Fazer compras em grupo é tendência para quem quer conter custos

17 de maio de 2016

Fazer compras em grupo – de amigos ou parentes – pode representar uma economia de até 30% em cada produto. Quem atesta são os próprios consumidores que adotam a prática, hoje, considerada uma tendência

comprasFazer compras com parentes ou amigos para aproveitar as ofertas de vendas em grande quantidade pode significar economia de até 30% e tem se tornado uma tendência. “A prática de se comprar em conjunto vem da necessidade das pessoas pagarem menos pelos produtos que elas comprariam separadamente. Devido ao cenário atual, ela tem se tornado ainda mais popular”, afirma o educador financeiro do SPC Brasil, José Vignoli.

Uma pesquisa do Instituto Data Popular realizada em 2015 com 3.500 pessoas da classe C apontou que 32% fazem compra coletiva no atacado. Cinco anos antes, em 2010, quando o mesmo levantamento foi feito, 12% dos participantes afirmaram que faziam compras em grupo.

Nova cara
Prática antiga ou não, a compra coletiva de produtos vem recebendo nova cara. Profissional de Tecnologia da Informação, Davi Borges gerencia um grupo no aplicativo WhatsApp que reúne amantes de cervejas artesanais.

Cerca de uma vez por mês ele faz compras em sites que vendem as bebidas na internet. Quando isso acontece, ele junta uma certa quantidade de pessoas e divide a encomenda para não pagar o frete, que é o equivalente a 20% do valor que costuma gastar.

“Todo site de vendas apresenta um valor mínimo de compra para ter o frete grátis, geralmente ele vai de R$ 150 a R$ 200. Como não consumo essa quantidade, anúncio no grupo, recebo o depósito dos interessados e faço o pedido. Todo mundo sai ganhando”.

Um dos membros do grupo, o assistente jurídico Rodrigo Siqueira, acredita que a ideia tem dado certo. “O grupo tem quase 80 pessoas, então não tem como conhecer todo mundo. Mesmo assim, a gente acaba conversando e trocando conhecimento sobre cerveja. Só tem que ter cuidado para não aceitar todas as sugestões e comprar demais”.

José Vignoli afirma que é importante que o consumidor se contenha para não gastar mais do que pode. “Às vezes, por estar em grupo, as pessoas acabam sendo influenciadas. Não é porque tem oferta que você tem que comprar”.

Desperdício
Ainda de acordo com o levantamento do Data Popular, 87% das pessoas afirmam pesquisar os preços dos produtos antes de efetuar uma compra e 64% dos entrevistados fazem buscas na internet. Para evitar o desperdício e economizar, a técnica em nutrição Silvaneide dos Santos vai a supermercados atacadistas duas vezes por mês com os familiares. Apesar de morarem em casas distintas, eles perduram na tradição da compra conjunta, que já tem mais de oito anos.

“Mesmo separados, ainda fazemos as coisas em família. Ir ao supermercado junto é uma vantagem, pois, já que somos mais de um, otimizamos o tempo e vamos em um carro só. Com isso, consigo poupar entre 25% e 30% ao mês”, diz. Mensalmente, ela costuma gastar R$ 800 com o mercado.

Quando chegam aos estabelecimentos, eles costumam dividir as tarefas. Uma vez terminadas as compras, eles fazem a divisão do produto. “A gente sempre tenta separar tudo de uma forma que não fique mais para uma pessoa do que para outra”, afirma.

Ofertas
Para poupar o máximo de dinheiro, ela anota todas as ofertas que vê em anúncios publicados em jornais. Silvaneide diz também que costuma ir em mais de um mercado para comparar valores. “Às vezes as pessoas não querem se dispor a procurar promoções, o que é uma pena. Eu sempre procuro ir ao supermercado depois do dia 15 do mês, que é quando eles oferecem mais ofertas”, diz.

Segundo a Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), apesar da crise, o setor atacadista e distribuidor teve crescimento nominal de 3,1% em 2015.

