Os empreendedores que integram o Simples vivem o dilema:“crescer e entrar no complexo ou não crescer e permanecer no Simples.”
Os setores produtivos do Brasil, principalmente aqueles integrados pelos pequenos empreendedores, ainda esperam o tempo de felicidade para seus negócios. Esse tempo de felicidade – comprometido desde sempre pela fome insaciável do Estado e pelas recorrentes crises econômicas que diluem em pouco tempo anos de trabalho árduo – poderia ser sintetizado por um tempo de tranquilidade tributária, o que se faz impossível devido ao pesado e complexo sistema existente no país.
Esse excesso de tributos e de burocracia na apuração e no recolhimento dos muitos impostos constitui um dos motivos para a morte precoce de empresas no Brasil. Mesmo os empreendedores contemplados pelo Simples Nacional – aqueles com limite de faturamento e de tributos impostos pelo poder público a fim de que possam ser beneficiados pela simplificação, facilmente se veem alçados às complexas garras da tributação excessiva, bastando para isso que cresçam minimamente. Esse crescimento, no entanto, nem sempre é grande o suficiente para que o empreendedor contemplado pelo Simples possa dar conta da carga tributária que chega a dobrar sempre que ele ultrapassa os limites de arrecadação dispostos na Lei do Simples Nacional.
Isso poderia ser amenizado se os poderes constituídos construíssem rampas de transição com portas de saída mais adiante, tornando menos penoso e mais possível o crescimento do empreendedor. Por não haver tal preocupação daqueles que teriam a obrigação de simplificar o que hoje é complexo, muitos empresários de pequeno porte acabam optando pela informalidade, o que não é bom nem para eles nem para o país. Existem vários estudos em discussão para criar essas chamadas rampas de saídas do Simples, o que oportunizaria um modelo no qual o empresário pudesse cumprir suas obrigações e no qual, ao mesmo tempo, pudesse continuar crescendo. Como as ações políticas nesse sentido não ocorrem com celeridade, os empreendedores que integram o Simples vivem esse dilema: “crescer e entrar no complexo ou não crescer e permanecer no Simples. ”
O professor Alden Lank, da Fundação Dom Cabral, estudou durante um ano e meio 26 empresas com mais de 400 anos cada, (No Brasil não há nenhuma), e concluiu três pontos comuns a elas: todos os colaboradores vivem o sentido de missão da organização; todos praticam os princípios e valores da organização; todos têm controle financeiro, realidade que só poderia ser construída no país pelo sentido longínquo das empresas, já que quanto mais duradoura for uma empresa mais equilíbrio ela dará para a sociedade. Com uma carga tributária que integra o Livro dos Recordes e com a ineficiente gestão dos recursos públicos, compreende-se por que o professor Alden Lank não encontrou empresas com tamanho tempo de mercado no Brasil.
Nós precisamos ter uma postura empreendedora com parceria colaborativa do governo, para que ela seja duradoura, mas o governo tem muitos modelos de arrecadação, todos eles com base no faturamento, não no resultado, o que onera muito o custo-benefício do crescimento das empresas. Simples ou complexo? Eu diria que, de tão complexo, torna-se ineficiente para trabalhadores e empresários, já que na era da tecnologia, da informação e da cobrança por eficiência, não há outro caminho que não seja o de simplificar.
Fonte: Jornal O Povo