futuros, que faz mais com menos, que se motiva pela missão da organização (e não pelos altos salários e bônus) e que entrega além do planejado.

Em resumo, os melhores executivos são empreendedores!

É uma pena que de tudo isso, o Brasil só tinha uma boa declaração de missão. Tinha até duas semanas atrás, quando os clientes desse País passaram a exigir melhores serviços. Só com clientes exigentes teremos melhores empresas, organizações e executivos (menos políticos).

Fonte: Estadão – PME