Nessa ciranda de preços produtos da cesta básica como feijão, arroz e farinha aumentaram de preços de forma espantosa
Numa rápida ida ao supermercado é possível ver o quanto a inflação está afetando o bolso do trabalhador. Produtos que até 2008 estavam na casa dos centavos hoje são comercializados acima de R$ 2. Nessa ciranda de preços produtos da cesta básica como feijão, arroz e farinha aumentaram de preços de forma espantosa: o arroz custa em média R$ 2,79, o quilo; o feijão, que sofreu com as intempéries climáticas, não custa menos que R$ 5,79 e a farinha de mandioca pode ser encontrada a até R$ 7,20 o quilo. Carne e leite nem se fala – a primeira é encontrada a R$ 14,99 o quilo e o litro do leite a R$ 2,59. Toda essa situação se mostra bastante delicada, sobretudo quando atrelada aos efeitos da inflação que parece ter dado mostras nos últimos anos de que não é um mal totalmente vencido no Brasil.
Segundo o economista Isaias Matos, a inflação corrói o poder de compra da classe mais baixa. “A luta do governo está centrada em manter a inflação no limite, entretanto o governo não tem gerência nos preços dos alimentos que sofrem com as intempéries climáticas ou mudanças de mercado. A luta do governo para conter a inflação está mais acirrada nos últimos dois anos”, avalia. Ele diz que não se imagina uma economia sólida num processo inflacionário. “A inflação é a principal preocupação do governo. Os produtos que estão no mercado acabam chegando mais caros. Acompanhando a pesquisa do Dieese sobre cesta básica verificamos que apenas neste ano a cesta subiu 14,36%, ou seja, o trabalhador tem 41% do salario mínimo que recebe comprometido com a cesta. Das 220 horas trabalhadas 84 horas vão para a compra da cesta. Trata-se de um momento delicado”, avisa.
Ele sinaliza algumas medidas que vem sendo adotadas pelo governo no intuito de conter o processo inflacionário. “O aumento da taxa de juros é um exemplo, e ao adotar isso, se diminui o consumo e o investimento, uma vez que tomar dinheiro emprestado fica mais caro. Identifica-se também que o governo acionou o sinal amarelo. O problema com o câmbio veio reforçar isso. A dívida externa brasileira é de US$ 314 bilhões e o país tem reservas de US$ 370 bilhões que irá utilizar para tentar conter a alta do dólar. Mas o principal problema diz respeito a dívida interna estimada em R$ 2 trilhões num nível de desemprego de 4,5% “, esclarece.
Desafio para o governo
Matos ainda faz menção a questões decisivas que não podem ser mais adiadas sobre o custo de comprometer ainda mais a economia nacional. “É necessário além de conter a inflação promover uma reforma. O crescimento pífio da economia na faixa dos 2% mostra isso. O governo tem um grande desafio neste ano de promover as mudanças. A alta do dólar só é interessante ao setor exportador. O que verificamos é a insegurança do país no mercado externo. Isso explica a fuga de dólares”, avalia. Contudo ele ressalta que os países emergentes viveram uma depreciação de suas economias.
“O grande efeito do plano real foi aumentar o poder de compra com controle inflacionário. Acredito que neste ano a inflação esteja na meta de 6,5%, mas os desafios do governo não se encerram. É preciso promover mudanças. O Natal deste ano terá produtos importados mais caros e isso se revelará nas compras quando os brasileiros optarão mais pelos produtos nacionais”, diz e acrescenta: “O momento é de grande preocupação. Compete ao governo acertar as coisas. Promover reforma tributária, previdenciária, trabalhista e econômica e isso é urgente”, analisa.
Fonte: Tribuna da Bahia