Desde julho, as vendas internas de materiais de construção têm mostrado evolução constante na comparação com o mês imediatamente anterior, tendência de deve se manter ao longo do quarto trimestre. Ainda assim, a previsão da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat) é a de que, na melhor das hipóteses, o faturamento real do setor encerre o ano com recuo de 3%. No pior cenário, a queda poderá chegar a 4%. Ritmo de vendas mais fraco no varejo e a redução dos negócios no segmento imobiliário tiveram contribuição importante para esse desempenho.
De janeiro a setembro, o faturamento deflacionado da indústria de materiais de construção caiu 6,5% e, em doze meses, a retração foi de 4,9%. Diante desse desempenho, a Abramat revisou novamente a projeção para o ano, que começou com possibilidade de expansão de 2%, depois revista para crescimento de 0,5% – agora, a percepção é a de que o resultado será negativo, sem chances de a retomada prevista para o quarto trimestre, sazonalmente mais forte sobretudo no varejo de construção, zerar as perdas acumuladas.
Apenas em setembro, as vendas recuaram 5,7% frente ao mesmo mês de 2013, porém subiram 5,2% ante agosto. Em setembro, a indústria registrou o sétimo resultado negativo consecutivo na comparação anual, após dois meses de expansão no início do ano.
O mau desempenho da indústria em 2014 deve-se sobretudo ao fraco primeiro semestre, com destaque para às vendas de maio e junho, que derrubaram os índices do setor. De um lado, o grande número de feriados, na esteira da realização da Copa do Mundo no país, afugentou os consumidores do varejo de construção. De outro, a desaceleração econômica e as incertezas relativas ao processo eleitoral encerrado ontem pesaram nos negócios da indústria imobiliária.
Historicamente, varejo e construção imobiliária respondem, cada um, por cerca de 50% das vendas de materiais no país. Em 2014, de acordo com o presidente da Abramat, Walter Cover, tudo indica que as varejistas darão maior contribuição para o faturamento da indústria, a despeito de o desempenho também ter sido afetado negativamente.
Conforme Cover, no varejo, variáveis como renda, emprego e crédito têm impacto decisivo e, neste ano, o que pesou foi a maior dificuldade de obtenção de empréstimos junto aos bancos – além do efeito negativo dos feriados. Já as construtoras mostraram maior redução de ritmo, afetadas principalmente pelo clima de pessimismo que postergou lançamentos e levou as famílias a pensar duas vezes antes de contratar um financiamento imobiliário. Em obras de infraestrutura, acrescentou, houve alguma melhora, mas insuficiente para reverter a tendência do segmento.
Com a definição do novo governo e diante da combinação de alguns fatores positivos, a indústria de materiais de construção deve manter a retomada das vendas, ao menos na comparação mensal, até o fim do ano – neste período, os gastos com pequenas reformas costumam subir – e voltar ao terreno positivo em 2015. Conforme Cover, há alguns pontos que alimentam esse otimismo, entre os quais as promessas de mais que dobrar o número de residências construídas anualmente no âmbito do Minha Casa, Minha Vida. Hoje, o programa responde por cerca de 7% da venda total de materiais de construção no país, fatia que deve crescer significativamente se o número de casas construídas passar de fato das atuais 400 mil por ano quase 1 milhão ao ano.
Além disso, o início da execução de obras de infraestrutura relativas a leilões de concessões realizados em 2014, a retomada dos investimentos privados uma vez que o próximo governo federal esteja empossado, o dólar mais favorável às exportações (em torno de R$ 2,40), entre outros fatores, devem contribuir para o fortalecimento da indústria no ano que vem.
Fonte: Valor Econômico