De acordo com o estudo, 68% das empresas não têm a intenção de efetivar nenhum funcionário (o percentual estava em 48% em 2013)
Com as vendas crescendo menos do que em 2013 e as incertezas em relação a 2015, mais empresas dos setores de comércio e serviços planejam contratar empregados temporários neste fim de ano – e menos funcionários devem ser efetivados. Pesquisa feita pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) obtida pelo Valor mostra que 80% das empresas brasileiras pretendem contratar mão de obra temporária nesse período. Em 2013, o percentual era de 68%. Por outro lado, apenas 20% das companhias têm a intenção de contratar funcionários efetivos até dezembro, ante 32% no ano passado.
A tendência é que o emprego temporário sirva menos como porta de entrada para o mercado de trabalho neste ano. De acordo com o estudo, 68% das empresas não têm a intenção de efetivar nenhum funcionário (o percentual estava em 48% em 2013). “Esse ano é atípico porque muitas empresas estão esperando pela eleição com o pé no freio e retardando essas contratações. Além disso, o crescimento menor nas vendas nas últimas datas comemorativas impacta em uma intenção menor de contratação”, explica o economista da CNDL/SPC Brasil, Fábio Borges.
De acordo com Borges, a redução nas efetivações poderá se refletir nos dados de empregados e desempregados em 2015. “Isso indica um início de ano menos pujante do que no início do ano anterior no que se refere ao mercado de trabalho. Esses dados mostram uma acomodação do crescimento do emprego”, diz.
Neste ano, o número de funcionários que os varejistas pretendem admitir caiu significativamente: 3,5 por empresa, sendo 2,4 temporários. No ano passado, a média foi de 8,9, sendo 6,2 desses temporários. Além disso, 46% das empresas que utilizarão mão de obra temporária admitiram contratar pelo menos um funcionário informal.
O estudo aponta também para queda na remuneração dos admitidos por tempo determinado no fim do ano. Em 2013, 57% das empresas pretendiam pagar aos temporários até dois salários mínimos. Em 2014, 63% das companhias terão essa faixa de remuneração.
Ainda assim, a contratação no último trimestre vai “salvar” o emprego no setor de comércio no ano. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) estima que devem ser contratados 138 mil temporários no período pelo setor, um aumento de 0,8%, contra crescimento de 3,2% em 2013. Para a entidade, o crescimento menor é compatível com o aumento mais fraco nas vendas no Natal deste ano, 3%, ante alta de 5,1% em 2013.
“Tem uma relação fortíssima entre vendas e contratação temporária. Como as vendas vão subir pouco, o empresário vai contratar menos”, explica o economista da CNC, Fábio Bentes. Para ele, a intenção menor de efetivar os temporários mostra também que os empresários estão cautelosos em relação a 2015, por conta das eleições e das incertezas na condução da política econômica. “A contratação efetiva é uma aposta de longo prazo porque o custo é muito grande”, diz.
A expectativa da CNC é que o comércio varejista feche o ano com saldo de 153,5 mil contratações. Até setembro, de acordo com os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, o setor acumula 4,2 mil demissões líquidas, o que significa que a admissão por tempo limitado será fundamental para reverter o quadro. “Isso mostra que 2014 foi um ano muito difícil para o comércio brasileiro”, pondera Bentes. “O emprego no setor começa no azul geralmente em junho, mas, neste ano, estamos em setembro e o comércio ainda está no vermelho”.
As incertezas também estão levando os empresários a adiar a admissão temporária. Segundo o estudo feito pela CNDL, 28% daqueles que pretendem reforçar as equipes no final do ano ainda não o fizeram até outubro. Em 2013, 20% ainda não tinham contratado nesse mesmo período. O nível de contratação de mão de obra é reflexo da queda no otimismo em relação às vendas de fim de ano. No ano passado, 55% das empresas esperavam aumento, enquanto neste ano o percentual caiu para 46%.
Fonte: Valor Econômico