Mercado de shopping centers se reinventa para enfrentar a crise e prevê crescimento

15 de outubro de 2015

Longe demais das capitais Shopping centers superam a marca de R$ 142 bilhões em vendas e avançam rumo ao interior, onde o número de empreendimentos inaugurados este ano é maior que em grandes centros

shopping-center _Getty ImagesFoi-se o tempo em que shopping center era coisa de cidade grande. Em 2014, pela primeira vez, o número de empreendimentos em municípios do interior do país superou o de unidades em capitais, tradicionalmente os principais centros econômicos dos estados. A partir de 2015, de acordo com Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), a maior parte dos novos shoppings previstos para sair do papel seguirá a tendência. As capitais já têm todas um número significativo de empreendimentos, afirma a dirigente da entidade.

A mudança é resultado, em grande parte, de transformações econômicas profundas ocorridas no país desde o início da última década. O aumento da renda e o surgimento da chamada nova classe média permitiu o adensamento das redes de shoppings em grandes cidades e atraiu para o interior do país uma série de franquias, que criaram a demanda necessária para a pulverização do setor. De 2006 a 2014, houve aumento de 50% no número de shoppings no país. Hoje, são 530. Em paralelo, o número de visitas por mês mais que dobrou, para 431 milhões, e as vendas cresceram 185%, para R$ 142,3 bilhões. Juntas, as classes D, C1 e C2, com renda de até R$ 2,8 mil, responderam no ano passado por 27% da receita dos shoppings, segundo levantamento do Ibope e da Associação Brasileira de Logistas de Shopping (Alshop).

A Alshop faz levantamento semelhante ao da Abrasce, em parceria com o Ibope. A diferença é que considera também shoppings temáticos, atacados e rotativos, como as grandes galerias do centro de São Paulo. Pelos critérios usados por ela, a virada sobre as capitais já havia acontecido em 2013, quando 51,6% dos empreendimentos estavam no interior. Mas a conclusão é fundamentalmente a mesma. Com a saturação dos grandes centros, o crescimento virá mesmo das cidades menores.

Em 2015, tem sido assim até agora, e tende a ser assim até o final de 2016, quando terão sido investidos na construção e ampliação de shoppings cerca de R$ 16 bilhões, de acordo com estimativas da Abrasce. Até meados de setembro, dos dez shoppings inaugurados no Brasil este ano, só três estão em capitais.

A grande dúvida no momento, afirma Luis Augusto Silva, diretor de relações institucionais da Alshop, é como os mercados do interior irão responder à crise econômica. Segundo ele, um dos motivos que permitiram a migração de investimentos para cidades menores foi a demanda por espaços criada por grandes redes de franquias. Com o desaquecimento da economia, diz, diminui a disposição dos varejistas para fazer investimentos e o mercado deverá passar por um período de reequilíbrio de oferta. Muitos projetos serão colocados em marcha lenta, diz. De qualquer forma, a direção está dada, e a pulverização deve continuar. Até o final do ano, 58% dos shoppings já estarão fora das capitais, estima a Abrasce.

A Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em meados de setembro o balanço das vendas dovarejo brasileiro em julho de 2015. A queda de 1% em relação ao mês anterior foi a maior para o período, desde o início do levantamento, em 2000. Pior que isso, pelo sexto mês consecutivo, as vendas diminuíram. A única exceção no ano foi janeiro. Para a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), porém, mesmo assim o ano será de crescimento para os shopping centers, que respondem por cerca de 20% do varejo em receita.

Os motivos, diz Adriana Colloca, superintendente da entidade, são o volume de shoppings abertos em 2015, as ampliações e a maturação dos que foram inaugurados em anos recentes. Em 2013, por exemplo, o número de inaugurações foi recorde, 38. Mantemos a expectativa inicial de aumento de 8,5% nas vendas, diz a dirigente. Como temos novos empreendimentos entrando no mercado, inevitavelmente as vendas serão maiores. A Abrasce, porém, não tem um levantamento que permita comparar o crescimento apenas em unidades abertas há mais de um ano.

