42% dos tomadores de empréstimo pessoal recorreram a bancos e financeiras para quitar dívidas. Em cada dez entrevistados que possuem empréstimos com bancos, dois admitem não ter analisado condições de taxas e juros
Endividar-se ainda mais para quitar uma dívida. Pode parecer um contrassenso, mas essa é a principal razão observada entre os consumidores brasileiros que recorrem aos empréstimos em bancos e financeiras. De acordo com um levantamento nacional feito pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a principal finalidade do empréstimo pessoal é o pagamento de dívidas, como faturas do cartão de crédito, prestações de lojas e até mesmo outros empréstimos adquiridos no passado (41,6%). Em segundo lugar aparecem o pagamento de contas básicas, como aluguel, condomínio, luz, telefone e escola (15,1%). A aquisição de eletrodomésticos (8,7%), a compra de móveis (7,5%) e a realização de viagens (5,5%) completam o ranking de motivações.
“O empréstimo sempre foi visto como uma alternativa para a aquisição de bens de valores elevados, mas o estudo mostra que parte relevante dos consumidores já o enxerga como um meio para resolver problemas financeiros. Se as dívidas saem do controle, pode ser conveniente trocar uma modalidade de crédito mais cara por outra mais barata.
Porém, em todos os casos é necessário buscar orientação especializada para encontrar tarifas e juros compatíveis com a realidade financeira e a capacidade de pagamento”, explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
De acordo com a pesquisa, mais de um terço (35,4%) dos consumidores brasileiros possui nos dias de hoje ao menos um tipo de empréstimo, seja ele com banco (31,3%), financeira (18,0%) ou na modalidade pessoal de consignado (25,5%), que é descontado diretamente da folha de pagamento. E a maioria desses consumidores acredita que o empréstimo pode funcionar como solução para a falta de dinheiro: 75,2% dos brasileiros que atualmente possuem algum empréstimo o veem como algo positivo, sobretudo por ser um recurso de auxílio em situações difíceis (28,9%) e possibilitar a realização de sonhos de consumo (25,2%). Em contrapartida, dois em cada dez entrevistados (19,3%) pensam tratar-se de algo negativo, principalmente pelo fato de muitas pessoas não terem controle sobre os gastos (5,6%) e acabar estimulando o consumo desenfreado e desnecessário (4,8%).
Para Marcela Kawauti o empréstimo deve ser sempre a última opção para consumidores endividados. “Quando a pessoa precisa de uma nova dívida para resolver uma outra dívida mais antiga, algo está errado e mostra que as finanças do consumidor estão desequilibradas. Neste momento, é preciso rever hábitos e atitudes para controlar as finanças antes de partir para esse recurso”, explica.
21% não prestaram atenção em juros e taxas antes de fechar empréstimo pessoal
De acordo com o levantamento, 21,0% dos consumidores que hoje estão pagando parcelas de empréstimo pessoal com bancos admitem não ter observado as condições contratuais, como tarifas e juros cobrados. No caso dos que têm empréstimos com financeiras, que na média cobram os juros mais elevados do mercado, sobe para 28,0% o percentual dos que reconhecem não ter analisado as condições atentamente. Entre os que têm empréstimo consignado, a proporção é de 18,9% de consumidores desatentos.
Dentre os consumidores mais prudentes, a escolha pelo melhor tipo de empréstimo é feita, principalmente, a partir da análise das menores taxas de juros (63,4%), mas também há aqueles que preferem a opção que oferece parcelas com valores menores (8,3%). Por outro lado, 7,8% dos consumidores ouvidos disseram que não puderam escolher a melhor opção, tendo adquirindo a modalidade de empréstimo para a qual conseguiram aprovação, independentemente das condições de pagamento e cobrança de juros (7,8%).
Para o educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli, em qualquer tipo de empréstimo é sempre fundamental prestar atenção nas próprias finanças e nas contrapartidas exigidas pelo credor. “Os juros cobrados pelas financeiras, em geral, são maiores do que os praticados pelos bancos. Deixar de analisar esses dados é um sério risco ao bolso do consumidor, pois ele poderá estar trocando uma dívida atual por outra que rapidamente poderá se tornar ainda mais grave”.
Dentre os 31,3% do total de consumidores brasileiros que atualmente possuem algum empréstimo pessoal em banco, 55,0% fizeram a solicitação diretamente com o credor, enquanto 16,4% aceitaram a oferta do banco. Já dos 18,0% que possuem empréstimos pessoal em financeiras, mais de um terço (33,9%) o solicitaram diretamente, ao passo que 22,2% receberam a oferta de uma instituição e aceitaram a proposta. Segundo o levantamento, 11,4% dos tomadores de empréstimos em bancos estão com o ‘nome sujo’ devido a atrasos na quitação das parcelas. No caso dos empréstimos com financeiras, o percentual de devedores registrados em serviços de proteção ao crédito é de 10,5%.
Consumidor divide consignado em 26 parcelas, na média
Atualmente, mais de um quarto (26,5%) dos brasileiros possui empréstimo pessoal consignado, que é descontado mensalmente da folha de pagamento de trabalhadores, aposentados e pensionistas. Entre esses consumidores, mais da metade (55,2%) o fizeram por iniciativa própria, tendo procurado a instituição financeira e 12,3% receberam uma proposta e acabaram aceitando. Na média, cada entrevistado dividiu o empréstimo em 26 parcelas, quantidade bastante superior a constatada entre os consumidores que possuem empréstimos com bancos (9 parcelas, em média) e financeiras (5 parcelas, em média).
A economista Marcela Kawauti esclarece que embora o consignado – que cobra taxas mais baratas do que outros tipos de empréstimos – seja uma modalidade popular em situações de sufoco, como pagar uma dívida muito cara, como o rotativo do cartão de crédito ou em situações de emergência, é preciso tomar alguns cuidados extras. “O consumidor que contratar um empréstimo consignado precisa estar consciente de que irá comprometer parte de sua renda por um longo período. Por isso, é fundamental analisar as condições oferecidas e o impacto das parcelas no orçamento mensal. É como se houvesse uma redução de salário e a pessoa precisa ser capaz de adaptar-se a essa nova situação”.
Fonte: SPC Brasil