A relação da bolha de crédito e do padrão de vida

3 de fevereiro de 2015
bolha de credito

Problemas financeiros relacionados à macroeconomia são tidos como culpados pelas projeções ruins nesse aspecto no país. Mas essa mentalidade acaba nos distraindo com causas e não nos deixar ver as consequências que já estão acontecendo: que a situação pode piorar, uma vez que já vivemos uma bolha de crédito, que pode estourar a qualquer momento.

Com a atual situação de aumentos que têm impactos direto no bolso do consumidor, como o combustível (aumento de R$0,22 por litro para gasolina e R$0,15 para o diesel), transporte público (de R$3 para R$3,50), energia elétrica, água, financiamento da casa própria (Caixa Econômica), dentre outros, somada à realidade de compra a prazo da população brasileira, o crédito é um meio eficaz que possibilita a aquisição de produtos e serviços. Isso não seria um problema se tivéssemos nossa população alfabetizada financeiramente, o que não aconteceu conosco e tão pouco com nossos pais e avós.

Para se ter ideia, no Brasil, já são mais de 54 milhões de inadimplentes, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), ou seja, são pessoas que compraram, adquiriram produtos e/ou serviços, mas não tiveram condição de pagar. E, para piorar, a solução que se encontra é utilizar empréstimos, limites do cheque especial, linhas de crédito, etc. Isso é uma atitude típica de uma população que não é educada financeiramente, porque essa prática é paliativa e só resolve naquele momento, não impedindo que volte a acontecer.

Claro que é até uma situação compreensível, já que faz 20 anos que conquistamos nossa estabilidade econômica, especialmente pelo fato de controlar a inflação, e, além disso, de uns tempos para cá, a facilidade de crédito aumentou, o que faz com que se tenha uma pseudomelhoria no padrão de vida das pessoas. Com esse comprometimento maior da renda com o crédito, o risco de a chamada nova classe C voltar para a D ou até mesmo ir para a E também aumenta.

Por isso, o importante agora não é ficar procurando culpados – marketing publicitário, o fácil acesso ao crédito, a conjuntura econômica ou até mesmo o resultado da eleição –, mas sim resolver a questão e não deixar que piore. Como? Investindo em educação, principalmente na financeira. É necessário que, no processo educacional, se tenha uma grande reflexão sobre projeto de vida, sonhos.

Esse é o principal aspecto da educação financeira: abordar, de forma comportamental, a relação com dinheiro, em prol da sustentabilidade, evitando o consumo desenfreado, que nos levou a bolha do endividamento. É assim que tem que ser o verdadeiro poder de compra da população: gradativo, consciente e saudável.

Por Reinaldo Domingos – educador e terapeuta financeiro, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros), autor do best-seller Terapia Financeira, dos lançamentos Papo Empreendedor e Sabedoria Financeira, dentre outras obras.

Fonte: Segs – Portal Nacional dos Corretores de Seguros