O efeito dominó do aumento do desemprego e da inflação apareceu no calote do pagamento de serviços básicos, como as contas de luz, água e de serviços de comunicação. A costureira Angela Rosa Alcon Velasques, de 56 anos, por exemplo, deixou de pagar a conta de luz porque perdeu o emprego. “Estou devendo seis meses de luz, mais de R$ 1,6 mil”, contou Angela, que tem quatro filhos. “Devo também o telefone fixo, que foi cortado”.
Angela usava uma máquina de costura elétrica para trabalhar em casa e ficou inadimplente na conta de energia e no telefone porque perdeu o trabalho.
A auxiliar administrativa Adriana Carla Mendonça, de 40 anos, casada e com cinco filhos, é outra consumidora que ficou inadimplente nos serviços básicos. No seu caso o motivo do calote não foi desemprego, mas o aperto no orçamento em razão do aumento da inflação. Segundo ela, o valor da conta deu um salto. “Eu pagava R$ 150 e subiu para R$ 500”. No ano passado, a energia elétrica aumentou cerca 50%. Adriana pagou a taxa de R$ 45 para religar a luz e agora tenta um parcelamento em seis vezes da dívida pendente. Tanto Angela quanto Adriana engrossam as estatísticas do calote das contas básicas que desde o ano passado não para de crescer. Em janeiro deste ano, o grande destaque dos índices de inadimplência apurados pelo SPC Brasil e pela Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) foram justamente as contas de serviços básicos.
Por Região
“Não é só banco e loja que estão deixando de ter o seu dinheiro de volta”, afirmou a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Em janeiro, o número de contas inadimplentes de água e luz aumentou 17,01% na região Sul e 13,03% no Centro-Oeste em relação ao mesmo mês do ano passado, enquanto a inadimplência média cresceu cerca de 6% no mesmo período.
Nas regiões Norte e Nordeste, os maiores avanços do calote em janeiro na comparação anual foram em serviços de comunicação. No Norte, foi de 9,89%, ante uma inadimplência média de 6,53% no período, e, no Nordeste, de 12,39%, enquanto o calote médio da região aumentou 8,43%. “A inadimplência tem se colocado de forma tão abrangente que até as contas mais essenciais estão deixando de ser pagas”, observou Marcela.
Fonte: Diário do Nordeste – Online