Montadoras esperavam que houvesse uma recuperação após o término da Copa do Mundo. Quadro não deverá ser revertido no curto prazo se não houver estímulo também a exportações, dizem analistas do setor
A expectativa de que o mês de agosto desse um novo fôlego à indústria automotiva foi frustrada: os emplacamentos de carros de passeio e comerciais leves registraram queda de 7,4% na comparação com julho.
Os dados serão divulgados nesta terça-feira (2) pela Fenabrave (federação das distribuidoras de veículos).
No acumulado do ano, a redução do número de licenciamentos chega a 9,4% em relação a 2013.
O setor esperava uma leve alta no primeiro mês “cheio” após o término Copa do Mundo, mas as vendas diárias mantiveram-se no mesmo patamar registrado durante o período de jogos.
Isso contraria as previsões da Anfavea (associação das fabricantes), que havia estimado um crescimento de 14% nos licenciamentos no segundo semestre em relação aos seis primeiros meses do ano.
“Temos presenciado o desaquecimento do mercado, que era esperado desde o ano passado. Alguns lançamentos terão impacto nas vendas, mas não deverão ter força suficiente para reverter esse quadro até o fim de 2014”, afirma Milad Kalume Neto, gerente de negócios da Jato Dynamics, consultoria especializada no setor.
ALERTA NA INDÚSTRIA
A queda de agosto indica que os novos dados da atividade industrial do setor (inclui ônibus e caminhões), que serão divulgados nesta semana pela Anfavea (associação nacional dos fabricantes), poderão mostrar mais um recuo.
Até julho, as fábricas tinham produzido 17,4% menos na comparação com igual período em 2013.
Na comparação entre agosto de 2014 e o mesmo mês em 2013, a queda nos licenciamentos de automóveis de passeio e comerciais leves chegou a 17,1%.
Especialistas consultados pela Folha preveem que os emplacamentos em 2014 deverão ficar entre 10% e 12% abaixo dos registrados no ano passado.
O quadro não deverá se reverter em curto prazo, pois não há previsão de que medidas de estímulo às vendas diferentes das atuais (redução do IPI e tentativas de facilitação do crédito) sejam implementadas.
“A estagnação atual deverá perdurar por 2015 e afetar ainda mais a indústria, pois ainda não há medidas que estimulem, por exemplo, as exportações. Se fatores como esse não melhorarem, será necessário um ano com 13 meses para repetir resultados anteriores”, afirma Milad.
A queda em agosto foi ainda mais sentida devido à alta de 11,6% nos emplacamentos de autos e comerciais leves registrada em julho na comparação com junho.
Dessa forma, o último quadrimestre teria de apresentar uma alta muito expressiva –e pouco provável– para que o resultado ao menos se aproximasse das vendas em 2013.
A retração atingiu as quatro maiores montadoras do país (Fiat, GM, VW e Ford), que viram seus principais produtos venderem menos de um mês para o outro. O fato tem gerado grandes campanhas de varejo, com maior carência para pagamento de prestações e redução de juros nos financiamentos.
Fonte: Folha de S. Paulo