Com um pouco de criatividade e inovação, até aquilo que já está ultrapassado pode dar boas ideias
No atual momento de grande agitação na economia, em especial na área tecnológica, abrem-se novas oportunidades de grandes negócios, cada dia mais viáveis. Entre os mais de 37 projetos possíveis, escolhi sete, número cabalístico, como gostam nossos leitores, para uma conversa íntima com cada um. Tento colaborar da melhor maneira possível com o crescimento dessa praga gramatical que assola a nossa linguagem cotidiana, as chamadas “criatividade e inovação”. A eles:
1. Criar uma franquia chamada “Thrash Tech”. Todos conhecem o Thrash Metal e o sucesso que faz. Imagine um espaço comercial com grande oferta de produtos que um dia foram grande sucesso e arrastaram filas às portas das lojas. Telefones BlackBerry, Nokia e Motorola, tablets da Microsoft, PCs de todas as marcas, mouses, teclados, telas de fósforo verde, Macs 1, 2, 3 e 4, todos na caixa, com garantia de uso. Seria uma espécie de moda vintage de aparelhos eletrônicos que há menos de dez anos eram chamados de… “inovação”. Não tenho dúvida de que essas lojas entrariam rapidamente no gosto de um público cada vez mais enfastiado com a ideia de trocar seu smartphone a cada seis meses.
2. Na mesma linha, criar uma franquia de lojas – veja bem, estou falando de lojas físicas, com porta, janela e campainha, nada de sites – que poderia se chamar também de Thrash Net. Nesses locais, que serviriam como uma espécie de lan house do passado, você teria contato com sites, blogs, redes sociais e chats que já não existem ou quase não existem. Uma espécie de mundo virtual retrô, facilmente recriável por uma dupla de bons analistas. Aí você poderia de novo pendurar um site no Geocities, ganhar fortunas no Second Life, procurar seu site favorito no Cadê, comprar CDs no CDNow, recuperar seus amigos no Orkut e, com alguma sorte, voltar a usar o Netscape e o Altavista. Imagine o prazer de fazer uma pergunta e receber apenas umas poucas centenas de respostas, e não milhões, como recebemos hoje.
3. Criar ainda mais uma franquia de lojas, que poderíamos chamar de Lek Lek, aproveitando a popularidade do termo. Eis o resumo do negócio: um local onde o único produto comercializado seriam máquinas de escrever. Os serviços seriam os seguintes: a) uma bancada de máquinas em que você poderia se sentar pelo tempo que quisesse para escrever cartas, segredos de estado, declarações de amor, segredos da Petrobras que nem a Petrobras sabe que tem, recomendações ultrassigilosas para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, que recentemente disse ter voltado a usar máquinas de escrever; b) aluguel de máquinas de escrever por tempo determinado, para uso pessoal dos consumidores; c) Venda de máquinas raras a colecionadores de todo o mundo, que encheriam suas paredes de modelos sofisticados de Remingtons e Olivettis, compradas a peso de ouro; d) para não perder o hábito da privacidade invadida ou do desejo de exposição pública permanente, você poderia optar por mandar para o presidente Obama, por fax, uma cópia de tudo que escreveu. O nome do empreendimento, Lek Lek, lembra o barulhinho sensual das teclas imprimindo num papel um borrão de tinta preta de cada vez. Lelek, lek, lek…
4. A criação, nos shopping centers, de novas áreas de lazer para crianças, sem a chatice dos velhos carrinhos e suas rampas, das bonecas desdentadas e dos miniescorregas. Nada de cores e baboseiras mirins, apenas bancadas de laptops ou tablets, já devidamente programados para facilitar a criação de aplicativos. Não há dia em que não se veja nas folhas eletrônicas um pai orgulhoso que garante que seu filho de 10 anos acaba de criar um app. Desenvolver aplicativos parece hoje o principal lazer das crianças modernas. O negócio poderia se chamar AppsByKids e, cada vez que um moleque chegasse a um resultado, sinos tocariam dentro da loja, pais seriam convocados para pequenas declarações e fotos, que em seguida estariam nas redes sociais. Todo ano haveria um concurso entre todas as lojas desse tipo para escolher a AppsByKids do ano.
5. Se você observar com cuidado o que vem acontecendo no mercado mundial de tecnologia, verá um monstro come-come reduzindo todos os grandes nomes a um só futuro: produtores de linguagens para celulares e produtores de celulares. A Microsoft comprou a Nokia e entrou no mercado, a Apple já está nele até o pescoço, a BlackBerry, depois de um prejuízo de mais de R$ 1 bilhão, será comprada por alguém, quem sabe o Yahoo ou a Amazon. Não há mais empresas de tecnologia, há empresas de telefonia. O Windows há muito tempo não é mais o maior sistema operacional do mundo, título ostentado hoje pelo Android. O Google já tem seu Google Phone, e o Facebook já está secando a tinta do seu. Aí vai a sugestão: criar negócios que tenham como core business as orelhas humanas. Por exemplo, o implante de um imã invisível no lóbulo inferior para manter o aparelho ajustado à orelha sem o uso das mãos. Pequenos ganchos a serem implantados nas orelhas também servem. Chips que aumentem a potência de recepção dos tímpanos, e por aí vai: trata-se de uma área de negócios de futuro brilhante.
6. Criar uma rede escolar baseada inteiramente num novo conceito de comunicação entre professores e alunos. Na sala de aula, uma cabine envidraçada com um sistema de conexões com múltiplos celulares. Na entrada, cada aluno recebe um smartphone e senta em sua cadeira. A professora inicia a aula, dentro da cabine, com uma chamada de celular para os alunos. Todos atendem e passam a um estágio de interação que nenhum Piaget ou Montessori poderia imaginar. Com o aparelho grudado no rosto, prazer inenarrável do século 21, o aproveitamento escolar seria excepcional.
7. Comprar um jornal impresso de prestígio em sua cidade, pequeno ou grande, mas já em acentuada dificuldade. Se a Amazon fez isso, e seu CEO Jeff Bezos garante que é um grande negócio, mãos à obra. Quem sabe o Bezos não passa por aqui qualquer dia e faz um lance pelo seu novo negócio. Aí tem coisa, abra o olho.
Sobre os outros 30 negócios já listados em meu poder, em papel sulfite, com uma cópia carbonada apenas, é fácil ter notícias. Basta mandar um e-mail ou, se quiserem ser absolutamente chiques e modernos, cartas e telegramas para a redação desta vibrante revista diária de variedades para o conhecimento.
Fonte: Pequenas Empresas e Grandes Negócios