Brasileiro faz seu ‘ajuste fiscal’ e consumo das famílias cai 4,5%

2 de dezembro de 2015

Pessimismo com inflação alta, queda da renda e aumento do desemprego levam brasileiros a gastar menos

inflaçãoIntimidados pela inflação alta, aumento do desemprego e encolhimento da renda, os brasileiros executaram um “ajuste fiscal” em seus lares e levaram o consumo das famílias a cair 4,5% no terceiro trimestre em comparação a igual período de 2014. É a maior queda na série do IBGE, iniciada em 1996.

“Os consumidores vivem um total vácuo de perspectiva”, disse Renato Meirelles, presidente do Instituto Data Popular. “O consumo depende de renda e expectativa, tudo que estão ganhando e expectativa de que pode entrar no crediário, de que pode não segurar o dinheiro. Com a situação de hoje, ele fica mais pessimista, e pessimistas consomem menos.”

O cenário atual inclui taxa de desemprego nacional a 8,9% no terceiro trimestre, a maior da série da Pnad Contínua (iniciada em 2012), e queda de 1,2% na renda média dos trabalhadores em relação ao período de abril a junho. Esses fatores, somados à alta dos juros, ao ritmo menor nas concessões de crédito e ao avanço dos preços limitam as decisões de compra.

A depender dos consumidores, o quadro de contenção de despesas deve continuar em 2016, uma vez que não haverá recuperação no mercado de trabalho. O Data Popular verificou em pesquisa recente que 84% dos brasileiros acreditam que há crise de perspectiva, e 89% não conseguem mencionar nenhuma pessoa capaz de tirar o País desse mau momento.

A restrição nos gastos afeta diretamente setores como serviços e comércio. O PIB de serviços encolheu 2,9% em relação ao terceiro trimestre de 2014, outro recorde na série.

Resultado é fruto de uma queda generalizada,que atingiu desde o transporte de cargas e de passageiros até o comércio,a alimentação fora de casa e os serviços prestados às empresas, como consultorias. “No caso da alimentação fora de casa, isso tem a ver com renda em queda”, diz a gerente de Contas Regionais do IBGE, Claudia Dionísio.

Com o desempenho do3.-?trimestre, o consumo das famílias acumula retração de 1,8% nos últimos 12 meses. Um dado dessa magnitude no ano já seria o pior desde 1990. Nesses 25 anos, queda mais intensa foi de 0,7% em 1992 e 1998.

A expectativa é de um quadro até pior ao fim do ano. A Rosenberg Associados projeta retração de 3,7% no consumo das famílias, seguida de queda de 2,9% em 2016. “As incertezas com o futuro do mercado de trabalho fez com que as pessoas temam o desemprego. Isso freia o consumo”, diz Thais Zara, economista chefe da Rosenberg.

A perspectiva é ruim sobretudo para os bens duráveis, que comprometem fatia considerável do orçamento e dependem da disponibilidade das famílias em se endividar. “O cenário de inadimplência, inflação e juros altos têm levado a uma queda vertiginosa nesses bens”, comentou o economista Rodrigo Mariano, da Associação Paulista de Supermercados (Apas).

A recuperação depende de melhora generalizada da economia, começando pelo quadro fiscal dos governos, disse Thais.

Fonte: O Estado de S. Paulo