Ciúmes, falta de atenção, teimosia? Que nada! Segundo pesquisa do SPC Brasil e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que entrevistou mulheres de todo o país, o principal motivo de discórdia entre um casal é… dinheiro. Mais especificamente, a forma como ele é gasto, motivo apontado por 37,5 por cento das entrevistadas. A falta de dinheiro aparece em segundo lugar (31,2 por cento). Tanto questões financeiras pesam na rotina de um casal que, segundo a mesma pesquisa, brigas por causa de dinheiro são apontadas como motivo de briga antes mesmo de discussões envolvendo divisão das tarefas domésticas (25,7 por cento). “Não é raro vermos casais com dificuldade para chegar a um consenso sobre os hábitos de consumo de um ou de outro, não só individualmente mas também em relação aos gastos conjuntos. O que um considera supérfluo o outro acha importante e essas discordâncias, naturalmente, geram conflitos”, explica o educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli. Justamente por isso é tão importante que o casal dedique-se, de forma conjunta, a acompanhar suas finanças, com transparência, planejamento e equilíbrio.
Para deixar os problemas com dinheiro bem longe do relacionamento, algumas atitudes são fundamentais. Veja as dicas do especialista para evitar brigas!
Não confunda falta de dinheiro com falta de amor!
Muitos problemas de relacionamento têm como base a falta de planejamento e descontrole financeiro do casal, mas nem sempre isso é percebido de forma clara pelos casais. “O dinheiro vem disfarçado nas discussões. Se falta dinheiro para um jantar, o problema é percebido como falta de romantismo. Se evita-se gastar com roupas novas, o problema é visto como descaso. Se falta grana para levar os filhos ao cinema, o conflito é tido como falta de carinho”, explica o educador. Para ajudar a dissociar essa ideia, de que não gastar com o outro ou com a família é falta de amor, lembre-se que as coisas mais importantes na relação, como carinho, respeito, admiração e união, não são compradas, não têm preço e devem ser incentivadas.
“Meu marido e eu pedimos comida em casa de duas a três vezes por semana. Mas, por causa de algumas contas médicas que tivemos que pagar há alguns meses, tivemos que economizar nosso gasto mensal. Um dos cortes foram os deliveries. Parece besteira, mas ficávamos mal-humorados de não poder pedir as delícias de sempre e eu, que sou a mais econômica do casal, acabava como vilã”, conta a estudante universitária Marcela Romeu. O que faltava para o casal era uma conversa franca. Ela explicou que só limitava os gastos para, em alguns meses, poderem recuperar a tranquilidade financeira que tinham. Ele entendeu e, de quebra, ainda descobriram ótimas receitas para cozinharem juntos. “Até passamos a pedir menos comida”, finaliza. Assim, nada de confundir falta de dinheiro com falta de carinho, muitas vezes é justamente o contrário. “É preciso entender que a pessoa está fazendo um sacrifício pensando no futuro da família”, diz Vignoli.
O mesmo conselho vale para quem gasta mais do que a renda permite achando que isso fará o outro feliz. Segundo a pesquisa do SPC, este é o caso de 32,5 por cento dos brasileiros, sendo que para 11,5 por cento dessas pessoas, vale até fazer dívidas no intuito de agradar ao outro. Pense: será mesmo que seu parceiro ou parceira ficará mais feliz sabendo que você enfrenta problemas com dinheiro? Até porque, quando se divide contas e despesas, a dificuldade financeira de um inevitavelmente acaba também nas mãos do outro. “Despesas omitidas podem prejudicar o equilíbrio do orçamento familiar, mesmo no curto prazo, ocasionando problemas graves para toda a família. O ideal é reservar uma parte do orçamento para que cada um possa arcar com itens pessoais, seja para si ou para presentear o outro”, adverte Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.
Vamos falar sobre dinheiro?
Segundo o estudo, o hábito de discutir o orçamento familiar com o cônjuge e com outros membros da família é pouco frequente entre os brasileiros: apenas 38,9 por cento dos respondentes disseram que as famílias conversam abertamente sobre os gastos e as receitas da casa. “Essa falta de diálogo habitual sobre dinheiro é extremante prejudicial ao planejamento financeiro”, diz Vignoli. Para o especialista, o assunto dinheiro deve ser tão comum quanto definir o que farão sábado de manhã. Com o tópico “naturalizado”, explicar ao parceiro que é preciso segurar os gastos neste mês não será um bicho de sete cabeças, mas algo normal.
