Com investimento pequeno, food bike é a nova onda após o food truck

21 de setembro de 2015

Com foco em negócios baratos e que ocupam pouco espaço, empresários espalham de hambúrgueres a doces por SP.

food bikeO hambúrguer é feito ali, na hora. O brownie e o pudim chegam fresquinhos. E que tal um sacolé para suportar os dias mais quentes? Tudo isso em cima de bicicletas charmosas e que circulam por eventos, feiras e pontos de São Paulo. Esses são os food bikes, tendência na capital e que se multiplicam desde meados de 2014.

A comida de rua se espalhou pela cidade com os food trucks, aqueles veículos adaptados para ter uma cozinha e produzir e vender alimentos. Mas não dá para se montar um desses com menos de R$ 500 mil, em média. E eles não cabem em todos os lugares. Daí a ideia de montar o negócio em cima de uma bicicleta gastando menos e com a vantagem de ocupar bem menos espaço.

“Já trabalhava com a venda de brownies há três anos e senti a necessidade de estar mais perto do meu cliente. Queria ver o pessoal comendo o brownie. Mas eu não tinha grana ou estrutura para montar uma loja. Aí veio a bicicleta”, afirma Bianca Alves Costa Mecchi, 35 anos, dona da Brownie Affair. Ela começou vendendo seu produto online e montou a primeira bicicleta em maio de 2014.

“Pesquisei os food trucks, mas o investimento é muito alto, é quase como investir em um imóvel. A bicicleta era mais acessível, mais charmosa e a cara da Brownie Affair”, continua. Bianca já era ciclista e com R$ 5 mil comprou uma bicicleta, fez o trabalho visual e acoplou uma vitrine na parte de trás. “É a minha loja”, afirma.

Ana Paula Ferreira, 39 anos, passou pela mesma situação com a Pudim a gosto. Ela já tem duas bicicletas e a primeira estreou em setembro de 2014 depois de um investimento de R$ 2500 para as adaptações e o cesto com isopor e placas de gelo para levar os pudins. “Vendia pelas redes sociais, mas ir para a rua mudou tudo. Tem o feedback ali na hora, das pessoas comendo, e ainda posso divulgar a marca”, comenta.

Quem já tem um food truck também optou pela food bike para ganhar na questão do espaço. O Los Mendonzitos vende vinhos e se define como uma pequena rede de adegas sobre rodas. Eles contam com trailer no Rio de Janeiro e em São Paulo e, desde o ano passado, também trabalham com uma bicicleta na capital paulista.

“Vimos a necessidade de um veículo menor para entrar em todos os lugares. A nossa bicicleta é um mini mini trailer. O transporte não é simples e para levar aos eventos precisamos de uma carreta de apoio e montar todo o ‘circo’ leva mais de uma hora, mas a bicicleta passa por qualquer porta”, diz André Fisher, um dos sócios do Los Mendonzitos. O primeiro evento com a food bike foi uma festa em um casarão na zona oeste de São Paulo, impossível de ser realizado com o trailer.

Transporte, armazenamento e execução, tudo na bike

A food bike também vai além do ponto de exposição e venda. Para Danilo Tanaka, do Bike Burguer, a bicicleta é todo o negócio. É nela que ele leva a chapa, o botijão e o que precisa para montar a sua hamburgueria a poucos passos da Avenida Paulista.

Sem mais do mesmo

Usar a bicicleta pode ser uma opção para diferenciar o seu negócio no ramo. Camila Dias é publicitária e viciada em doces, mais precisamente em brigadeiro. Depois de tempos vendendo o doce aos amigos, ela criou a Brigadeirô em 2011. Pouco mais de um ano depois, começou a onda das feirinhas gastronômicas nas ruas em São Paulo e Camila viu nisso uma oportunidade.

“Queria colocar a marca no marcado sem ter que investir em uma loja. E também já tinha muita loja de brigadeiro por aí”, lembra. Depois de pesquisar opções, a ideia de ter uma bicicleta charmosa para vender seus brigadeiros veio das conhecidas cargueiras, muito usadas para entrega em padarias ou de galões de água. “Achei a bicicleta em um ferro velho e investi para colocar tudo nela e deixá-la bonita”, afirma. Foram aproximadamente R$ 5 mil e a bike na rua em maio do ano passado.

Vale diferenciar também no que servir. E a bicicleta é democrática. Há quem aproveita a magrela para vender produtos com uma ideia mais natural, como a Bôlo Chérie. “Meu negócio é uma empresa de produtos sem glúten e sem lactose. Não pensei em um truck porque queria que me conhecessem e expor o meu produtos. Fui para a bike pporque ficou barato, bonito e ainda é ecologicamente correto”, explica a cozinheira Raquel Arruda.

Quem une ainda mais a bicicleta ao negócio é o Bike Café. “Fizemos o Bike Café por dois motivos: divulgar a bicicleta e também oferecer um café brasileiro de qualidade, com um grão especial”, fala Cadu Ronca, que já tem duas bicicletas para servir a bebida. E 10% do faturamento vai para o instituto Aromeiazero, outro trabalho dele que promove a mobilidade e o uso da bicicleta para melhorar a relação com a cidade.

A turma dos doces ou hambúrgueres, comidas e quitutes mais calóricos, usa o bom humor. “Eu já me perguntei (se pudim combinava com a bicicleta). Mas quem anda de bicicleta, faz exercício, também tem direito a comer um docinho. E tenho os minis, que a culpa é menor”, brinca Ana Paula.

E engana-se quem imagina que todos os produtos vendidos nas food bikes também estão na onda da gourmetização. O trio Vitor e Alice Mortara e Malu Risi, sócios do Le Sacole, se explicam. Eles vendem os tradicionais sorvetes em saquinhos e apostam em sabores diferentes como maracujá com gengibre e outros alcoólicos. “Nenhum de nós é gastrônomo e por isso a gente não se considera gourmet. Só fazemos e vendemos um sacolé que gostamos”, resume Malu. A aposta dos amigos é vender em agências e escritórios na região da Vila Madalena, além de feiras e eventos.

Bianca, da Brownie Affair, segue a mesma linha. “No food truck, por exemplo, tem muito chefe famoso. O pessoal da bicicleta vem com uma tendência mais familiar e artesanal”, aposta.

Food bikes unidos

Apesar de bicicletas serem usadas para transporte e até venda de alimentos há tempos – quem é do litoral de São Paulo já cruzou com uma bicicleta vendendo doces e tapiocas – essa moda das food bikes estilizadas ainda é recente. E em São Paulo, esses empreendedores se conhecem e já formam uma classe unida.

“Estão aparecendo muitos eventos para quem faz comida de rua e tem alguns oportunistas. Quem já fez algum evento e entrou em alguma furada, ajuda e avisa o outro. E se une para também não ser explorado”, fala Cadu Ronca, do Bike Café. São cobradas inscrições para participação em feiras e, em alguns casos, os preços se equivalem aos praticados para os food trucks. Os empreendedores da bicicleta se unem para negociar e conseguir melhores condições e valores para as feiras e eventos.

Há também um grupo de mensagens e dicas de onde comprar peças ou consertar a bicicleta. Mas quem resolve entrar para esse negócio deve saber um pouco de mecânica para qualquer imprevisto. “Já caiu a minha corrente no meio do caminho e tive que trocar. Antes, para fazer isso, era só virar a bicicleta de cabeça para baixo. Mas agora não dá. Mesmo assim, consegui trocar”, conta Raquel Arruda, dona da Bolo Cherie ao lado do marido, Maurício Pacheco.

Fonte: economia.ig.com.br