Juros do cheque especial podem passar de R$ 23 mil em um ano

3 de fevereiro de 2014

Quem vive pendurado, com o saldo negativo, paga até 234% de taxa em 12 meses
Hélio diz que usa o cheque especial algumas vezes no anoO funcionário público aposentado Hélio da Conceição, de 75 anos, admite que usa, algumas vezes por ano, o crédito do cheque especial, que tem juros anuais de até 234%.

— Não costumo fazer contas. Já tentei controlar o orçamento, mas não consegui. Acabo empurrando a dívida com a barriga — contou.

Hélio faz parte de um imenso contingente de brasileiros que não sabe exatamente o quanto gasta. Segundo uma pesquisa divulgada, na semana passada, pelo SPC Brasil, oito em cada dez pessoas não controlam suas despesas. Uma das consequências da falta de hábito de pôr o orçamento na ponta do lápis é o uso indiscriminado do cheque especial. Para mostrar o tamanho dessa bola de neve, cálculos feitos pelo professor de Contabilidade Reginaldo Gonçalves mostram que um correntista que iniciou 2014 com um saldo negativo de R$ 10 mil pode chegar a pagar mais de R$ 23 mil apenas de juros, até o fim deste ano. Assim, somando-se o valor inicial da dívida com os excedentes, o valor total a pagar ultrapassa R$ 33 mil.

Segundo o SPC Brasil, mais de 30% dos brasileiros com contas em bancos entraram no vermelho mais de duas vezes nos últimos 12 meses. Para ver o impacto disso, veja a tabela abaixo, com simulações de dívidas de R$ 500 a R$ 10 mil.

— Segundo dados do Banco Central, o total de empréstimos de cheque especial para pessoas físicas alcançou R$ 20,2 bilhões, em dezembro do ano passado, o maior valor da história — explica a economista Luiza Rodrigues, do SPC Brasil, destacando que o número representa um crescimento de 10,2%, em relação ao mesmo mês de 2012.

Especialistas dizem, no entanto, que o cheque especial pode ser útil em casos de emergência.

— Essa modalidade somente deve ser usada para quem sabe como fazer. Uma pessoa que não tem controle queima rapidamente os recursos e começa a se endividar — afirma Reginaldo Gonçalves, coordenador do curso de Ciências Contábeis da Faculdade Santa Marcelina (FASM).

Segundo o SPC Brasil, apesar de muita gente recorrer ao cheque especial, essa modalidade de empréstimo representa apenas 1,6% do estoque de créditos destinados a pessoas físicas.

O QUE FAZER PARA ENTRAR NO AZUL

Faça uma lista

Segundo a economista Luiza Rodrigues, do SPC Brasil, a primeira coisa que um consumidor endividado deve fazer é uma lista detalhada de todas as dívidas. Depois de saber exatamente quanto deve, o cliente deve trocar todos os débitos por um só, com taxas menores.

Juros menores

A equipe do site “Minhas economias” (www.minhaseconomias.com.br) aconselha as pessoas que estão usando o limite do cheque especial a pesquisar outras modalidades de empréstimo, com taxas de juros mais baixas. O crédito consignado é um dos mais interessantes, por oferecer as menores taxas de juros do mercado. Quem não tiver acesso a essa modalidade de empréstimo deve procurar o banco para renegociar a dívida com juros mais baixos do que os do cheque especial.

Dinheiro extra

Os especialistas também dizem que vender coisas (um veículo, por exemplo) é uma boa forma de obter dinheiro para quitar a dívida ou, pelo menos, reduzir o valor total. A venda do carro ajuda, ainda, a diminuir outras despesas, como gasolina, IPVA e seguro.

Sem compras

Durante o período em que estiver pagando a dívida, o devedor deve evitar qualquer compra que não seja de fato necessária. Isso o ajudará a reequilibrar o orçamento.

Portabilidade

Além de tentar renegociar os juros da dívida com o banco, pedindo taxas menores, o consumidor pode pedir a portabilidade bancária, ou seja, a transferência da sua dívida para outro banco, que cobrem juros mais baixos.

Fonte: Extra