Comércio varejista deve racionalizar os custos

17 de fevereiro de 2014

Com menor taxa de crescimento no segmento da última década, pequenas e médias empresas têm de se encontrar maneiras de reduzir impacto ruim…

Comércio varejista deve racionalizar os custos

Reduzir custos e equacionar estoques são duas linhas a serem analisadas pelo comércio varejista ao longo deste ano, especialmente entre as redes de menor porte – geralmente mais sensíveis a uma economia oscilante. Como as vendas do comércio varejista brasileiro cresceram 4,3% em 2013, ante a alta de 8,4% no ano anterior, e o setor contabilizou o menor ritmo da última década, conforme pesquisa do IBGE, especialistas sinalizam como agir nos possíveis cenários para 2014. Por certo, racionalizar custos e estoques para evitar perda de liquidez é a dica mais valiosa.

De acordo com o presidente do Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo), o professor Claudio Felisoni de Angelo, nem o calendário deste ano tende a mudar a perspectiva de que o varejista deve adotar certo nível de cautela. “A Copa do Mundo e as eleições são eventos pontuais, que podem até mitigar questões que atrapalham o aumento do consumo por algum período, mas são eventos que têm efeitos em uma cadeia relativamente definida, como a de restaurantes, hotéis e alguns serviços”, explicou.

Para o professor, caso este ano haja aceleração da inflação e manutenção de altas taxas de juros, cenário que pode impactar o consumo de maneira menos positiva e, por isso, será preciso atenção. É importante a racionalização dos custos no momento em que os juros sobem. Racionalizar estoques e definir o que é preciso no próprio sortimento pode evitar a paralisação de produtos.

Apesar do sinal amarelo quando é analisado o ritmo de crescimento menor em 2013, o coordenador dos programas de MBA Executivo e Finanças do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), Silvio Laban, aponta que o crescimento de 4,3% deve ser comemorado, pois “houve crescimento e não estagnação do mercado.” Para o especialista, a desaceleração ocorreu por conta de incertezas com o futuro. As manifestações ocorridas no meio do ano, a taxa de juros, o câmbio e a inflação alarmaram as pessoas. “Todos esses pontos fizeram com que o consumidor se tornasse mais receoso na hora da compra, e por consequência deixou os empresários de pequeno e médio porte menos otimistas”. O pouco otimismo, segundo Laban, foi identificado pela pesquisa do Insper – Índice de Confiança do Empresário de Pequenos e Médios Negócios no Brasil (IC-PMN). O indicador, referente ao 1º trimestre deste ano, registrou queda de 0,9 ponto em relação ao quarto trimestre de 2013, de 70,1 pontos para 69,2 pontos. “Existia uma expectativa alta para o ano (2013). Com o passar dos meses, o cenário macroeconômico piorando, isso acabou revertido em crescimento menor.”

Para este ano, o coordenador do Insper afirma que o cenário ainda é de incerteza, mas o varejo sabe lidar com essa situação. “O varejo é craque em trabalhar na adversidade. Ele já passou por planos econômicos novos, inflação descontrolada e falta de consumo. O que eles devem se preocupar agora é com a mudança do hábito do consumidor”. Laban refere-se a possível migração de categorias na cesta de compra dos brasileiros, assim como a freada nos gastos com serviços. “Ele, ao invés de ir ao salão cortar o cabelo a cada dois meses, pode fazer isso com um intervalo maior, fazendo com que esse nicho sinta o reflexo de incerteza da economia brasileira.”

Na opinião do professor de economia do Ibmec de Minas Gerais, Reginaldo Nogueira, o principal fator de impacto no crescimento menor em 2013 foi a demanda estar bem acima da oferta. “Tivemos um déficit comercial muito grande. A indústria não deu conta do volume e fez com que o governo tivesse que procurar a solução no mercado externo”, explicou. Para Nogueira, frear o consumo – por meio de menor concessão de crédito – já tem sido medida empregada pelo Banco Central para equilibrar o consumo. “Ao restringir o crédito, o governo faz com que haja um equilíbrio entre oferta e demanda”, argumentou.

A inflação é o grande fator que interferiu no crescimento menor do varejo ano passado, apontou o professor da FGV/EAESP (Escola de Administração de Empresa de São Paulo), Nicolau Miguel. “O pequeno e médio [empresário] hoje está mais próximo das classes sociais que cresceram mais (C e D). Elas também são as mais afetadas pela alta da inflação e a consequência primária é a redução do poder de consumo”.

Em um tom mais otimista, o economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes aponta que há perspectiva para 2014 de uma retomada do crescimento. “A previsão é de o setor alcançar um incremento, este ano, de 5,9%, em reflexo à continuidade da recuperação do varejo brasileiro no segundo semestre passado. Para que isso ocorra, é preciso que o mercado de trabalho esteja bem, com ganho real de renda. O crédito ao consumidor não pode ficar tão alto e não podemos ter mais surpresas com relação ao câmbio”, finalizou.

Fonte: DCI – Comércio