A crise econômica tem forçado os brasileiros a mudarem seus hábitos de consumo. Uma pesquisa feita pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em todas as capitais e em cidades do interior revela que 85,9% dos brasileiros se viram obrigados a ajustar o orçamento doméstico para se defender dos efeitos da crise. Em virtude do agravamento da situação econômica do país, 87,0% dos entrevistados admitiram que agora estão dedicando mais tempo para pesquisar preços e 80,5% estão evitando comprometer sua renda com compras de calçados e roupas. O estudo ainda revela que 44,3% dos entrevistados estão com as finanças descontroladas
A lista de restrições em meio à turbulência financeira é extensa: há os que agora evitam comprar produtos e serviços com os quais sempre estiveram acostumados (79,1%); os que passaram a optar por produtos de marcas mais baratas (76,9%) e os que deixaram de viajar (75,5%) e de sair com os amigos para bares e restaurantes (71,3%). Gastos com produtos de beleza (56,8%) e serviços como internet e celular (30,7%) e TV por assinatura (28,9%) também foram alvos de cortes, mas em menor proporção que os demais. Para completar a lista, 25,9% dos entrevistados deixaram de ir à academia e 25,1% tiveram de abandonar cursos de idioma, escolas particulares ou faculdades.
“A inflação, os juros elevados e o desemprego pioram a situação financeira das famílias e, muitas vezes, exigem mudanças no padrão de gastos para se adequar a nova realidade. Apesar do momento difícil, esse é uma hora propícia para desenvolver hábitos mais saudáveis e evitar desperdícios e compras desnecessárias”, orienta a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Em meio à crise, brasileiro vai atrás de renda extra
A pesquisa mostra que o rearranjo das finanças que o brasileiro tem posto em prática tem como objetivo tanto o corte de despesas, como também o aumento de sua fonte de renda. Segundo o levantamento, 41,7% dos entrevistados que estão empregados disseram estar fazendo ‘bicos’ ou trabalhos extras para complementar o salário. O percentual é mais expressivo entre os jovens de 18 a 34 anos (49,5%) e membros das classes C, D e E (47,0%). Dentre os entrevistados que não estão trabalhando, o percentual de quem admite ter começado a fazer bicos para sobreviver em meio a crise é ainda maior e chega a 55,0% da amostra.
Quatro em dez convivem com desemprego dentro de casa
A escalada do desemprego tem atingido cada vez mais pessoas. Quatro em cada dez brasileiros (42,2%) têm algum familiar desempregado dentro da própria casa e 76,3% conhecem alguém que foi demitido nos últimos seis meses ou que tiveram de encerrar as atividades do seu negócio. E as perspectivas não são boas, pois para 82,7%, o desemprego seguirá aumentando em 2016.
Mais de um terço (37,0%) dos entrevistados que atualmente estão trabalhando admitem não se sentir seguros em seus postos de trabalho. “O risco de perder o emprego e a baixa perspectiva de recolocação exerce forte influência sobre a confiança do consumidor, alimentando a queda do consumo e do próprio emprego num ciclo vicioso para a economia”, analisa o presidente do SPC Brasil, Roque Pellizaro Junior.
Uma constatação do estudo que mostra os efeitos da crise sobre o brasileiro é que seis em cada dez (58,0%) entrevistados avaliam que a sua situação financeira piorou em 2016 na comparação com o ano passado. A percepção de piora nas condições do próprio bolso é ainda mais notada entre as pessoas acima de 55 anos (67,8%). Para 34% dos entrevistados a situação permanece a mesma que no ano passado e apenas 6,4% relataram ter percebido uma melhora.
Para 57%, crise não vai dar sinais de melhora este ano
86,8% dos brasileiros avaliam a atual crise econômica como grave ou muito grave e a perspectiva de melhora da economia até o final do ano é baixa na avaliação dos entrevistados. Seis em cada dez (56,8%) entrevistados não acreditam em chance de recuperação da economia, ao passo que os otimistas somam apenas 16,8% dos entrevistados. Para 26,5% a situação econômica tende a continuar a mesma na comparação com o ano passado.
“O impasse verificado desde o início do ano passado contribuiu para a forte e rápida deterioração da economia. O ajuste fiscal proposto há pouco mais de um ano não foi levado a cabo, dificultando a aprovação de medidas que atacassem os problemas econômicos. Isso derrubou de vez a confiança dos empresários e consumidores. Superada a crise, será preciso avançar numa agenda de reformas e de medidas econômicas”, diz o presidente da CNDL, Honório Pinheiro.
73% não imaginavam que Brasil passaria por crise e 79% são contra volta da CPMF
Um dado que mostra a rapidez da evolução da crise é que 73,6% dos consumidores não imaginavam, há quatro anos, que o país passaria pelas dificuldades atuais. Indignação (80,1%) e vergonha (71,4%) são os principais sentimentos que a crise têm despertado na população quando ouvem ou conversam a respeito dos problemas atuais. Outros 63,3% afirmam sentir raiva ou estresse e 48,3% falta de esperança.
“Depois da euforia que marcou a primeira década dos anos 2000, o pessimismo toma conta dos brasileiros. A superação do quadro de recessão depende fundamentalmente da recuperação da confiança e da resolução do impasse político. No curto prazo, o esforço deverá centrar-se no equilíbrio das contas públicas e controle da inflação”, explica o presidente Honório Pinheiro.
Em relação à volta da cobrança da CPMF como medida para reequilibrar as contas do governo e reestabelecer o crescimento do Brasil, a grande maioria dos entrevistados (79,2%) é contra por entender que o governo deve procurar outras medidas para aumentar sua receita sem afetar o bolso dos brasileiros, sendo que apenas 7,4% apoiam o ressurgimento do tributo como medida necessária.
Maior temor dos brasileiros é não conseguir pagar as contas
O maior temor do brasileiro com relação a 2016 é não conseguir pagar suas contas básicas, apontado por quase metade (48,2%) da amostra. Outros receios são o de o país não superar a crise (41,1%), ter de pagar mais impostos (38,4%), não conseguir honrar o pagamento de suas dívidas (34,9%) e ficar desempregado (32,0%).
Os entrevistados também elencaram o que consideram ser os principais problemas nacionais a serem resolvidos em 2016. A corrupção aparece com o maior número de citações, mencionada por 78,6% dos entrevistados. Em seguida vem a crise política citada por 46,3%. Essas duas alternativas ficaram a frente de outras opções frequentemente apontadas como problemas crônicos do Brasil como saúde (29,0%), violência (25,1%) e educação (18,4%).
Fonte: CNDL