“O melhor caminho é sempre o da transparência, seguido de objetivos e de um bom planejamento financeiro. A família precisa parar e sentar para conversar sobre as finanças, se possível ao final de cada mês. Estar por dentro de tudo, saber qual é a renda da casa, quem tem dívidas em atraso e principalmente quais são os sonhos e os objetivos de cada um é fundamental para o sucesso financeiro, inclusive o sucesso do relacionamento”, explica o educador financeiro. Uma dica é colocar, em uma planilha ou outro tipo de controle que te deixe confortável, o quanto cada um ganha e o quanto gasta. Nosso Simulador Diagnóstico Financeiro ajuda nessa organização. “O diálogo frequente tira a pressão sobre o assunto e é também um meio de estimular práticas de consumo mais responsáveis entre todos os moradores da casa, afinal, todos são afetados pelo modo como o dinheiro da família é administrado”, ressalta o educador.
E quando a situação financeira está ruim? Segundo a mesma pesquisa,18,1 por cento dos entrevistados conversam sobre gestão financeira familiar somente quando a situação não está muito boa. Mas isso é um erro. Nesses casos, o diálogo é ainda mais importante! “Jamais, em hipótese alguma, deixe para falar sobre dinheiro só quando a coisa está feia”, alerta Vignoli. Lembre-se que, além de mais trabalhoso para lidar com o problema, o silêncio pode ser entendido como algo que foi escondido, o que pode comprometer a confiança entre o casal.
E lembre-se que um casal que compartilha sua vida financeira terá mais facilidade para tratar deste assunto com os filhos, o que só trará benefícios para todos em longo prazo.
O famoso “você cede um pouco, eu cedo um pouco”
Eis algo que a maioria dos casais já ouviu: “para um relacionamento dar certo, sempre alguém tem que ceder um pouco. Às vezes é você, às vezes é o outro”. Não é mesmo? Pois o conselho vale também para as finanças. “Geralmente, os parceiros não pensam que o que é supérfluo para um pode não ser para o outro. Gastar para ir ao estádio de futebol pode parecer um desperdício para a esposa, mas para o companheiro pode ser algo que ele não está disposto a abrir mão. Proibi-lo ou fazer com que se sinta culpado só desgastará a relação”, diz a psicóloga Olga Tessari. Outra reação ruim seria barganhar em cima do gosto do outro, por exemplo o marido dizer que se ele não pode gastar com futebol, então ela não pode gastar jantando com as amigas. “Saber entender o que é importante para o outro não significa ser passivo. No entanto, é preciso olhar para o outro com carinho, sem disputas ou competições”, diz a psicóloga.
Mais uma vez, vem a importância de se falar abertamente sobre as finanças. Juntos, o casal deve avaliar o que ambos estão dispostos a abrir mão para que o que é prioridade para os dois possa ser feito, sem comprometer a saúde financeira da família. Afinal, nada melhor para evitar brigas no casamento do que ambos pouparem por vontade própria – e não porque se sentem obrigados pelo outro.
1. Crie o hábito de conversar frequentemente sobre as finanças. “Saber qual é a renda da casa, quem tem dívidas em atraso e principalmente quais são os sonhos e os objetivos de cada um é fundamental para o sucesso financeiro, inclusive o sucesso do relacionamento”, aconselha Vignoli;
2. Planejem juntos o orçamento da casa. Neste planejamento, inclua metas para que ambos cumpram, mesmo que um ganhe mais do que o outro. Nesse caso, quem tem o maior salário contribui com mais e quem ganha menos, com um valor menor. Tudo sem cobranças, vergonha ou dor na consciência, mas sim com comprometimento, afinal, os objetivos e sonhos são únicos.
3. Separe do orçamento uma quantia para que cada um possa fazer seus gastos individuais, mensalmente, sem a interferência do outro – mesmo que só um tenha renda previsível. Até porque ter uma quantia mensal para administrar agrega responsabilidade e incentiva o planejamento.
4. Durante momentos difíceis no casamento, procure entender o lado do outro e saiba ceder se necessário. Mas, se um está gastando mais do que a realidade financeira da família permite, tenha uma conversa franca, expondo a realidade de modo claro e pedindo que o parceiro ou parceira colabore. Segundo a pesquisa, em 43,9 por cento das famílias brasileiras há ao menos um morador que prejudica o equilíbrio financeiro da casa. Assim, nessa conversa, é importante colocar também atitudes práticas que devem ser tomadas, para que a pessoa saia sabendo como agir. Aproveite também para, juntos, criarem regras que facilitarão a economia.
5. Mesmo às vezes sendo cômodo deixar que somente um cuide das finanças do casal, é importante que ambos entendam quanto se tem investido e onde; quanto se gasta em média por mês para administrar a casa e quais contas e despesas fazem parte do dia a dia da família. Afinal, os objetivos serão alcançados pelo casal e não individualmente!
Fonte: meubolsofeliz.com.br