Mais da metade dos pais costuma ceder às birras e chantagens dos filhos quando o assunto é consumo

16 de outubro de 2014

presente-para-crianca_1155511_2 (1)Pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e do seu portal de educação financeira, Meu Bolso Feliz, revelou que 52% dos pais ouvidos costumam ceder quando os filhos pressionam para que lhe comprem algo. Isso ocorre mesmo com os pais sabendo que a compra pode comprometer o orçamento.

Para 22% dos entrevistados, o tipo de argumento mais difícil de lidar é a negociação do tipo “se você me der isso, eu faço aquilo”; em segundo lugar, vem a chantagem emocional, citada por 16%, e em terceiro, o clássico “todo mundo tem e eu não”, dois tipos de argumentos que deixam os pais com dó dos filhos.

Na opinião de especialistas que comentaram a pesquisa para o portal Meu Bolso Feliz, o costume de ceder aos insistentes pedidos ou mesmo a escândalos das crianças em locais públicos decorre de uma série de fragilidades dos pais, que podem ser combatidas.

Sentimento de culpa

Segundo psicólogas ouvidas pelo portal Meu Bolso Feliz, por trás das compras feitas mediante birras muitas vezes existe um sentimento de culpa por parte dos pais. De acordo com a psicóloga Tânia Zagury, essa culpa decorre das ausências em função do trabalho e da correria do dia a dia.

Essa seria uma possível explicação para o item de maior despesa dos pais com os filhos nos últimos três meses, segundo a pesquisa: eletrônicos (jogos, celulares, notebooks etc.). Esses itens vieram à frente de roupas, que podem ser vistas como uma necessidade, e muito à frente de brinquedos convencionais.

Os eletrônicos seriam, de acordo com a entrevista da psicóloga Maria Teresa Maldonado ao portal Meu Bolso Feliz, uma forma de manter as crianças entretidas por mais tempo, “inocentando os pais pela ausência de afeto e dedicação às crianças”.

Dificuldade em dizer não

Para os especialistas ouvidos, aprender a ouvir “não” é essencial para as crianças saberem lidar com as frustrações da vida.

Muitos pais têm dificuldade de dizer o “não” que é necessário ao orçamento da família e fundamental na educação das crianças. Mas uma maneira de negar o pedido da criança quando não for possível realizá-lo é explicar a razão da negativa.

De acordo com o portal Meu Bolso Feliz, a psicóloga Maria Teresa Maldonado também acredita ser importante identificar a raiz do desejo da criança, ou seja, o porquê daquele pedido insistente naquele momento.

Para ela, muitas vezes o problema da criança vai muito além da questão material. Pode ter a ver com autoestima ou insegurança.

Neste caso, tentar solucioná-lo com consumo pode acabar ensinando a criança a associar compras com alívio para seus problemas, o que pode levar ao descontrole financeiro da família e da própria criança no futuro.

Mau exemplo

As birras também podem ser influenciadas pelo mau exemplo dos pais, e a pesquisa do SPC mostrou que muitos pais realmente não dão bom exemplo financeiro para os filhos.

Entre os entrevistados que têm filhos, 76% já ficaram inadimplentes alguma vez, e 53% compraram algo de que não precisavam nos últimos três meses.

Além disso, 74% não poupam mensalmente e 37% estão pagando atualmente nada menos que cinco ou mais prestações ao mesmo tempo, entre compras parceladas no cartão de crédito, crediário, cheques pré-datados e empréstimos.

Segundo o Meu Bolso Feliz, Tânia Zagury diz que pais que têm dificuldades de lidar com dinheiro dificilmente conseguirão dar bom exemplo ou terão um pensamento crítico em relação aos gastos excessivos dos filhos

Ela afirma que se os pais não têm educação financeira, compram por impulso e não percebem que os filhos seguem o mesmo caminho.

As soluções

Para as especialistas que comentaram a pesquisa do SPC, o melhor caminho para os pais é jogar limpo com os filhos sobre a situação financeira da família. Além, é claro, de dar bons exemplos.

Em entrevista à Monetar, a especialista em finanças da família Celina Macedo sugere que os pais incluam os filhos no planejamento do orçamento familiar, para que eles sempre saibam por que não podem ganhar tudo que querem na hora em que desejam.

“É preciso planejar com a criança o que ela quer comprar e de que maneira vai fazer isso”, diz Macedo.

Segundo ela, se os pedidos se tornarem muito frequentes e a criança já tiver discernimento, pode ser hora de considerar dar uma “semanada” para que ela aprenda a controlar as próprias finanças.

No caso de ela já receber a quantia, é o caso de ensiná-la a guardar uma parte para comprar o que deseja no futuro, com seus próprios recursos.

Celina Macedo aconselha ainda que os pais conversem com os filhos antes de sair para compras em supermercados ou shopping centers, de forma a evitar birras em público.

“É preciso levar uma lista de compras, discutir com a criança antes se ela vai querer alguma coisa e o quê. Se na hora H ela quiser sair do combinado, os pais devem lembrar o que foi planejado”, diz.

Caso isso não seja o suficiente para evitar conflitos na hora das compras, a solução é voltar ao assunto ao voltar para casa.

“Mesmo que os pais tenham cedido e comprado o que a criança queria para acalmá-la, devem conversar com ela em casa e dizer que dali para frente isso não vai ocorrer mais”, observa a especialista.

Fonte: Monetar