O ano de 2016 começou cheio de dificuldades para a economia do país e, por consequência, para as pessoas. Se por um lado a inflação, o desemprego e as altas taxas de juros têm impactado diretamente a vida da população, esse pode ser o melhor momento para começar planejar seu futuro financeiro. E o equilíbrio do orçamento doméstico, que é o primeiro passo, começa com resoluções simples, que podem ser iniciadas a qualquer momento.
Segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a principal meta dos brasileiros para 2016 é sair do vermelho. Pagar todas as contas atrasadas é o grande projeto do o ano para 36,8% dos consumidores, a curto e médio prazos.
Mas que tal planejar a vida para daqui a 10, 20, 30 anos? Especialistas ouvidos por A GAZETA defendem que não dá para esperar o amanhã para começar a se planejar.
“Se podemos falar de uma coisa boa da crise, essa coisa se chama reeducação financeira. È uma oportunidade para as pessoas mudarem a forma de encarar o futuro”, afirma o economista e coordenador-geral da Faculdade Pio XII, Marcelo Loyola Fraga. Ele reforça que não importa a idade. A pessoa pode ter 7 ou 70 anos, sempre é tempo de poupar. “Em qualquer idade, todo gasto tem que ser bem pensado, principalmente na crise. Não estou aconselhando ninguém a parar de comprar, mas sim a avaliar sua situação específica e, a partir daí, fazer um planejamento de tudo o que vai consumir”, pontuou.
Para Reinaldo Domingos, mestre em educação financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin), cada fase da vida merece comportamentos diferenciados em relação ao consumo e ao planejamento financeiro. “A pessoa tem que estar sempre disposta a poupar e a organizar sua vida. Isso demanda muito empenho, mas o resultado é compensador”, assinala.
No caso das famílias com mais de três pessoas, o recomendável é marcar uma conversa para falar sobre essas metas. “Ao fazer isso, o incentivo para controlar gastos e poupar é muito maior e é possível calcular exatamente quais ajustes serão necessários para atingir os objetivos”, completa Domingos. Outra sugestão é calcular sempre a renda. “Ter a exata noção do que se ganha pode ser fácil para quem tem salário fixo, mas não é tarefa simples para profissionais liberais ou autônomos, que recebem renda variável ou têm diversas fontes de renda. A renda deve nortear o controle de gastos”, completa.
Aprendeu a poupar
A empresária Ana Paula Merotto, de 34 anos, aprendeu logo cedo a importância do planejamento financeiro para se ter uma vida mais sustentável e feliz. “Nunca fui muito gastadeira, mas na fase da adolescência queria ter tudo e eu realmente não tinha muito controle. A idade foi chegando e esse controle foi ficando mais fácil”, disse. Como empresária, Ana aprendeu a fazer planejamentos macro e micro. No primeiro caso, ela planeja o próximo ano, levando em conta como está a economia e as tendências que os números apontam. Depois, pondera, é preciso ter um planejamento mais “assertivo”, pensando no próximo mês e na próxima semana. No final das contas, um planejamento completa o outro, ensina a empresária. “Sem o planejamento financeiro, eu não teria conseguido nada. Quando você não cuida bem do dinheiro, gasta com coisas que não dão retorno nenhum. Ostentar não vale muito a pena. Com o tempo você vê o resultado do esforço de poupar”.
Como economizar em cada fase da vida, segundo Reinaldo Domingos
Até os 20 anos
“É o período mais importantes dentro, principalmente em relação ao planejamento financeiro, pois a pessoa ainda não traçou totalmente o projeto de vida. Do que vai ganhar, o jovem tem que guardar pelo menos 50% para seus sonhos.
Deve estabelecer um valor para cada sonho, cada desejo, e com isso ter controle dos gastos com 50% do que ganha – e não com 100%. Tem muita gente que não consegue fazer isso pois tem um hábito construído de consumo acima do que ela ganha. Aos 20 anos é a idade ideal para criar essa premissa: tire uma parte do dinheiro para cada sonho e terá a vida financeira mais próspera.”
Dos 20 aos 30 anos
“Há várias escolhas para se fazer nesse período. Apesar de geralmente ser a época onde as pessoas estão se consolidando profissionalmente, ainda dá para tomar decisões sem medo e culpa, podendo realizar mudanças na profissão, cursar uma nova faculdade ou um mestrado. Enfim, dá para fazer muita coisa, mas também é um momento de estabelecer prioridades. A pessoa precisa guardar 40% e viver com 60% do salário. Tem que traçar objetivos: quer trocar de casa? Trocar o carro? Fazer uma viagem diferente?
Pode exagerar nos desejos, mas nunca esqueça de pensar numa aposentadoria sustentável. Não pare de fazer reservas.”
Dos 30 aos 40 anos
“Nesse período da vida entra uma conta importante, que são os filhos. Tem o estudo e muitas contas deles para pagar, por isso você cai para 30% de poupança por mês, já que tem uma parte maior dos recursos comprometida. Essa poupança diminui em virtude do filho, às vezes até 25% ou 20%, pois o filho toma bastante dinheiro. É um momento turbulento, você quer dar o melhor para essa criança que nasce. Às vezes vêm dois ou três filhos. Você tem esse novo destino do dinheiro, o que leva a ter uma perda da sustentabilidade, com isso diminuindo o poder de poupança e ficando mais vulnerável. Mantenha o controle.”
Dos 40 aos 50 anos
“É uma fase de consolidação. Você já começa a fazer contas mais próximas de quando vai se aposentar, e começa também a ter a preocupação com a mesada dos filhos.
Entra aí um momento de menos possibilidades de trabalho. Ganha experiência, mas tem menos oportunidades. Aí tem que arriscar menos, a assistência médica também é mais cara. O custo de vida sobe bastante e tem um filho crescido. Nessa fase da vida tem que continuar poupando uns 10% do salário, pois o padrão de vida evolui e as pessoas começam a gastar um pouco mais com conforto. Mas não pode tirar o pé da aposentadoria sustentável.”
A partir dos 50
“É uma idade em que é preciso continuar poupando, mas de uma forma diferente. É uma poupança de conscientização. Do salário, você começa a poupar menos, até porque você quer viver mais intensamente. Poupa para realizar os sonhos, viajar, dar um presente bom para o filho, comer melhor e ter uma assistência médica mais cara. É mais para manter o padrão de vida. Você começa a valorizar o ser mais do que o ter, sendo um pouco menos consumista e dando valor às coisas que a vida ensina.
O custo de vida é um pouco mais estruturado, menos variável. Não precisa de uma casa grande, os filhos já saíram de casa, então começa a dar outra valoração à vida.”
Fonte: A Gazeta Online – ES