Qual a agenda feminina de 2015?
Em 2014, o país “descobriu” muitas coisas sobre as mulheres:
1) que as brasileiras Y estão estudando mais, casando mais tarde e adiando a maternidade
2) que as sessentonas estão reinventando o conceito de velhice
3) que os jovens brasileiros continuam machistas e que, sim, existem estupros em ambientes universitários.
4) que o gap salarial, entre homens e mulheres, persiste e que ações afirmativas podem dar bons resultados.
Num post recente, Cynthia disse que 2014 foi um bom ano para as mulheres. Eu concordo e complemento: ao fornecer uma excelente agenda feminina do futuro, 2014 foi um bom ano principalmente para 2015.
Com a ajuda das incríveis entrevistadas do blog em 2014, listo os assuntos tratados aqui, no blog, que continuarão notícia neste ano.
Empoderamento da mulher
Empresas promovem ações afirmativas, jovens fundam coletivos feministas com uma nova visão de gênero. Muito se falou, mas o tema tende a se expandir.
Carla, da Havaianas; “Nunca me senti discriminada”
“Todo mundo está falando sobre mulheres. E quando o assunto chega à mesa, é o melhor momento. Se, até hoje, a gente estava preparando os ingredientes, agora é o momento de comer. Se o prato é bom, as pessoas vão repetir”, disse a sábia presidente da rede Blue Tree Hotels, Chieko Aoki, na primeira entrevista publicada por este blog no Yahoo.
“Quando a gente vê que 70% do mercado global dos nossos consumidores é de mulheres, obviamente as composições dos nossos times devem refletir a diversidade da população que servimos”, afirmou Denise Matubara, executiva da Sodexo, em entrevista ao MI.
Para a executiva líder das Havaianas, Carla Schmitzberger, ser mulher não significou nenhum problema na carreira. “Em nenhum momento da minha carreira me senti discriminada por ser mulher, embora admita que o ambiente financeiro seja realmente masculino.”
Cotas em conselhos
Como revelou Cynthia no post sobre o encontro do grupo Mulheres do Brasil com a presidente Dilma Roussef, o cenário está se armando para que o Brasil integre o bloco dos países com cotas para mulheres nos conselhos de administração, a começar pelos conselhos de autarquias.
Denise Damiani: defesa das cotas nos conselhos
“Eu estou fazendo um curso de governança corporativa porque acredito que vamos precisar de mulheres competentes com uma visão mais corporativa e financeira”, revelou Andrea Menezes, presidente no Brasil do sul-africano Standard Bank.
“Primeiro há que se entender o que processo histórico nos trouxe até aqui: míseros 4% de presença de mulheres em conselhos de administração das empresas brasileiras. Está provado que não é somente um tema ética e politicamente correto termos mulheres nos altos escalões das empresas, mas é principalmente uma questão econômica: as empresas com mais mulheres no topo apresentam melhores resultados”, afirmou Denise Damiani, engenheira e consultora, integrante do núcleo duro do grupo Mulheres do Brasil.
Inclusão da mulher na tecnologia
O tema é tratado com insistência nos Estados Unidos, onde existem campanhas e grupos que tentam estimular o interesse das garotas em matemática, computação e engenharia. No Brasil, A Secretaria de Política para Mulheres tem se debruçado sobre o assunto e as garotas nerds começam a se mobilizar.
“Ser usuário da tecnologia é muito legal, mas as mulheres também podem criar. Elas precisam de mais exemplos inspiradores”, disse a empreendedora Bel Pesce, que contou sua experiência no Vale do Silício no livro A Garota do Vale. A entrevista de Bel para o MI foi publicada na semana passada.
Violência contra a mulher e internet
A luta contra os estupros universitários liderada pelo coletivo Geni, ganhador do prêmio CLAUDIA de 2014; a campanha contra o assédio nas ruas criada pelo blog Think Olga!, a pesquisa que o Instituto Avon patrocinou para revelar o machismo entre jovens… O tema, que parecia amortecido, voltou fortalecido em 2014. Agora, numa versão talvez até mais complexa: a violência contra a mulher no meio digital.
A jornalista Juliana e sua campanha contra o assédio sexual
“Descobrimos, por exemplo, que quatro a cada dez jovens, homens, já receberam uma foto de uma mulher nua, conhecida. Para mim, isso foi absolutamente chocante, porque a mesma pesquisa mostra que, ao término de um relacionamento, é comum que o homem use esse tipo de material, vídeo ou foto, feitos na intimidade, para se vingar e expor a ex-namorada ou ex-mulher. É de uma violência absurda”, disse Alessandra Ginante, VP da Avon, sobre a pesquisa feita com 2 mil jovens, em 2014, sobre machismo e violência contra a mulher.
“Se antes as feministas batalharam para que as mulheres pudessem votar, hoje batalhamos por aumento da representatividade política. Se conseguimos uma lei Maria da Penha contra a violência contra a mulher, agora queremos banir o assédio sexual. Enfim, são as mesmas lutas, o que mudou mesmo foi a plataforma. Na internet a articulação ficou muito mais fácil”, afirmou Juliana de Faria, criadora da campanha Chega de Fiu Fiu do blog Think Olga! para a Cynthia de Almeida.
Novos papéis
O novo equilíbrio entre trabalho e família, que tanto querem as mulheres, depende de uma revisão de papéis (que já está acontecendo).
Claudia Sender, presidente da TAM: homens podem redesenhar seus papéis
“Esse equilíbrio entre homem e mulher é que faz o mundo mais bonito, eu acredito. Além disso, acho que as mulheres podem aprender a criar os filhos sem culpa, como fez a Luiza Trajano, e os homens podem ser mais colaborativos. Minha filha, por exemplo, está grávida e é acompanhada pelo marido em todas as consultas. Não é interessante? O homem também está parindo a família”, disse Sonia Hess, presidente da Dudalina.
“Uma das coisas mais importantes é ser muito criteriosa na escolha no pai dos seus filhos. Quando você está namorando, ou mesmo casada sem filhos, ok. Mas se o cara não comparecer e não ajudar, quando nascem as crianças, fica tudo muito complicado. E a escolha do marido é uma escolha que a gente faz bem cedo, não é?”, disse Daniela De Fiori ao MI, à época em que era VP do Walmart do Brasil.
“A gente está acompanhando uma mudança muito legal na dinâmica do casal, principalmente depois da PEC das domésticas. Cada vez mais ouço dos homens, por exemplo, a frase “Hoje, eu não posso ficar até mais tarde no trabalho porque preciso que ficar com meus filhos”. No nível executivo, é muito comum ver o pai começando a dividir com a mulher o papel de cuidador”, conta Patrícia Molina, sócia da consultoria KPMG.
“É prioridade que os homens deixem de achar que devem ser os únicos provedores e, ao deixar de acreditar que esse é seu único papel, comecem a desempenhar melhor o de pais e maridos”, disse Claudia Sender, presidente da TAM, em evento que teve a cobertura do blog.
Fonte: Yahoo! Mulher