Oportunidade. Os brasileiros acima de 60 anos gastam mais com o que desejam ter ou fazer do que com o básico, o que coloca para as empresas o desafio de desenvolver ofertas exclusivas
Um mercado promissor. É assim que especialistas e empresários definem os consumidores da terceira idade. Um estudo reforça essa percepção: se hoje eles representam 34% (cerca de R$ 1 trilhão) de todo o consumo dos brasileiros, em 2018 a proporção será de 44%.
Os números são de um estudo da consultoria paulista de geomarketing Escopo e levam em conta as projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o envelhecimento da população brasileira nos próximos anos.
Mais do que a evolução demográfica, no entanto, há também uma mudança em curso no perfil de consumo das pessoas com mais de 60 anos – e isso é o que tem levado empresas a desenvolver produtos e serviços específicos para a terceira idade. O idoso de hoje é mais consumista, sugere outra pesquisa recente, elaborada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Durante o levantamento, a entidade questionou 632 consumidores com idade acima de 60 anos. Uma das perguntas era se hoje em dia, mais do que antigamente, eles gastam mais seu dinheiro com produtos que desejam do que com produtos apenas necessários: 41% deles afirmaram que sim.
“O que vimos na pesquisa é que esse público tem um potencial muito grande a ser explorado, mas que ainda é pouco aproveitado pelo mercado. Pudemos observar também que eles estão mais consumistas do que há alguns anos”, afirma a economista-chefe do SPC, Marcela Kawauti.
Longe da caricatura
O estudo mostrou também que uma parcela importante desse público – pelo menos 45% – enfrenta dificuldades para encontrar produtos destinados a pessoas de sua idade. Eles querem comodidade e conforto, sim, mas sem o carimbo de “coisa de velho”. Os setores de vestuário, celulares, lazer e turismo foram os mais apontados pelos entrevistados. “Eles sentem falta de aparelhos de celular com teclas maiores, roupas menos caricatas e lugares específicos para sair à noite”, afirma a economista do SPC. “Outro setor pouco explorado é o segmento de e-commerce”, completa.
De acordo com a pesquisa, somente 7% dos idosos fazem compras pela internet. “Esta é uma área a explorar, mas que pode demorar um pouco mais. É preciso criar um apetite entre eles para que busquem essa modalidade de compra, além de facilitar o modo de acesso”, afirma a economista.
Uma das empresas posicionadas para aproveitar essa brecha é a Daruni Healthcare, que comercializa pela internet produtos voltados à saúde do idoso. Criada em 2013, em São Paulo, pelo empresário de tecnologia Edilson Osório Junior, no seu segundo ano de operação a empresa faturou R$ 315 mil.
O site recebeu algumas adaptações para facilitar a navegação por parte desse público. “Em uma breve pesquisa, percebemos que quem efetua a compra é o próprio idoso. Por isso, deixamos letras grandes, uma identidade visual leve e um suporte personalizado para atendê-lo”, afirma ele.
O cuidado valeu a pena. “Os idosos de três anos atrás ainda não usavam a internet como hoje. Agora, grande parte do nosso público não tem mais essa barreira de desconhecer como se faz uma compra e como se navega na rede”, afirma.
Em 2015, o plano é crescer 20% ao mês. “Mesmo com o cenário econômico adverso, alcançamos bons resultados em 2014. Este ano, sem Copa e eleições, estamos trabalhando para crescer acima disso [20%].”
Necessidades específicas
Atender um público com características especiais também foi o impulso de Benjamin Apter. Doutor em Ortopedia, ele é um dos fundadores da rede de academias B-Active, especializada em atendimento à terceira idade. E conta que a ideia de criar um estabelecimento exclusivo para esse público surgiu por uma necessidade.
“Criei a academia há 12 anos porque meus pacientes não encontravam lugares para que pudessem realizar um trabalho de fortalecimento muscular. As academias convencionais não estavam preparadas para tratá-los”, comenta o doutor.
Hoje, o negócio está em expansão. No seu estabelecimento, Apter organizou todo o ambiente para que os idosos se sentissem à vontade, oferecendo desde um atendimento personalizado até equipamentos exclusivos, feitos sob medida para atender os velhinhos.
Com cinco unidades, duas delas próprias e três franqueadas, a rede de academias fechou 2014 com faturamento próximo de R$ 6 milhões, algo em torno de R$ 1,2 milhão por unidade. O resultado representa um crescimento de 10% em relação ao ano anterior. Para este ano, o plano é expandir a rede ainda mais. “Estamos prevendo a abertura de mais quatro unidades até o fim do ano”, afirma.
Ainda no setor de serviços, o segmento de turismo é outro que pode ser beneficiado. Segundo a consultoria Euromonitor, pessoas com mais de 65 anos são cerca de 13% do total de viajantes no Brasil.
O desenvolvimento de produtos e serviços para a terceira idade envolve também a indústria. Para o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, o setor de vestuário tem se mostrado bastante atento a esse público, em sintonia com o varejo. “As lojas com maior abrangência já têm se focado nisso. É preciso também que os lojistas identifiquem um vetor de trabalho, pois existem públicos diferentes dentro da própria terceira idade”, afirma.
Dados do Instituto de Estudos e Marketing Industrial (IEMI) mostram que, em 2013, o consumidor acima dos 50 anos representou 22,1% do varejo de vestuário. Em termos nominais, esse segmento do mercado movimentou R$ 38,1 bilhões, de um total de R$ 172,4 bilhões em todo o setor de vestuário.
Corpo e mente
Com a premissa de acompanhar o envelhecimento da população brasileira, a Brinquedos Estrela adotou há dois anos a estratégia de expandir seu target e investir na terceira idade. Nesse período, a fabricante lançou quatro jogos indicados para esse público: “Um a Um”, “O que é Diferente”, “Cara a Cara” e “Foco”. A proposta da série de produtos, batizada como Academia da Mente, é exercitar habilidades como atenção, memória e concentração.
Hoje, a empresa garante que a medida foi acertada. “O retorno para a Estrela foi muito positivo. Considero essa iniciativa como uma espécie de retribuição à sociedade”, afirma Aires Fernandes Leal, gerente de marketing da marca. Para o executivo, a Estrela passou a atender um público que, no geral, ainda recebe pouca atenção por parte da indústria.
Os números alcançados com as vendas dos jogos voltados a idosos são confidenciais. Mas, segundo Leal, são considerados “satisfatórios” pela empresa.
Fonte: DCI Online