Sair de casa, separar, empreender: a banalização das decisões financeiras

30 de abril de 2014

financeiroobj

Sair da casa dos pais, separar, mudar de emprego… A maioria das dificuldades financeiras que surgem nesses momentos de vida está relacionada ao gozo do tempo presente como prioridade. As pessoas não se questionam sobre o estilo de vida possível. Desejam encaminhar o seu futuro bem próximo com muito prazer. Os desafios de uma vida financeira equilibrada de longa duração são ignorados ou negligenciados.

Nós, planejadores financeiros, colecionamos bons e maus momentos da relação dos nossos clientes e amigos com o dinheiro. E o dinheiro permeia as decisões de vida, por mais que exista resistência a essa ideia ou certo pudor cultural brasileiro.

Como observadores mais críticos, os planejadores financeiros, quando procurados, irão diagnosticar desequilíbrios, apontar as vulnerabilidades presentes e futuras e, por fim, sugerir às pessoas opções para uma jornada financeira saudável. A depender da gravidade dos desequilíbrios, correções de rota serão necessárias num curto espaço de tempo para evitar maior comprometimento do futuro financeiro.

Sair da casa dos pais

Solteiros ou jovens casais podem se precipitar na presunção da independência financeira dos pais e iniciar um crônico processo de endividamento. A possibilidade será maior se esses adultos foram crianças inconscientes do padrão financeiro da família.

Como a renda na nova vida passa a ser revertida para o pagamento de prestações (de empréstimo pessoal, financiamento imobiliário ou refinanciamento da fatura de cartão de crédito), a capacidade de poupança é comprometida desde cedo. Definimos capacidade de poupança como o percentual da renda que sobra depois do pagamento dos compromissos.

O tipo de desequilíbrio que acabou de ser descrito é muito comum e crescente em nosso país – o alto comprometimento da renda com prestações.

A primeira distração acontece quando a pessoa mantém o padrão de vida que possuía junto à família. Não se dá conta de que o salário não cobre as suas novas despesas totais. Afinal, as despesas fixas passaram a ser por sua conta!

Um sinal de alerta de que algo está errado no orçamento pessoal vem da recusa do cartão de crédito em vários estabelecimentos comerciais. A pessoa toma um susto ao descobrir que o seu nome entrou para o registro oficial de mau pagadores.

A renegociação das dívidas surge como alternativa, porém, sem uma reserva para exercer o poder de barganha, tudo fica mais difícil. No limite, vender bens será a alternativa, com o destino do recurso para o abatimento das dívidas mais caras – se os bens existirem! Em geral, os veículos de passageiros são usados para isso.

Recorrer à fonte antiga de recursos – a família – surge como mais uma alternativa. O sentimento de inferioridade e fracasso pode demorar a ser superado. Mas, melhor essa atitude do que a transformação da pessoa num devedor contumaz, que usa o limite do cartão de crédito como um anexo do salário. É o reconhecimento de um mau planejamento financeiro e a bem-vinda correção de rota.

Ficam algumas dicas simples para contornar os momentos de dificuldade: identificar quais das despesas seriam reduzidas ou eliminadas com menos sacrifício ao bem-estar; buscar fontes de renda complementar; não ter pressa para alcançar a real independência financeira; refletir sobre os bens e o padrão de vida que realmente traz felicidade!

E as dicas precaucionais: fazer um levantamento de receitas e despesas; para quem não tem recursos suficientes para comprar um imóvel à vista e não possui estabilidade no emprego e para encarar um financiamento de longo prazo, considere morar de aluguel por algum tempo. As rendas somadas do casal ou de amigos que dividam o mesmo espaço abrirão espaço para capacidade de poupança.

Separação

Sentimentos e decisões práticas envolvem as separações dos casais. Planejadores financeiros e jurídicos são bem-vindos para mitigar o estresse das partes envolvidas.

Enquanto as pessoas gastam energia com temas mais complexos, tais como a definição das pensões e a divisão dos bens, não param para perceber as reviravoltas no orçamento familiar.

Vamos por partes. É preciso ter em mente que uma separação cujo contrato seja o da comunhão parcial dos bens e onde tenha havido a constituição de novo patrimônio durante o casamento haverá uma diluição patrimonial para ambos.

O efeito não é constatado apenas pela divisão dos bens, mas também porque as despesas em alguns itens serão duplicadas. Ou seja, cada ex-cônjuge fica com metade do patrimônio, por hipótese, porém custos com a moradia, a manutenção, as apólices de seguro residencial, entre outros, dobram.

O ajuste nas despesas do dia a dia será menos traumático quando os ex-cônjuges trabalham e geram rendas parecidas. Quando existe relação de dependência de renda das duas partes é preciso ter bom senso dos dois lados e buscar uma acomodação do padrão de vida anterior até que um novo estilo de vida seja encontrado pela parte que até então não gerava renda.

Empreender

“Vou largar tudo”. “Não é possível que eu não caiba em outra empresa”. “Decidi que vou montar um negócio”.

Essas são frases de desabafo em momentos de estresse no trabalho. Sabendo que o empreendedorismo é uma atividade de alto risco, como poderíamos proteger parte do nosso patrimônio pessoal?

Para a montagem de um negócio próprio, é fundamental estudar bem as opções que interessam e que a pessoa tenha alguma experiência ou habilidade.

Limite seu investimento no projeto, defina as suas metas ao longo do tempo – incluindo critérios para a desistência. Como diz o ditado: “é melhor um fim horrível do que um horror sem fim”!

Se a primeira empreitada falhar, mas a pessoa tiver as reservas e os controles adequados, estará pronta para buscar novas oportunidades, já com mais conhecimento de causa, maturidade e, portanto, chance muito maior de sucesso.

O que fica dessas três situações em que a banalização das decisões poderá ser traumática?

A independência financeira significa liberdade em se fazer escolhas em diversos momentos de vida – inclusive em meio a um terremoto financeiro. O estresse financeiro pode ser minimizado com precaução ou lições do passado.

Fonte: Yahoo.com.brPor Fernanda Lattari, Planejadora Financeira Pessoal, possui a Certificação CFP (Certified Financial Planner) concedida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF). E-mail: fernanda.lattari@yahoo.com.