Perfil de investidores em shoppings no Brasil é variado e reflete a pulverização do mercado

A crise econômica tem provocado o desaquecimento das vendas e requerido ajustes nas contas da maior parte das empresas. Mas a perspectiva de crescimento do setor de shopping centers no longo prazo continua a atrair investidores das mais diversas origens e tamanhos. Segundo a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), até o fim de 2016 deverão ser inaugurados 49 empreendimentos. Só este ano, a expectativa de investimento em novas unidades e ampliações é de R$ 16 bilhões. Nas contas da Associação Brasileira de Logistas de Shopping (Alshop), somente em 2015 serão inaugurados 38 shoppings.

Algumas grandes redes de shopping, como a Aliansce, têm optado por reduzir os investimentos em novas unidades e concentrar recursos na ampliação de seus empreendimentos. Eduardo Prado, superintendente de relações com investidores da Aliansce, diz que as expansões facilitam a atração de lojistas, porque já existe um histórico que permite dimensionar o potencial de vendas. Também é uma forma de aumentar o retorno sobre o capital investido, já que muitas vezes é desnecessário adquirir um novo terreno. Pode-se, simplesmente, aproveitar melhor parte da infraestrutura já existente, como o estacionamento. A última inauguração feita pela companhia foi em 2013. Mas, este ano, estão em andamento seis ampliações, em cinco unidades da Aliansce.

Shoppings perdem o medo do comércio eletrônico e estudam como usar canais digitais para atrair consumidores e vender mais

O comércio eletrônico já foi um grande tabu entre gestores de shopping centers brasileiros, pelo receio de que poderia reduzir sensivelmente as vendas em lojas físicas. Mas, gradativamente, vem deixando de ser. O motivo é uma constatação que nas escolas de administração e marketing já virou conceito: omni-channel. Em termos sintéticos, a ideia é a de que o consumidor atual compra nos mais diversos canais de venda, de acordo com a conveniência. Às vezes, o cliente busca informações sobre um produto online e compra na loja física. Às vezes é o inverso, afirma Adriana Colloca, superintendente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).

Segundo a dirigente da Abrasce, a integração dos canais de venda é hoje vista de forma muito positiva. Há motivos concretos para isso. Em vez de perder dinheiro, os shoppings enxergam hoje a possibilidade de explorar a tendência para lucrar mais.

evantamento da International Data Corporation (IDC) lançado em 2014 aponta que os consumidores omni-channel gastam entre 15% e 30% mais que a média. As iniciativas concretas na área ainda são raras. Mas Adriana diz que atualmente quase todos os grandes shoppings têm equipes internas pesquisando o assunto.

Para Luis Augusto Silva, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira de Logistas de Shopping (Alshop), mesmo para jovens acostumados a comprar online as lojas físicas são importantes, por permitirem o contato direto com os produtos que se pretende comprar, quase como em um showroom. O virtual e o físico são extremamente complementares, afirma.

O setor de shopping centers acompanha com atenção e preocupação o cenário da economia nacional, com os olhos no futuro do Brasil. Este nosso mercado conquistou o coração e a mente de todos os brasileiros há shoppings de todos os perfis, nas áreas nobres das cidades e em suas periferias, há no Sul e no Norte com uma aposta que poderia perfeitamente ser copiada pelos nossos governantes. Nossos shoppings se reformam e se reinventam permanentemente para atender aos desejos dos consumidores, criando um espaço de consumo, sim, mas também de convívio e lazer. O shopping é para todos, funciona para todos homens e mulheres de todas as idades e gostos. O Brasil precisa ser assim, funcionar para todos, indistintamente, se reformar e se reinventar sempre que necessário. Nós todos, brasileiros, precisamos agir. Agir com coragem!

Fonte: Época Negócios – Online (editado)