Fator maternidade: o papel da mãe moderna no mundo corporativo

12 de julho de 2013

fatormaternidade(1)O ser humano possui uma estranha mania de setorizar e “rankear” a vida. Para atingir a tão procurada felicidade, é preciso ser bem sucedido no setor amoroso, familiar, financeiro, e, também, profissional. E, se a busca pelo sucesso na carreira é difícil para os homens, as mulheres tem um fator a mais que pesa na hora de subir a íngreme escalada corporativa: a dupla jornada de trabalho, como mãe e profissional.

Com o crescimento das mulheres em diversas áreas do mercado, inclusive em altos cargos ou como empreendedoras do seu próprio negócio, o mundo corporativo vislumbra uma necessidade de mudança e adaptação de rotinas que antes eram unicamente masculinas. O resultado é a exploração ao máximo da capacidade multitarefa feminina (também chamado de multitask), levando muitas a situações de extremo esgotamento físico e mental.

Portanto, a discussão do papel das mulheres nas grandes corporações e como elas conseguem conciliar trabalho e família é mais do que pontual, e, sim, um reflexo de como são os ambientes corporativos atuais.

Divisão de tarefas

Se antes o pai tinha a obrigação de prover para a família e a mãe cuidava e criava os filhos, atualmente, todos os papéis se mesclam. Na 2ª edição do Women’s Fórum Brazil 2013, que aconteceu nesta última segunda feira (17), Sonia Regina Hess, presidente e CEO da Dudalina, empresa têxtil que tem mais de 80% do corpo de funcionários composto por mulheres, observa que os casais mais jovens dividem as obrigações. “Percebo que muitos casais novos preferem não se casar no papel e ao perguntar se elas [funcionárias] precisam cozinhar quando chegam em casa, a resposta é ‘imagine, quando chegamos já tem comida pronta’”, conta.

Por conta dessa divisão de tarefas, já que mulher e homem trabalham fora, é natural que exista também um comportamento muito mais ativo dos pais na criação dos filhos. “Como o pai se coloca no cotidiano dos filhos é muito importante, principalmente nos primeiros anos. Na experiência que tenho com meus três filhos, posso dizer que, mesmo trabalhando, é possível passar tempo de qualidade com eles”, conta Sylvio Rocha, sócio do CanalAzul e ex-diretor de serviços de custódia do HSBC.

Porém, o papel da mulher é mais significativo, principalmente no primeiro ano de vida da criança, já que ela depende física e psicologicamente da presença da mãe. Por conta de tantas mulheres em sua empresa (mais de 60 estão grávidas atualmente), Sônia conta que possui um sistema próprio para agregar qualidade de vida às mães e não perder talentos. “Temos que tomar conta dessa mulher, que está num período muito particular e precisa de uma atenção diferente. Lá, temos psicólogos, chá de bebê, a grávida tem um ‘anjo’, ou seja, uma mãe que possa guiá-la na primeira gravidez. Isso tudo além dos direitos legais, como licença maternidade”, conta.

Muitas empresas se adaptam a essa nova realidade, principalmente em relação a mulheres com cargos de chefia, que muitas vezes exigem mais tempo de trabalho e viagens. “Já promovemos uma grávida de sete meses e o fato de ela estar esperando um filho não afetou a avaliação que fizemos de sua competência”, conta Ana Luiza Masagão, diretora de marketing do Grand Hyatt São Paulo. Infelizmente, empresas despreparadas ainda têm preconceito e não contratam e nem promovem mulheres grávidas ou que tem potencial para terem filhos em pouco tempo, como recém-casadas jovens.

Licença-maternidade

No Brasil, as mães podem tirar, obrigatoriamente, no mínimo quatro meses de licença maternidade, mas esse período pode ser maior dependendo da categoria profissional. Já os pais tem cinco dias de licença paternidade, “o que não ajuda muito, já que o homem fica meio abobalhado nos primeiros dias”, brinca Sylvio Rocha. Um dos pontos de debate no Women’s Fórum Brazil foi justamente a possível ampliação desse período. “Teria que acontecer uma reforma na própria CLT, que é antiga e não atende as necessidades do mundo atual”, completa Sônia Hess.

Adaptação

Muitas empresas já levam em consideração a situação de mulheres que viraram mães recentemente, com horários flexíveis e creches dentro do trabalho. Podemos observar que mesmo com alguns percalços, boa parte das mães consegue lidar com suas jornadas de trabalho duplas, sem ter que abrir mão da carreira. A tecnologia tem um papel importante também, já que mantém as pessoas mais conectadas, e as mães mais cientes do cotidiano dos filhos.

Porém, como efeito colateral do dia a dia mais corrido, muitas mães se sentem culpadas pelo pouco tempo que passam com os filhos. Durante o debate no Women’s Fórum Brazil, uma mãe da plateia deu um depoimento de como sente remorso por ver os filhos apenas durante a noite, por tão pouco tempo. Ela conta que teme por quais lembranças as crianças terão de sua infância. Do outro lado do salão, uma francesa que mora no Brasil rebateu dizendo que na França as crianças também estudam o dia todo e que memórias que ela tem com seus pais não poderiam ser melhores.

Isso demonstra que, atualmente, o maior desafio para as mães é não se deixarem influenciar pela linha de criação que tiveram, e entenderem que, mesmo com menos tempo disponível para os filhos, é possível para pais e mães conciliarem o cotidiano e aproveitarem um tempo de qualidade com eles, sem sistemas de recompensas nem remorso.

 

Fonte: http://consumidormoderno.uol.com.br