Pesquisa do SPC Brasil mostra que 48% dos consumidores devem dividir as compras no período e que ficarão endividados até maio
Nada menos que 48% dos consumidores abandonarão o dinheiro e o cartão de débito para fazer as compras de Natal financiadas. E diante de um cenário de inflação alta e juros elevados, as pessoas levarão, em média, cerca de cinco meses para quitar o pagamento das parcelas. Segundo pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), até maio do ano que vem, o orçamento dessas famílias deve estar comprometido com as aquisições. Isso apesar de o estudo do SPC mostrar que 39% dos que pretendem comprar a prazo já tiveram o nome sujo devido a compras de fim de ano.
Em comércios locais ou em shoppings, não faltam lojas que anunciam vendas parceladas. Em segmentos como o de telefonia, um celular novo pode ser comprado por até 12 vezes. As facilidades de pagamento são atrativas para consumidores como o empresário Fernando Sousa, 31 anos. Ele admite que, neste fim de ano, vai comprar a prazo, mas sem juros e em no máximo três vezes. “Tudo vai depender do presente. Se desembolso menos agora, consigo diluir para fazer mais compras”, disse. A esposa, Evellyne Sousa, 27, que é a gestora de departamento de pessoal, garante estar atenta aos gastos. “Sabemos que no início do ano teremos mais despesas e compromissos a honrar”, acrescentou.
A lógica do casal em dissolver os gastos entre os meses que virão a seguir, contudo, deve ser muito bem avaliada. A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, recomenda que os consumidores coloquem as contas na ponta do lápis e saibam se planejar. “Quando começa a dividir as compras, geralmente perde-se o foco. Muitos acabam sem saber mais quanto deve ou quando vai pagar. É mais cômodo, mas pode dar muito trabalho”, avaliou.
Não há receita de bolo para fugir do endividamento. Basta as famílias se lembrarem que o fim de ano é o pior momento para se acumular débitos. “É importante lembrar que, logo no início do ano, vêm os gastos com material e matrícula escolar, além do IPVA e IPTU”, afirmou Marcela. Quem estiver com as contas penduradas deve usar a gratificação natalina (13º salário) para o pagamento das dívidas. “Vale mais a pena poupar agora e começar o ano sem dívidas e depois economizar ao longo meses para, ao fim de 2015, ter um Natal melhor”, acrescentou.
E quem não abre mão de presentear um familiar ou amigo deve, ao menos, evitar comprar em cima da hora. “Se deixar para a última semana, a pessoa não vai ter dinheiro e a fatura vai cair em janeiro, quando terá muitas compromissos a pagar. Se planejar com antecedência, saberá o quanto vai gastar”, afirmou Marcela. O bancário Geraldo Viana, 50, já começou a percorrer o comércio e pesquisar preços. Sem saber ainda o que comprar para os filhos e a esposa, ele ao menos tem uma certeza: vai pagar à vista. “Todo ano eu faço uma economia mensal para, no fim do ano, ter recursos para não depender do cartão de crédito”, contou.
Tensão
O uso do crédito para as compras a prazo é encarado com desconfiança pelo varejo. A curto prazo, o consumo atual deve ajudar o comércio a ter um resultado pouco melhor no último trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2013, mas essa demanda por crédito terá um preço. “Isso vai gerar um comprometimento da renda a longo prazo. As famílias vão comprar agora, mas terão que abrir mão do consumo lá na frente. No contexto atual da economia, fica uma preocupação para o próximo ano”, afirmou o economista sênior da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Fabio Bentes.
Parcelamentos longos podem indicar problemas para o consumidor. Bentes destaca que a taxa média de juros, medida pelo Banco Central, saltou de 42,8% ao ano em setembro para 44% ao ano em outubro, a maior da série histórica. E há perspectiva de que o aperto monetário seja ainda maior no próximo ano.
Fonte: Correio Braziliense