O presidente da Associação Baiana de Supermercados (Abase), João Claudio Nunes, por sua vez, aponta que a compra em grupo no atacado pode não ser a melhor ideia. “Esses tipos de mercado não oferecem serviços como açougue de cortes nem conforto no atendimento”, argumenta.

Comprar em conjunto requer organização
O educador financeiro Gilberto Braga defende que para compor um grupo de compras, e obter lucro a partir da prática, é necessário que os compradores adquiram produtos em grande quantidade. “Do ponto de vista econômico, o ideal é trabalhar com volumes de produtos maiores. Quanto mais for adquirido, maior será o desconto na hora em que o valor total da compra for dividido”, afirma.

A lógica da formação do grupo faz com que o preço do produto individual reduza, sendo mais barato do que se a pessoa pagar pelas unidades isoladas. Só no último ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação dos alimentos consumidos no domicílio foi de 8,7%. É por isso que poupar na compra dos itens da casa ajuda no orçamento.

Ele acredita que a compra de produtos coletivamente é uma característica que tem se tornado cada vez mais comum. Dentre os motivos para esse crescimento, destaca-se o fato de que as residências mais novas possuem menos espaço de armazenamento.

“Antigamente as pessoas tinham onde estocar os produtos, além de que o dinheiro perdia o valor muito rapidamente”, diz, para completar: “Atualmente não existe mais dispensa nas casas, muito menos copa e dependências espaçosas. A cozinha é uma área linear, conjugada à área de serviço. É nesse ponto que a compra coletiva favorece as pessoas que querem tirar vantagem do preço do atacado. Com a partilha dos produtos, ela não precisa guardar o excedente”.

Um dos problemas da compra em supermercados atacadistas é que mesmo eles tendo ofertas maiores, as formas de pagamento geralmente não são flexíveis. Além disso, eles não possuem embaladores e não oferecem sacolas. Quanto às compras realizadas pela internet, o educador financeiro acredita que a modalidade é uma forma de aproximar pessoas.

“A internet funciona como uma ferramenta que facilita a interação entre os indivíduos. No caso dos grupos em que as pessoas se unem para comprar determinados produtos, o interesse em comum acaba fazendo com que eles interajam e se tornem mais próximos”, afirma. Nessas situações é importante, entretanto, que seja designada uma pessoa que regimente o grupo e seja responsável pela liquidação financeira, como uma espécie de líder.

Sites de compra coletiva estão reformulados
Quatro em cada dez consumidores virtuais adquirem produtos e serviços nos sites de compra coletiva, segundo dados  divulgados pelo SPC Brasil em 2015. Apesar disso, as plataformas passam por um momento de baixa demanda. Dentre os entrevistados, 65% admitiram ter reduzido a frequência deste tipo de compra. Em resposta à redução da procura, os sites investem em novos formatos.

Em 2014, o Peixe Urbano passou por transformação e deixou completamente o modelo de negócio de compras coletivas para se tornar um e-commerce local. Com o novo modelo, a empresa cresceu em receita e em cupons  – neste ano o site atingiu a marca de 40 milhões de cupons comercializados.

Pioneira no formato, o Groupon também mudou de estratégia para atrair o público. O site costumava enviar a seus usuários ofertas diárias que ficavam no ar por pouco tempo e exigia um número mínimo para serem ativadas. Com a transição, ele passou oferecer uma ferramenta na qual o comprador pode buscar promoções de acordo com seu perfil e localização, além de aplicativo para smartphones. Sendo assim, qualquer oferta é válida desde a compra do primeiro consumidor.

Entre produtos e serviços, os itens mais buscados nestes sites são restaurantes, bares, pizzarias e rodízios, com 71% de procura. Para Antonio Portela, presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Salvador e Litoral Norte, as ofertas são oportunidades para novos empreendedores.

“Creio que esses sites são uma boa opção para as empresas que estão começando, pois divulgam a marca, porém eles não geram lucro. Então, para um restaurante que já está estabelecido no mercado, por exemplo, não seria muito vantajoso”, diz. O consultor financeiro Edísio Freire orienta que antes de comprar  na internet, o consumidor deve checar a procedência das empresas.

Fonte: Correio*24horas