Em um ano de inflação alta e retração econômica, aumentar a produtividade das pessoas e, consequentemente, os ganhos das empresas é palavra de ordem no mundo corporativo. Objetivo difícil de conquistar sem o envolvimento e motivação dos colaboradores. O desafio de reduzir custos de maneira sustentável e fazer ‘mais com menos’ visando aumentar a rentabilidade da empresa só se torna possível com uma adequada gestão de pessoas. Ainda mais no setor supermercadista que apesar de apresentar faturamento médio acima do da indústria, possui lucratividade 60% inferior.
Mas se olharmos para o conjunto da economia, 2014 não foi um ano bom para quase ninguém. Pesquisa da PricewaterhouseCoopers (PwC) mostra que a produtividade per capita medida em 1,5 milhão de profissionais de 110 empresas nacionais de 11 setores diferentes caiu 17% no ano passado em comparação a 2013. Saiu de R$ 6,04 para R$ 5,02. “O que significa dizer que a cada R$ 1 investido pela empresa, seu colaborador gerava R$ 5,02 de retorno. O que é pouco”, afirma Melissa Pomi, gerente da PwC Saratoga, que elabora pesquisas, métricas e análises sobre a força de trabalho.
O resultado derrubou o lucro dessas empresas em 22%, apesar de seu faturamento ter aumentado 8%, para R$ 1,71 bilhão, equivalente a 37% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional.
A pesquisa, que foi apresentada durante o Congresso e Feira da Associação Paulista de Supermercados (Apas), também mostra áreas de investimentos e ações que as empresas vêm desenvolvendo para superar os entraves da complexa conjuntura de negócios do Brasil.
A correlação de resultados é expressiva não só no Brasil. Tanto que em outro estudo, 73% de 1,3 mil CEOs ouvidos pela PwC em 60 países dizem estar mais preocupados em encontrar competências-chave na atração de pessoas certas e retenção de seus talentos para poder entregar seus negócios mantendo margens e lucros. E veem a necessidade de alinhar os valores do empregado às metas da empresa. “Não dá para dissociar indicadores financeiros do capital humano”, alerta Pomi.
A pesquisadora lembra que os dados da pesquisa precisam ser analisados em um contexto mais amplo que vai além dos muros de cada empresa. Passa também pelo entendimento das mudanças de comportamento pelas quais passam o consumidor.
Nesse contexto estão as vendas on-line e por meio de dispositivos móveis. A influência que as redes sociais exercem na decisão de compra. “O varejo deve considerar ainda as mudanças demográficas dos compradores, com a geração Y aumentando o seu poder e volume de compras já que representa 53% da força de trabalho dentro das empresas.”
Mas como fazer tudo isso acontecer? “Promovendo a prática da alta performance em nosso país. Melhorando continuamente a produtividade das pessoas, através do desenvolvimento e efetiva aplicação de suas competências para potencializar os resultados esperados”, avalia Francisco Antonio Soeltl, presidente da Micropower, consultoria especializa no assunto. “A competitividade das organizações é medida pelo crescimento consistente da receita, lucratividade, satisfação do cliente e participação de mercado de forma sustentável e com respeito à diversidade humana”, conclui Soeltl.
Um exemplo prático dessa correlação de fatores é o da rede de Supermercados Mundial. Fundada em 1943 por imigrantes portugueses, transformou uma pequena mercearia aberta na cidade do Rio de Janeiro em 19 lojas e dois centros de distribuição que empregam 8 mil pessoas, das quais 400 portadoras de algum tipo de deficiência física. Apesar da forte cultura familiar sua gestão é considerada moderna, com a adoção de constantes ações e planejamento para aumentar a produtividade apostando na qualidade de vida de seus colaboradores.
Com um ritmo de contratação que varia entre 250 a 300 pessoas por mês e um turnover de 34%, enquanto a média do setor é de 38%, a Mundial investe firme em alguns processos. Desde a integração do novo contratado, que passa dois dias conhecendo a cultura da empresa, a função que irá exercer, o funcionamento dos processos, seus benefícios e direitos e o que a empresa oferece em termos de saúde e segurança. É neste momento também que são desenhados os primeiros traços do seu plano de carreira.
“Conhecer o ambiente em que vai trabalhar, quais suas possibilidades profissional e o que a empresa lhe oferece em termos de benefícios, capacitação e desenvolvimento são fundamentais para o seu engajamento”, afirma Elizabete Mesquita, analista de benefícios da companhia.
Fonte: Valor Econômico