Um dos motivos para o reajuste é a memória inflacionária do brasileiro, agravada pelo desajuste das contas em 2014
Os pais devem preparar os bolsos: as mensalidades escolares nessas capitais terão reajuste acima da inflação oficial, que deve encerrar 2014 com alta de 6,40%. Os reajustes variam de 8% a 16% e terão forte impacto na já bastante comprometida renda da classe média. Reajuste dos salários, de tarifas públicas como energia, telefonia e água são fatores usados para justificar os aumentos acima da inflação.
Economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV/Ibre), André Braz explica que, no Índice de Preço ao Consumidor (IPC/FGV), os cursos formais de ensino comprometem 3% do orçamento familiar. Significa que, para cada 1% de aumento, a contribuição para a inflação é de 0,03 ponto percentual. Se o reajuste médio for de 10%, por exemplo, o índice subirá 0,30 ponto percentual só pelo reajuste das mensalidades escolares.
“Esse impacto é permanente e responderá, como nos últimos anos, por parte importante da inflação de 2015. A média do reajuste nas faculdades é menor devido à concorrência. Já os ensinos elementar, fundamental e médio registram tradicionalmente reajustes mais fortes. Nessa fase, os alunos são mais fiéis às instituições de ensino. A mobilidade existe, mas é menor”, explica Braz.
Professor de Finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA), Alexandre Jorge Chaia explica que os reajustes acima da inflação ocorrem por conta das incertezas que rondam a economia e do que se espera de aumentos de preços no próximo ano. Ele explica que não se trata simplesmente de uma reposição, mas de estimativas de reajustes ainda por vir, como salários de professores, transporte e salário mínimo.
“Em alguns casos essas estimativas são supervalorizadas por conta do desalinhamento de preços ao longo de 2014. O mais agravante é que vários setores acabam reajustando acima das perdas para se proteger, e o país entra numa espiral de inflação”, afirma Chaia. Ou seja, o brasileiro possui uma memória inflacionária e essa expectativa já está embutida nos reajustes como um colchão de proteção. “A tendência é que isso diminua quando houver retomada da confiança. Quando estiver claro o custo de cada coisa e o governo parar de gastar em excesso e cumprir metas. Aí as escolas voltarão a fazer planilhas de custos de forma mais real”, acredita.
Presidente do Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe/RS), Bruno Eizerik lembra que a definição da mensalidade depende da realidade de cada instituição e tem por base uma planilha de custos que leva em conta despesas gerais e administrativas, como materiais, conservação e manutenção, serviços públicos, despesas com pessoal e número de aluno pagante e não pagante.
“Não cabe ao sindicato estipular um índice de reajuste, pois cada instituição conhece seus custos e os investimentos previstos, tendo autonomia para defini-lo”, esclarece Eizerik. Segundo pesquisa do sindicato, o reajuste médio será de 9,11% no estado, um dos menores do país, mas ainda assim acima da inflação oficial de 2014.
No Rio não será diferente. “O reajuste na maioria das escolas privadas deve ser de 8%. Pode ficar acima, mas será exceção”, diz o presidente do Sinepe-Rio, Edgar Flexa Ribeiro. Já em Minas Gerais o impacto deverá ser maior. Segundo o Sinepe-MG, o reajuste das mensalidades das instituições privadas deve ficar entre 12% e 16%, dependendo da região e da situação econômica de cada instituição. “O índice é uma estimativa feita com as principais escolas privadas do estado, que já divulgaram aos pais e alunos os novos valores para o próximo ano”, afirma o presidente do sindicato, Emiro Barbini .
Em São Paulo, o aumento deve ficar entre 10% e 12% em relação à mensalidade de 2014. Segundo o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp), Benjamin Ribeiro da Silva, o sindicato não estipula o índice, que a exemplo de todo o país, é livre. Mas aqui, diz ele, além de custos comuns aos estabelecimentos, as escolas consideram o aumento real de 2,5% no salário de professores mais 0,5% por produtividade, ambos em acordo coletivo.
Fonte: Brasil Econômico