Quantas vezes você já ouviu falar em valorização, reconhecimento pelo que faz, metas atingidas, trabalhos impecáveis, capacidade em assumir riscos com êxito, liderar e tantos outras formas de reconhecimento que constantemente temos visto e, algumas vezes, propriamente vivido? Da mesma forma, temos um lado menos elegante, glamouroso ou nobre que é o fato de nos depararmos com situações pessoais e profissionais de falta de tempo para usarmos as nossas “curvas” para reconhecermos o quão somos capazes em produzir grandes feitos, criar, melhorar ou, simplesmente, ousar.
Uma recente pesquisa realizada pela LeadPix com 4.270 pessoas apontou que, no ambiente de trabalho, os profissionais têm a motivação baseada na experiência aprendida (36%), seguido por atividades que executa (33%), novas oportunidades (26%), remuneração (16%), equipe (8%) ou colegas (8%), seu líder (4%) e espaço físico (2%).
As experiências aprendidas constituem o elemento motivador para os jovens de até 29 anos de idade (45%), bem como para os indivíduos acima de 70 anos (45%). A equipe é fonte de motivação apenas para faixa etária até 29 anos (12%), chegando a 3% na faixa etária acima de 70 anos. As atividades executadas no trabalho representam fonte de motivação para estudantes de todos os níveis, aumentando de acordo com o nível de escolaridade. Para quem está cursando faculdade ou uma pós-graduação, as novas oportunidades são os principais elementos de motivação no trabalho (29% e 28%, respectivamente).
Esses dados apontam que existe uma opinião clara sobre o interesse em viver experiências novas, crescer, aprender e fazer a diferença. Talvez os 4% do líder representem a forma pouco atraente como os profissionais estão enxergando a construção de um caminho com possibilidades de sucesso maior.
Ao longo da minha carreira em empresas de diferentes portes, capacidade de inovação e empreendedorismo, em conversas com pessoas próximas e outras nem tanto, percebi que há um núcleo de profissionais condicionados ao exercício mecânico das atividades e um prazer em fazer e refazer o beabá, o óbvio pelo simples fato de ocupar o dia e contar os minutos para que os “ponteiros” do relógio denunciem o fim do expediente. Ora, isso na minha opinião perde totalmente o efeito da valorização das “curvas”. Há também o núcleo de pessoas que são regidas por um modelo de gestão baseado na pressão e no medo.
Isso para mim é autodefesa do gestor, da empresa e, em certos casos, da própria pessoa que imagina que é muito normal tal modelo. Existe também o núcleo de pessoas que vivem o dia a dia do trabalho à moda “Zeca Pagodinho”, com todo respeito ao ilustre e consagrado artista – Deixa a vida me levar. Isso mesmo, vou fazendo o que posso fazer, à sorte do tempo e dos acontecimentos.
Agora, há também o núcleo de pessoas que têm uma vontade enorme de fazer acontecer, usar e valorizar as “curvas”. São empreendedoras, aquelas que empreendem conhecimento, esforços em busca de novos recursos e uma vontade incontrolável de fazer a diferença, fazer que realmente valha a pena e faça sentido. Essas pessoas não precisam de outdoor na avenida principal da vida para serem reconhecidas e ovacionadas. Essas pessoas já descobriram o quão interessante é um frio na barriga.
Certo dia encontrei com um consultor empresarial e passamos horas conversando entre um café e outro. A conversa se iniciou com o discorrer das trajetórias profissionais, crises econômicas, objetivos das manifestações e a maior parte do tempo foi sobre a forma como os profissionais estão vislumbrando as oportunidades atualmente, como enxergam a relação empregado-empregador e como isso pode mudar nos próximos anos. Claro que nesses assuntos não existem verdades absolutas, mas em um determinado momento da conversa, ele fez uma analogia ao mencionar que os profissionais da nova geração com capacidade de empreender, inovar, ousar com um frio na barriga e valorizar as próprias “curvas” vão abandonar o desejo pelo “Passaporte CLT”. Isso mesmo, esse passaporte que ele se referiu com certa ironia e algumas risadas, analogamente ele mencionou o fato de seguir os mesmos processos de documentação necessária para retirá-lo, foto padrão, carimbos a cada no empresa-viagem que o profissional faz o check-in e por aí vai.
Não vão abandonar na maioria, mas, numa quantidade maior do que existe atualmente; não simplesmente pelo fato de que vai ser assim e pronto. Vão abandonar, pois o mundo está e estará permitindo e estimulando cada vez mais às pessoas que empreendam suas ideias por meio de milhares de canais e formatos de interação. Está mais do que na hora de valorizar as nossas “curvas”, antes que derrapemos na mesmice e num futuro pouco interessante.
Obs: Curvas usadas neste texto são referentes às curvas do cérebro.
Fonte: Mundo do Marketing