Como e por que sites de promoções-relâmpago conquistaram as consumidoras

9 de dezembro de 2013

Todas as manhãs, o instinto consumista da advogada Flávia Rodrigues, 34, é atiçado quando ela acessa a caixa de e-mail. Catálogos avisam sobre promoções-relâmpago de marcas renomadas –aquelas de que Flávia desvia no shopping, repelida pelas cifras na vitrine.

“Não gosto de pagar caro, prefiro esperar por uma boa aquisição”, diz ela, que já levou para casa almofadas, vasos e até peças da Versace Home em campanhas do outlet on-line Westwing.

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“Melhor ainda se eu não pegar trânsito e fila.” Essa comodidade, aliada a preços sedutores, fez com que os clubes de compras arrebanhassem milhões de membros nos últimos anos.

As “flash sales” nasceram com a estratégia de oferecer, por tempo limitado, descontos de até 90% em peças de grifes. Em geral, as promoções duram de quatro a sete dias, justamente para pressionar a tomada de decisão do cliente.

“Resolvemos um problema histórico para as empresas de moda: a sobra de estoque”, afirma Andrea Scarano, diretor de marketing da Privalia, fundada na Espanha em 2006. “Por outro lado, damos ótimas oportunidades para os consumidores.”

Roupas, bolsas e calçados à venda no site pertencem a coleções passadas, já em liquidação nas lojas físicas das marcas. Entre elas, Le Lis Blanc, Schutz, Animale, Carmen Steffens. Não à toa, o perfil dos membros é majoritariamente feminino, com idades entre 20 e 40 anos.

A estudante Camila Cunha, 25, pagou R$ 90 por um sapato que custava R$ 200. Esperou um mês para tê-lo em casa. Isso porque, nesse modelo de negócio, o site só faz o pedido do que foi vendido quando acaba a campanha.

O fornecedor envia os produtos para o armazém desse intermediário e só então eles são encaminhados para o cliente final. “Vale a pena se você não tiver urgência. Não espere usar numa festa na semana seguinte”, diz Camila, um dos seis milhões de membros da Privalia no Brasil.

Para ter acesso às ofertas é preciso se cadastrar nos sites, gratuitamente. A exigência se explica: eles querem um canal de relacionamento diário com o consumidor.

“O site muda muito, são em média sete novas campanhas por dia e queremos avisá-los”, afirma Antony Martins, CEO da Westwing, que faz curadoria de produtos de decoração e terá entregas mais velozes nesta época de compra de presentes.

A insistência parece eficaz –entre 2011 e 2012, a empresa apontou um crescimento de 200% no volume de vendas. “Há um potencial de mercado porque muitos não conhecem esses clubes e o universo de pessoas sensíveis a preço é enorme”, diz Felipe Wasserman, professor de comportamento do consumidor digital da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Muitos são sensíveis à exclusividade também. O site Coquelux negocia com marcas do calibre de Moët & Chandon lançamentos que ainda nem chegaram ao mercado. Ou nunca chegarão. “Fizemos uma campanha com o acervo de um estilista. Eram peças únicas de passarela que não estariam à venda em lugar nenhum”, afirma Pierre Jofre, diretor-geral da Coquelux.

Eles se consideram um clube de oportunidades em “lifestyle”, com produtos de moda, beleza, decoração, gastronomia e tecnologia. Existe até um grupo com os 4.000 clientes mais “generosos”, que recebe uma vitrine VIP.

Fonte: Folha de S. Paulo