Segundo dados da CNDL e do SPC, um em cada quatro brasileiros tem ao menos uma conta em atraso
Um em cada quatro brasileiros está com pelo menos uma conta em atraso nos últimos cinco anos. Em números absolutos, 52 milhões de consumidores estão inadimplentes no Brasil, segundo estimativa divulgada ontem pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas(CNDL).
As duas instituições começaram a calcular uma projeção mensal do número de pessoas físicas com dívidas em atraso.A estimativa parte do banco de dados do bureau, mas não é restrita a ele.
As instituições consultaram uma amostra de 600 CPFs em outros serviços de proteção ao crédito para descartar contagem dupla. O número final é aplicado sobre o número de adultos na população brasileira neste ano, segundo projeção do IBGE. Além disso, a estimativa usa um fator redutor para retirar da projeção as pessoas que já faleceram, com base na expectativa de mortalidade e nas informações do DataSUS.
“É um número assustador para quem vê pela 1.ª vez, mas o avanço não tem sido grande ao longo dos últimos cinco anos”, afirmou Luiza Rodrigues, economista do SPC Brasil.
Para o presidente da CNDL, Roque Pellizzaro Junior, há um efeito sazonal. A inadimplência normalmente aumenta no início do ano, principalmente no mês em que pesam as despesas escolares-em2014, foi em fevereiro. Os atrasos também são comuns depois do período de compras não planejadas no Natal e de liquidações de janeiro, tradicional período de reaquecimento do comércio. Além disso, pesam os impostos típicos de início do ano, como IPTU e IPVA.
Atrasos. Pellizzaro, porém, não vislumbra uma queda conjuntural da inadimplência ao longo do ano,apenas um arrefecimento. “Não vejo nenhum fato que posso vir a gerar folga no orçamento das famílias”, afirma. Pelo contrário, ele aponta fatores no sentido contrário,de favorecimento dos atrasos: inflação alta, juros maiores, menor crescimento da renda e nível baixo de empregabilidade.
O número de pessoas físicas inadimplentes na base de registros do SPC aumentou 5,54% em fevereiro na comparação com o mesmo mês de 2013. A alta foi maior do que a verificada no segundo mês do ano passado na comparação com fevereiro de 2012. Na comparação com janeiro, o crescimento foi de 1,95%, o mais elevado desde fevereiro de 2010, início da série histórica. Nesse caso, o SPC considera no cálculo o registro de dívidas, independentemente do número de parcelas. De acordo com o tempo, o maior aumento foi verificado nos atrasos de até 90 dias – subiram 14,27% em fevereiro. O comportamento revela um “desarranjo orçamentário” típico de início do ano, segundo Pellizzaro, que tende a se resolver no de correr dos meses.
As duas instituições divulgaram ontem também pela primeira vez que o consumidor inadimplente tinha, em média, em fevereiro, 2,044 dívidas em atrasos, o menor resultado registrado desde o início da série histórica, em janeiro de 2010. A aparente contradição é explicada pela economista pelo fato de que o número de inadimplentes está crescendo em ritmo maior que o número de dívidas.
“É provável que o aumento das inclusões de CPFs nas bases restritivas do SPC Brasil e a ampliação das consultas a essas bases tenham levado, principalmente nos últimos seis meses, à menor concessão de crédito a pessoas que já tinham restrição”, explica Luiza. Houve, segundo Pellizzaro, um aumento de 20% no último ano no número de clientes que consultam os dados do SPC Brasil. Mas eles não divulgam quantos clientes possuem.
Fonte: O Estado de S. Paulo