Dinheiro é causa para discussão em 23% dos casais com dívida

6 de abril de 2015

16,7% dos brasileiros casados declaram que a maneira como eles gastam o próprio dinheiro é motivo de briga

Divulgação
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Conversar sobre dinheiro, em casa, é mais importante do que parece. O volume das contas a pagar no fim do mês – e as prioridades – é motivo para uma boa DR (discussão de relação) entre casais, segundo aponta pesquisa feita peloServiço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). O estudo revelou que 16,7% dos brasileiros casados declaram que a maneira como eles gastam o próprio dinheiro é motivo de briga. O índice sobe para 22,7% quando os casais estão endividados, o que pode balançar – e muito – a relação.

Segundo outra pesquisa realizada pelo SPC e pelo Portal Meu Bolso Feliz, mais de um terço dos brasileiros casados não sabe quanto ganha o parceiro e apenas 31% das famílias conversam com frequência sobre os gastos da casa, o que aumenta o clima de tensão financeira entre os casais. “Esses números deveriam ser diferentes. A disciplina e o diálogo em família para cuidar do dinheiro da casa são fundamentais para uma vida financeira saudável e organizada”, argumenta o educador financeiro José Vignoli.

Os professores universitários Danielle Oliveira e Adriano Silva vivem juntos há 10 anos. Até conseguir que Adriano transferisse a sua parte da despesa para a conta de Danielle na data prevista, a professora conta que teve que ser (muito) chata.

“Ele é uma pessoa desligada e não tem muita paciência com essa coisa de gerir o orçamento. Já eu sou rigorosíssima com conta. Faço o pagamento exatamente no dia. Tive que ser bem enérgica. Depois de brigar tanto, ele hoje não esquece mais e faz tudo direitinho”, conta.

Danielle jura que tentou deixar uma vez as contas sob responsabilidade do marido, mas… “A experiência foi um desastre. Pagamos juros por todas as contas que passaram da data do vencimento. Depois disso ele percebeu que o melhor era deixar a planilha comigo”. A despesa doméstica mensal do casal chega a R$ 4 mil, em média.

Na hora de dividir, há uma média proporcional de acordo com o que cada um ganha. “Depois que a gente paga tudo, cada um faz a sua reserva individual e temos também a nossa reserva conjunta”, explica. No momento, o casal está focado em manter uma reserva para cobrir emergências financeiras.

“Diante do momento que o país está vivendo, temos que guardar seis vezes mais o que ganhamos para cobrir possíveis imprevistos, como o desemprego, por exemplo”.

Ringue

Não há coração que aguente conta em atraso, muito menos a planilha do mês no vermelho, por mais amor que esteja envolvido. Para o educador financeiro José Vignoli, o fato de as brigas serem maiores entre os endividados foi o ponto que mais chamou atenção diante dos dados apresentados pela pesquisa. “O dinheiro é capaz de destruir relacionamentos quando não há um diálogo sobre ele”.

Ainda segundo Vignoli, tanto quando falta quanto quando sobra, a base do problema está na falta de planejamento. “Amor e cabana só não dá. Não adianta viver junto e um puxar para um lado e o outro para uma direção diferente. As pessoas precisam de diálogo e transparência dentro de casa”.

Quando mal utilizado, o cartão de crédito pode causar até divórcio: “A falta de controle da sua utilização é o que provoca mais discussões entre os casais, principalmente quando a fatura chega e eles se surpreendem com o valor dos gastos de um ou de outro”, alerta o especialista.

O aposentado Francisco Fernandes tem “batido na mesma tecla”, como o mesmo afirma, sobre os gastos que chegam na fatura. “O cartão de crédito é um absurdo. A mulher não consegue segurar. Até na padaria ela passa o cartão de crédito. Aí fica um negócio sério”, reclama o aposentado.

As despesas com o cartão chegam a comprometer cerca de 30% da renda da família. Em época de festas como o Natal, por exemplo, pode levar até 40% do dinheiro da casa. “Todo dia ela acha que falta uma coisa. Vai comprar um pão, traz o queijo, a mortadela, e assim vai. Sempre a gente se desentende por causa desse cartão”, lamenta.

O educador financeiro Paulo Ribeiro acredita que falar de dinheiro não pode ser ‘tabu’ entre os casais e nem motivo de surpresas não planejadas no orçamento. “O assunto precisa ser tratado a todo momento, não só quando está faltando ou sobrando dinheiro. A família precisa parar e sentar para conversar sobre as finanças”.

A falta de transparência pode ser um grande “destruidor de lares” quando leva o casal à inadimplência. Na base da relação deve estar algo comum. “As famílias precisam sonhar juntas, porque as conquistas também serão coletivas”, diz Ribeiro.

Fonte: Correio* 24horas